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Médico que atendeu menina estuprada foi hostilizado em Recife
Nunca passei por isso, disse o médico Olímpio Barbosa que atendeu a capixaba.
Em 17/08/2020 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Em entrevista à rádio Bandeirantes FM, o médico Olímpio Barbosa de Morais Filho criticou as manifestações realizadas no domingo (16) em frente ao hospital, que fica no Recife (PE).
O médico Olímpio Barbosa de Morais Filho, gestor executivo e diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE), comentou nesta segunda-feira (17) sobre o procedimento de interrupção de gravidez realizado em uma menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio no Espírito Santo.
Em entrevista à rádio Bandeirantes FM, o médico criticou as manifestações realizadas no domingo (16) em frente ao hospital, que fica no Recife (PE).
“Foi de tristeza, pessoas que defendem a vida chamando a criança de assassina, querendo fazer justiça dessa forma, logo em uma maternidade que acolhe mulheres em risco, fazendo barulho em um hospital com 104 mulheres internadas. Nunca passei por nada parecido”, disse o médico.
A menina foi transferida de São Mateus, no norte do Espírito Santo, para o Recife, após decisão do juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde ela mora, que autorizou a realização do aborto.
“Se nós não fizéssemos nada, o Estado brasileiro estaria conivente com a dor e a violência. O mais importante é que ela não queria, foi torturada, obrigar uma criança a ter uma gravidez forçada é um absurdo”, afirmou à rádio Bandeirantes.
Gravidez aos 10 anos não é comum
Conforme o médico, o caso da menina de 10 anos é raro, por não ser comum uma criança desta idade ovular e possibilitar uma gravidez. Ainda segundo Olímpio, se a gestação não fosse interrompida, provavelmente ela teria complicações por não ter um corpo desenvolvido.
“Ela está bem, aliviada. O sofrimento nesses últimos dias foi terrível para ela, as ameaças que sofreu. Eu espero que esse sofrimento daqui para a frente seja atenuado, e vai depender muito de como o caso vai ser conduzido, respeitando o sigilo, para que ela possa recuperar a sua vida”, ressaltou em entrevista à GloboNews.
“Infelizmente, o estupro é muito comum no Brasil, e, mais triste ainda, com crianças. Lamento muito que muitas pessoas não têm acesso à informação. Então tem crianças sendo violentadas, engravidando e levando a gravidez até o termo. Muitas vezes só ficamos sabendo [por causa] de complicações. É sabido também que a principal causa de suicídio em adolescentes é a gravidez indesejada”, disse na GloboNews.
Relembre o caso
O caso da menina de 10 anos se tornou público depois que ela deu entrada no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, se sentindo mal. Enfermeiros perceberam que a garota estava com a barriga estufada, pediram exames e detectaram que ela está grávida de cerca de 3 meses.
Em conversa com médicos e com a tia que a acompanhava, a criança relatou que o tio a estuprava desde os 6 anos. Ela disse que não havia contado aos familiares porque tinha medo, pois ele a ameaçava.
O juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude de São Mateus, município no norte do ES onde a menina mora, deu aval à interrupção da gravidez para preservar a vida da vítima, que foi levada para Recife, já que no Espírito Santo o atendimento do hospital autorizado a fazer o aborto teria se recusado. A legislação autoriza a interrupção da gravidez em caso de estupro.
Pessoas contrárias e a favor do aborto estiveram na porta do hospital onde a menina está internada para realizar o procedimento. Houve bate-boca entre os dois grupos. O médico Olímpio Barbosa de Moraes Filho, gestor-executivo da instituição, foi hostilizado por manifestante anti-aborto. (IstoÉ)