POLÍTICA INTERNACIONAL
Não há indícios de fraude eleitoral nos EUA, diz procurador
É mais uma figura próxima de Donald Trump a descartar as alegações do presidente.
Em 02/12/2020 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
William Barr, Secretário da Justiça dos Estados Unidos desde fevereiro de 2019, tem merecido elogios de Donald Trump, nomeadamente pela sua intervenção no aligeirar da sentença do amigo e conselheiro Roger Stone
William Barr afirma que dois departamentos do Governo americano não encontraram provas de manipulação. É mais uma figura próxima de Donald Trump a descartar as alegações do ainda Presidente.
“Até à data não vimos fraude numa escala que tivesse conduzido a outro desfecho na eleição.” Com estas palavras, esta terça-feira, o procurador-geral dos Estados Unidos da América tornou-se mais uma figura do Partido Republicano a reconhecer que Joe Biden ganhou as presidenciais do passado dia 3 de novembro.
O prazo para certificação dos resultados pelos estados termina no próximo dia 8, devendo a eleição formal no Colégio Eleitoral acontecer a 14. Biden tomará posse em Washington a 20 de janeiro de 2021.
William Barr, entrevistado pela agência Associated Press, contraria assim as repetidas alegações do ainda Presidente, que se diz vencedor das eleições e acusa o Partido Democrata de ter subvertido os resultados. O procurador-geral (cargo que nos Estados Unidos acumula as funções de ministro da Justiça) é próximo de Donald Trump e ordenou, na sequência das presidenciais, investigações sobre a seriedade das mesmas.
“Houve uma afirmação que corresponderia a fraude sistémica, a alegação de que havia máquinas programadas essencialmente para viciar os resultados das eleições”, explicou Barr. Mas os departamentos de Segurança Interna e de Justiça investigaram o caso e “não viram nada que fundamente isso”. Qualquer outra ação corresponderá, afirma, às autoridades estaduais ou locais ou aos tribunais.
O procurador-geral lastima ainda uma “tendência crescente para se usar o sistema de justiça criminal como uma espécie de conserto por omissão” e acrescenta: “As pessoas que não gostam de alguma coisa querem que o Departamento de Justiça venha ‘investigar’”. Antes disso, aconselha, devem assegurar-se de que há base para suspeitar de um crime.
ALEGAÇÕES INFUNDADAS
A candidatura de Trump alega que os democratas inseriram milhões de votos ilegais nas urnas, sem apresentar qualquer prova. Vários processos instaurados em estados cruciais para o triunfo de Biden foram rejeitados ou nem sequer admitidos, não raro por juízes republicanos. Alguns foram mesmo retirados pelos próprios queixosos. Dizem respeito quer aos prazos de receção dos boletins de voto, qur à ausência de observadores do Partido Republicano nalgumas secções de voto.
O chefe de Estado cessante não reagiu mas os seus advogados, Rudy Giuliani e Jenna Ellis, refutaram as declarações de Barr, que assegura que procuradores e agentes do FBI não apuraram qualquer prova de fraude eleitoral:
“Com o maior respeito pelo procurador-geral, a sua opinião parece ser dada sem qualquer conhecimento ou investigação das irregularidades substanciais e dos indícios de fraude sistémica”.
Giuliani e Ellis garantem ter “amplas provas de votação ilegal em pelo menos seis estados” e “muitas testemunhas que afirmam sob juramento ter visto crimes a serem cometidos”, que a investigação governamental não terá interrogado. Isso levou um comentador de direita, Bill Kristol, a sugerir ironicamente que processem Barr e o Departamento de Justiça.
“Dado que Rudy e Ellis são advogados da campanha de Trump e Barr é o advogado da Administração Trump, o caso pode chamar-se ‘Trump vs. Trump’, o que seria um final adequado para todo este circo”, escreveu na rede social Twitter.
Outra causídica da equipa de Trump, Sidney Powell, foi dispensada após acusações infundadas de sistemas eleitorais que alteram votos já emitidos, servidores alemães que armazenariam informação eleitoral dos Estados Unidos e mesmo software criado na Venezuela “por ordem de Hugo Chávez” (Presidente do país sul-americano, falecido em 2013).
Geórgio tem a chave do Senado
O reconhecimento por Barr da vitória de Biden é tanto mais relevante quanto ele fora das figuras da Administração mais preocupadas com a fiabilidade do voto pelo correio, que mais de metade do eleitorado utilizou devido à pandemia. Após o ato eleitoral ordenou investigações sem apontar fundamentos, levando o responsável por questões eleitorais no Departamento de Justiça a demitir-se em protesto.
Recentemente Trump demitiu o mais alto responsável de cibersegurança do país, Chris Krebs, depois de este ter afirmado que as eleições tinham sido as “mais seguras de sempre”. O Presidente afirmou que sairá da Casa Branca se o Colégio Eleitoral eleger Biden, como tudo indica que sucederá, mas garante que jamais reconhecerá a derrota. Trump soma 232 votos previstos no Colégio Eleitoral, contra 306 do Presidente eleito.
Enquanto o senador republicano Ron Johnson, do Wisconsin, exigia a Barr provas de que não houve fraude, o seu colega nova-iorquino Chuck Schumer, líder da bancada democrata no Senado, augurava o destino do procurador-geral: “Acho que é o próximo a ser despedido”.
Outros, como Gabriel Sterling, responsável pelos sistemas de votação no estado da Geórgia, teme consequências menos divertidas. “Pare de inspirar as pessoas a cometer potenciais atos de violência”, pediu a Trump. Antevê que alguém possa “ser ferido, ser baleado, ser morto, o que não está certo”. Sterling vive com proteção policial devido a ameaças.
A Geórgia aguarda pela segunda volta das eleições para o Senado, a 5 de janeiro, para saber quem a representará na Câmara Alta. Se os dois lugares em liça forem para os democratas, o Partido Republicano perderá a maioria, pois ambos terão 50 senadores e o voto de qualidade caberá à futura vice-presidente, Kamala Harris.
Nas presidenciais a Geórgia foi um dos estados conquistados por Biden a Trump, além do Arizona, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. O governador Brian Kemp, republicano, tem repudiado as acusações de Trump, que por sua vez já lamentou ter apoiado a sua eleição. (Por Pedro Cordeiro - Expresso/EUA 2020)