ESPORTE NACIONAL
Murilo anuncia despedida da seleção após corte.
Ponteiro foi um dos três excluídos por Bernardinho da lista final de atletas para a Olimpíada.
Em 19/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O beijo da mulher, Jaqueline, e o abraço do filho Arthur, de dois anos, serviram como consolo na chegada ao Brasil. A frustração por ficar fora dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no entanto, perdurará por um bom tempo na cabeça de Murilo. Cortado por Bernardinho juntamente com Isac e Tiago Brendle, o ponteiro ainda tenta digerir o fim do sonho do ouro olímpico por conta de dores na panturrilha esquerda, que já o tinham tirado da reta final da Liga Mundial. O resultado da ressonância magnética que será realizada nesta terça-feira será determinante no rumo da mistura de sentimentos que toma conta do jogador. O que já está definido, por sua vez, é o adeus à seleção brasileira.
De irmão do ex-central Gustavo a uma das principais referências do time de Bernardinho, Murilo defendeu o país por 12 anos, com seis títulos da Liga Mundial, dois do Campeonato Mundial, um da Copa do Mundo e duas pratas olímpicas. O vice do último domingo diante da Sérvia, o corte dos Jogos Olímpicos e a despedida do time nacional foram golpes fortes no gaúcho de 35 anos, que não segurou as lágrimas no setor de desembarque do Aeroporto Internacional Tom Jobim:
- A Jaque sentiu bastante quando falei com ela. Não falei com meus pais ainda, o Gustavo já me mandou mensagem (voz embargada), muitos amigos, muitos fãs... Só tenho a agradecer. A seleção esse ano para mim acaba. Não da maneira que eu gostaria, mas tudo que fiz foi com muita intensidade, amor, orgulho, e fico feliz por representar o meu país por tanto tempo. Espero jogar vôlei enquanto estiver me divertindo, mostrar para o meu filho, que ainda não entende. Outra Olimpíada nem pensar. Quatro anos é muito tempo. É natural. Infelizmente, chega um momento que acaba e hoje se encerra um ciclo.
Bernardinho foi claro ao condicionar sua decisão ao problema físico apresentado pelo ponteiro na Polônia. Diante do prazo para inscrição de atletas na Olimpíada, Murilo tratou de resignar-se com o destino, mas deixou claro que a dúvida sobre a gravidade de sua lesão não permite que tenha certeza de que realmente não teria condição de estar em quadra na manhã do dia 7 de agosto, quando o Brasil estreia contra o México.
- O que mais me incomoda nessa questão física é que ainda temos 15 dias. Com certeza, hoje eu não teria condições de entrar em quadra e jogar um jogo inteiro. A panturrilha ia me incomodar. Talvez não no início, mas durante. Não conseguimos fazer uma ressonância para ter certeza do grau da lesão, se existe a lesão ou se é uma contratura. Então, isso me incomoda um pouco, me deixa com a pulga atrás da orelha. Minha ressonância está marcada para hoje às 18h. Vai me deixar muito incomodado se, por acaso, for alguma coisa muito pequena ou que não tenha lesão e em 15 dias eu tenha condição de jogo. Vai me perseguir bastante isso.
Bernardinho tratou o tema como uma "questão dura", mas reforçou que não via Murilo em condições de atingir uma alta performance durante os Jogos. As lesões recentes de Lipe também foram colocadas na balança:
- Todas as questões são duras. Ninguém sabe o que é viver isso aqui, dispensar alguém como ele, que, como tantos outros, merecia um busto pelo que fez pela seleção brasileira, mas é a questão física. Depois de uma lesão no torneio no Rio, ele vinha com umas questões, se recuperou bem. No jogo contra a Bélgica, sentiu a panturrilha e ficou praticamente dez dias treinando muito pouco. Ao voltar, na Polônia, sentiu de novo. Faltando 18 dias para os Jogos, o risco físico é muito grande. Voltar em um padrão era quase impossível. Temos outro jogador na ponta e que tem um histórico de lesões, que é o Lipe. Então, de certa maneira correr o risco de perder dois jogadores em uma competição exigente como os Jogos Olímpicos... Enfim, não o vimos em condição de estar bem para dar a contribuição na quadra que precisaríamos e ele gostaria de dar. É muito difícil. Tivemos problemas em Londres por questões físicas e é uma decisão muito dura, que pensamos ser a mais correta no momento.
A cada resposta, Murilo se esforçava para tratar a ausência dos Jogos com naturalidade. A longa viagem da Polônia até o Rio de Janeiro, entretanto, tornou a notícia ainda mais indigesta:
- É sempre triste, muito difícil. O momento ninguém esperava, ninguém sabia que o corte tinha que ser após a Liga Mundial, voltando para o Brasil, uma viagem longa. Piorou um pouco as coisas. Não dormimos depois do jogo, todo mundo meio virado. Tudo isso atrapalhou bastante. Não vou dizer que me deixou mais triste, o caso aqui é não participar da Olimpíada. É uma coisa natural do esporte. Nunca imaginei que o ano ia acabar dessa maneira. Me preparei bastante, tive alguns problemas físicos, mas sempre pensando em ajudar a equipe nos Jogos do Rio. Hoje, esse sonho se acaba. Tentar esfriar um pouco a cabeça e recomeçar. Tenho vida no clube, tenho pessoas que vão me receber de braços aberto e tenho que dar continuidade ao trabalho.
Agora à distância, Murilo viverá a experiência de ser torcedor após ser uma das maiores esperanças do vôlei brasileiro nas últimas duas Olimpíadas.
- Vou torcer como se estivesse lá. Essa fase final de Liga Mundial foi horrível por ficar assistindo sem poder ajudar. A Olimpíada vai ser assim. Não só eu, mas milhões de brasileiros vão estar torcendo por eles. Todos que estão ali merecem essa medalha.
O elenco brasileiro ganhou folga até a próxima quinta-feira, e a expectativa é de que a reapresentação definitiva para os Jogos do Rio aconteça na noite de sexta-feira, no centro de treinamento da CBV, em Saquarema.
Fonte: GE