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Mobilidade: Bicicletas em prol de cidades mais sustentáveis
O estudo buscou estimar as emissões evitadas devido ao uso de um sistema de bicicletas.
Em 03/02/2021 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O livro reúne um time de especialistas abordando o uso de bicicletas compartilhadas, serviços cada vez mais estratégicos, com análises e estudos de caso sobre metrópoles brasileiras e cidades globais.
O Laboratório de Mobilidade Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LABMOB/ UFRJ) lança neste mês, o livro “Bicicletas nas Cidades: Experiências de Compartilhamento, Diversidade e Tecnologia”, pela Relicário Edições. O trabalho considerou a bicicleta como peça-chave de uma rede de mobilidade urbana em prol de cidades mais sustentáveis. Os eixos temáticos abordados foram: diversidade, tecnologia, acessibilidade e qualidade de vida. David Tsai, Felipe Barcellos, Hellem Miranda e Marcelo Cremer, via Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), escreveram o capítulo “Bicicletas na dinâmica das cidades: Verdadeiras aliadas no combate à emissão de poluentes”.
O capítulo faz parte de uma sessão do livro que aponta os principais impactos de sistemas de bicicletas compartilhadas na qualidade de vida das pessoas em cidades e contabiliza benefícios ambientais e na saúde decorrentes do uso desses serviços. Para isso, os especialistas estimaram as emissões de dióxido de carbono (CO2) e de material particulado (MP) evitadas pela utilização do sistema Bike Sampa.
O estudo
O estudo buscou estimar as emissões evitadas devido ao uso de um sistema de bicicletas compartilhadas na cidade de São Paulo.
“O valor geral encontrado de 0,04% de redução de emissões na região de operação desse sistema pode parecer tímido, mas é importante frisar que o uso da bicicleta possui um potencial de redução de emissões consideravelmente maior caso invertemos o cenário de pouco incentivo a esse modo de transporte”, conta Felipe Barcellos, um dos autores do texto. “Assim, para reduzirmos as emissões de carbono de São Paulo e melhorarmos a qualidade do ar respirado pelos paulistanos, é importante pensar na bicicleta como parte das soluções disponíveis, evidenciando a necessidade de maiores investimentos e políticas que favoreçam e estimulem o uso de bike”, completa.
O livro reúne um time de especialistas abordando o uso de bicicletas compartilhadas, serviços cada vez mais estratégicos, com análises e estudos de caso sobre metrópoles brasileiras e cidades globais. Ele está inserido no contexto do trabalho do LABMOB contribuindo para a mobilidade sustentável por meio de uma série de iniciativas. Entre elas, a publicação e a plataforma MicromobilidadeBrasil.org que monitora sistemas de compartilhamento em todo Brasil e quantifica as emissões de CO2 evitadas, calculadas por meio de metodologia desenvolvida em parceria com o IEMA. Repensar o futuro considerando a bicicleta como peça-chave de uma rede de mobilidade urbana tornou-se fundamental para a sustentabilidade.
Contexto
Há uma transformação paradigmática no mundo contemporâneo da qual emerge a visão de uma sociedade mais justa e solidária inserida em um contexto de transição energética e de maior preocupação com a sustentabilidade. Essa mudança tem efeitos diversos na paisagem e no cotidiano das cidades. Seus desdobramentos são ainda mais evidentes sobre as formas como as pessoas se movimentam e também sobre como é entendida e planejada a mobilidade urbana desses locais.
São Paulo, Los Angeles, Taipei, Mumbai, entre tantas outras cidades do mundo, hoje têm um crescimento exponencial do uso das bicicletas. Trata-se de um fenômeno muito bem-vindo a seus respectivos contextos, haja vista o papel central ocupado pelo transporte motorizado na dinâmica local dos deslocamentos. Todos os dias, habitantes dessas cidades são impactados pelas consequências decorrentes de um modelo de planejamento urbano que durante anos canalizou os investimentos para valorização e priorização do carro. Contudo, já é amplamente reconhecido que o ideal de desenvolvimento urbano que forjou cidades “carrocêntricas” gera resultados perversos para todos: imobilidade devido ao caos no trânsito e consequente deseconomia, poluição atmosférica que afeta a saúde pública e um desenho urbano que leva ao espraiamento e à segregação social.
Cenário de esperança
Apesar de parecer desolador, o cenário que se vislumbra é de esperança. A constatação dessas consequências negativas acabou se tornando um estímulo para que cidades ao redor do mundo iniciassem uma revolução no seu sistema de transportes. Aos poucos, a paisagem dura e segregadora desses locais, antes dominada pela infraestrutura voltada ao transporte motorizado, vem dando cada vez mais espaço a modos de deslocamento mais democráticos e generosos com a urbanidade — a exemplo da bicicleta. Esse veículo, como modo que oferece inúmeras vantagens — eficiência para deslocamentos de pequena e média distâncias, baixo custo, não poluente e ainda promotor de atividade física —, representa uma importante resposta à necessidade de mudança e de enfrentamento aos atuais obstáculos de mobilidade.
O fenômeno de incremento do uso da bicicleta pode ser percebido de maneira ainda mais acentuada na década de 2010. Entre os fatores que o propiciaram, destaca-se o surgimento e crescimento dos sistemas de aluguel de bicicletas compartilhadas (ou, em inglês, Bike Share Systems, BSS), já presentes em mais de quatrocentas cidades ao redor do mundo. Assumindo diferentes formatos de operação em cada contexto, os serviços de bicicleta compartilhada se aprimoraram ao longo do tempo e encontraram solo fértil para sua consolidação diante dos avanços tecnológicos na interação com sistemas inteligentes e dados, além do fortalecimento da lógica da economia colaborativa e do compartilhamento. (Por Isis Diniz - Comuniquese)