LAZER
Mulheres criam biscoito sem glúten para alunos com alergia, no ES
Em parceria com a Sedu, elas criaram cooperativa e fornecem para escolas.
Em 14/11/2014 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O trabalho diário em lavouras junto com os maridos não deixava tempo livre para que as artesãs e cozinheiras Maria Velten e Maria Inês Alves Prates se dedicassem à família, atividades de casa e lazer. Mas há 23 anos, elas resolveram se juntar e comercializar o que faziam de melhor: artesanato, biscoitos, bolos e pães, em Alto Paraju, distrito de Domingos Martins, região Serrana do Espírito Santo. A notícia se espalhou e hoje 26 mulheres formam a Associação Esperança no Campo. Há cerca de um ano, elas ainda chegaram mais alto e firmaram uma parceria com a Cooperativa de Empreendedores Rurais de Domingos Martins (Coopram) e com a Secretaria Estadual de Educação (Sedu), formando uma cooperativa de biscoitos caseiros sem glúten, destinados a estudantes alérgicos. Hoje, o produto é o carro-chefe e o diferencial do grupo, sendo o mais lucrativo para as mulheres.
Com o sucesso, a receita se tornou o principal segredo delas, pois até chegar no ponto certo, a grupo acabou passando por prejuízos. Quem criou o biscoito foi a artesã e cozinheira Maria Velten, que contou que já produzia outros tipos de biscoito na associação, mas foi procurada pela Sedu para fazer os sem glúten, que seriam fornecidos à escolas do estado.
“Nos procuraram e perguntaram se poderíamos fazer biscoitos sem glúten, para os alunos que tinham alergia. Aceitei, mas não sabia que seria tão difícil. O que posso dizer é que trocamos a farinha pela maisena, que não tem glúten, e foram muitas tentativas até chegar no ponto mais consistente. No início, os biscoitos esfarelavam muito e cheguei a perder R$ 1,5 mil nas tentativas frustradas. Meus joelhos ficaram machucados de tanto que eu ajoelhava e pedia a Deus para tudo dar certo”, lembrou.
O resultado foi um biscoito consistente e leve. Com a receita aprovada, elas firmaram parceria com a Coopram. “Começamos produzindo 5 mil quilos por mês, mas hoje já chegamos a 8 mil. Com a parceria, passamos a fazer biscoitos para várias escolas da região Serrana e também para a Grande Vitória. Fazemos pacotes de um quilo e ganhamos na quantidade vendida”, explicou Maria.
A distribuição dos biscoitos, assim como dos outros produtos feitos na associação, é feita aos fins de semana, em dois carros que o grupo conseguiu através de apoio do governo do estado. Segundo elas, após dois dias de venda, não sobra nada para “contar a história”.
Associação
Apesar de os trabalhos do grupo terem começado há 23 anos, de maneira informal, o registro da Associação de Mulheres Esperança no Campo foi feito em 2008, quando mais membros regularizados puderam participar. Maria contou que a mulheres de Alto Paraju trabalhavam na roça com os maridos, um serviço desgastante, e quando os filhos eram pequenos, era preciso levá-los junto, apesar de alguns patrões não aprovarem.
Maria acabou ficando viúva e para sustentar a família e conseguir ficar mais perto dos filhos, começou a vender os artesanatos que sabia fazer. Junto com a amiga Inês, foram dando corpo ao primeiro grupo, chamando outras mulheres para participar.
“O trabalho na roça era cansativo demais, e as mulheres que ficavam só em casa ficavam deprimidas. Começamos a reunir aquelas que queriam trabalhar com prazer, fazendo o que gostam”, lembrou Inês.
Hoje, a associação produz vários tipos de bolos, pães, biscoitos, pizzas, e também artesanatos, como tapetes de fuxico, panos de prato, toalhas decoradas com pinturas e bordados, bijuterias, colchas, entre outros.
O bolo mais vendido é o “broti”. A receita é alemã, pois a maior parte das mulheres são descendentes, e a massa é basicamente feita com polenta. Para não agarrar nas formas, elas colocam folhas de bananeira higienizadas por baixo da massa.
Entre os artesanatos, os tapetes são os mais vendidos. “Sempre arrumamos quem venda fora de Alto Paraju para a gente, como em Vitória, Linhares e até Minas Gerais. Usamos um material para as pessoas não escorregarem quando pisam neles”, explicou Maria Aparecida da Costa, mais conhecida como Beca.
Ganhos
Na associação, elas trabalham por hora e a média de ganhos é de R$ 40 por dia. Se alguém trabalha a mais, recebe hora extra. Cada uma paga R$ 5 todo mês para ajudar na manutenção dos equipamentos e também colocam em caixa 10% da produção mensal. Assim, no fim do ano, quando tudo já está pago, elas dividem o dinheiro do caixa.
“Todas são responsáveis por si mesmas e cada uma tem uma habilidade. Mas se alguém procura a gente querendo aprender, nós ensinamos a cozinhar e a fazer o artesanato”, explicou Inês.
Novo espaço
O espaço que as mulheres trabalham ainda é improvisado, em um local onde antes era um bar. Apesar de ser organizado, com cozinha, fornos industriais e aprovado pela Vigilância Sanitária, a área é pequena para a quantidade de pessoas que tem interesse em participar do grupo.
Uma nova sede está sendo construída a poucos metros da atual, com a ajuda da prefeitura e de outra associação. “Para ajudar, também fizemos uma festa e recolhemos o dinheiro. Compramos o terreno e cedemos parte para a prefeitura, para construírem uma escola. Na nova sede, vamos fazer um grande forno a lenha, que é melhor para cozinhar o broti e outros produtos”, explicou Maria Velten.
Inês também contou que a sede contará com uma horta para consumo próprio e de trabalho, e ainda há o projeto de uma creche, para que mães com filhos pequenos também possam trabalhar. “Cada dia surge uma idéia nova, tem dias que estamos inspiradas. Isso tudo é para melhorar o nosso trabalho, o nosso sonho. Tudo o que conseguimos, idealizamos e planejamos primeiro, e até hoje corremos atrás”, finalizou.
Fonte: G1-Espírito Santo