SAÚDE
Médicos restauram fertilidade de mulher após transplante.
A paciente conseguiu engravidar após um transplante do próprio tecido do ovário congelado.
Em 11/06/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Pela primeira vez na história, uma mulher deu à luz um bebê saudável após ter feito um transplante de tecidos do próprio ovário, que foram retirados quando ela tinha apenas 13 anos.
Essa intervenção médica para reestabelecer a fertilidade de uma mulher já tinha sido feita anteriormente. Porém, o tecido havia sido removido quando a mulher já era adulta.
“Esse é um importante avanço no campo, pois as crianças são os pacientes que têm mais chance de se beneficiar com o procedimento no futuro”, disse a Isabelle Demeestere, a médica que liderou o procedimento, num comunicado.
“Quando elas precisam fazer tratamentos que podem destruir a função ovariana, o congelamento desse tecido do corpo é a única opção disponível para preservar sua fertilidade”, adiciona a doutora.
A infância da paciente não foi nada fácil. Ela foi diagnosticada com anemia falciforme, uma doença sem cura, porém tratável, quando tinha cinco anos. Com o passar dos anos, a enfermidade se tornou tão grave que os médicos decidiram que ela precisaria fazer um transplante de medula óssea.
Para que seu sistema imunológico não rejeitasse o transplante, a menina precisou fazer quimioterapia. Os médicos sabiam que o tratamento quimioterápico poderia tornar a paciente infértil. Por isso, eles removeram os tecidos do seu ovário direito quando ela tinha 13 anos e os congelaram.
A retirada dos pedaços do ovário aconteceu antes de a menina ter seu primeiro período menstrual. Contudo, os médicos perceberam que ela já mostrava os primeiros sinais da puberdade. Após dois anos do procedimento, quando ela tinha 15 anos, seu ovário esquerdo parou de funcionar.
Dez anos depois da retirada dos tecidos, a mulher decidiu que queria engravidar. Para seu sonho se tornar realidade, os médicos descongelaram os pedaços de seu ovário. Quatro pedaços foram introduzidos no ovário remanescente da mulher e outros 11 fragmentos foram colocados em outras partes de seu corpo.
Dois anos após o transplante, ela fez um parto normal e deu à luz uma criança saudável. Isabelle Demeestere espera que esse tipo de procedimento possa ajudar outras jovens com o mesmo problema. No entanto, mesmo com o sucesso do transplante, a médica afirma que investigações mais aprofundadas precisam ser feitas com meninas que ainda não entraram na puberdade.
“Além disso, há algumas questões controversas. Por exemplo, por ser um procedimento tão invasivo e o tempo de vida do enxerto ser limitado, ele deveria ser feito apenas em mulheres com alto risco de falência ovariana ou também nas pessoas com baixo risco?”, questiona Isabelle.
“Nós achamos que, neste momento, o tecido ovariano congelado deve ser usado somente para a restauração da fertilidade em pacientes com alto risco de falência ovariana, e não para a indução da puberdade ou para restaurar os ciclos menstruais em adultos”, finaliza a médica.
Segundo os médicos, o ovário da paciente está funcionando normalmente. Eles relataram que, se ela quiser engravidar novamente, um segundo transplante com os tecidos restantes pode ser feito.
Adam Balen, professor de medicina reprodutiva e cirurgia no Centro de Medicina Reprodutiva em Leeds, na Inglaterra, disse ao site Sky News que há poucos centros onde a tecnologia para esse tipo de tratamento está disponível. “Contudo, nos próximos anos, ele vai, sem dúvida, tornar-se mais comum”, relata.
Fonte: Exame