ECONOMIA NACIONAL
Menor atratividade e alta do custo de vida causam fuga da poupança.
É o pior resultado para o período desde o início da série histórica da autoridade monetária, em 1995.
Em 16/03/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A perda de atratividade em relação a outros investimentos e o aumento do custo de vida foram os fatores que motivaram a fuga de recursos da poupança no primeiro bimestre deste ano, avaliaram especialistas. Segundo dados do Banco Central (BC), em janeiro e fevereiro, as retiradas dos poupadores superaram os depósitos emR$ 11,79 bilhões. É o pior resultado para o período desde o início da série histórica da autoridade monetária, em 1995.
Para o economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), a baixa atratividade da poupança como aplicação é o principal motivo para a queda na captação. “Há uma aceleração da inflação, aumento das taxas de juros, [consequentemente] uma queda do rendimento [da poupança]. Perde-se dinheiro e há outras aplicações muito mais rentáveis”, diz Ramos, citando como exemplo as aplicações cujo rendimento é indexado à inflação ou ao dólar.
Para ele, a pressão inflacionária sobre a renda também pode ser um fator de influência. “A poupança sempre foi uma aplicação das classes mais populares, com renda menor. Pode ser essa questão também, dos salários menores, com a inflação [fazendo com que a população não tenha sobras de renda para poupar]. Mas essa realocação de recursos não é tanto por isso, quanto um problema de rendimento”, diz Ramos, lembrando que juros altos tornam a poupança menos rentável.
Segundo a regra atual, quando a Selic, taxa básica de juros de economia, passa de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês, o que equivale a 6,17% ao ano, mais a taxa referencial (TR). Quando os juros básicos estão iguais ou inferiores a 8,5%, o rendimento é 70% da Selic mais a TR. Essa fórmula, em vigor desde agosto de 2013, vale só para o dinheiro depositado a partir de maio de 2012. Atualmente, os juros básicos estão em 12,75% ao ano, o que significa rendimento de 0,5% ao mês mais a TR, abaixo da inflação que tem sido registrada. Em janeiro, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi 1,24%. Em fevereiro, a variação foi 1,22%.
O economista José Kobori, professor de Finanças das Faculdades Ibmec, atribui “a uma conjunção de fatores” a fuga de recursos da poupança em Janeiro e fevereiro. “A inflação é alta. A economia também deixou de crescer, o que impacta sobre o emprego. Além disso, quanto mais aumenta a taxa Selic, menos atrativa fica a poupança. Aqueles que estão na ponta do investimento acabam retirando para investir em outras aplicações”, diz o professor.
De acordo com Kobori, a pressão da inflação sobre a renda pode estar levando ao uso do dinheiro guardado para honrar compromissos. “Se você mantém o salário e os custos aumentam, de algum lugar você vai tirar dinheiro para cobrir esse déficit. Se faltar no fim do mês, acaba retirando [da poupança].”
Por Mariana Branco/EBC