POLÍTICA INTERNACIONAL

Nova escuta mostra que Cristina Kirchner pediu pressão sobre juízes.

A conversa telefônica, supostamente realizada em julho de 2016, foi divulgada na TV.

Em 13/03/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Uma emissora de televisão da Argentina divulgou neste domingo (12) novas escutas de uma conversa entre a ex-presidente Cristina Kirchner e o ex-diretor da Agência Federal de Inteligência (AFI), Oscar Parrilli, na qual supostamente ela lhe ordena a "apertar os juízes".

A conversa telefônica, supostamente realizada em julho de 2016, foi divulgada em um programa da "America TV", e, da mesma forma que em outras polêmicas escutas divulgadas em janeiro deste ano, a ex-presidente e o ex-chefe de inteligência falam em tom coloquial sobre as causas judiciais abertas contra o polêmico ex-espião Jaime Stiuso. Os jornais "La Nacion" e "Clarín" também trazem reportagens sobre o caso.

"Quem são os juízes federais que têm a causa deste cara?", pergunta Cristina a seu interlocutor sobre as investigações sobre Stiuso, ex-diretor de operações dos Serviços de Inteligência argentinos, afastado de seu cargo durante o último mandato kirchnerista, em dezembro de 2014.

Após Parrilli citar o nome de vários magistrados, a viúva do também ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), alvo de várias investigações, algumas por corrupção, se mostra taxativa. "É preciso sair para apertar os juízes", diz a ex-presidente, que após o primeiro vazamento denunciou penalmente um plano de "espionagem política e perseguição" contra ela.

Na conversa divulgada em janeiro se escutava Cristina falar com o chefe da AFI entre 2014 e 2015 e criticar duramente Stiuso depois que, em entrevista, o ex-espião assegurou que ela e Néstor tiveram durante seus governos "serviços paralelos" com pessoas que "armavam seus próprios tapetões (judiciais)".

"É preciso matar esse menino. É um sem-vergonha. (...) Como que os Kirchner tinham serviços paralelos? E ele nunca denunciou isso? (...) Contra quem armamos tapetões?", dizia a ex-presidente na conversa vazada.

No áudio divulgado, ao mesmo tempo em que ambos organizam sua defesa midiática e judicial, é possível escutar a ex-presidente definir Stiuso como "um personagem desagregável que está manejando muita porcaria" e lhe acusa de "estar com (Mauricio) Macri", em referência ao atual presidente.

"Este homem entra e sai do país, tem oito denúncias e nenhum juiz ou promotor o requer. Me parece que o que tem os tapetões armados é ele", acrescenta.

Stiuso colaborava estreitamente com o promotor especial da causa do atentado contra a associação judaica Amia em 1994 - que deixou 85 mortos e segue impune -, o falecido Alberto Nisman, cuja morte, em janeiro de 2015, ainda não foi esclarecida.

Nisman morreu quatro dias após denunciar Cristina pelo suposto acobertamento, através de um memorando assinado com o Irã, dos iranianos suspeitos do ataque, em troca, supostamente, de favorecer o comércio com o país persa, algo que a ex-presidente sempre negou.

"Estamos a 22 anos da Amia e este sujeito diz que todos os governos subornaram juízes e ocultaram tudo, e lhe deixam sair do país? (...) Eu quero ver se posso iniciar alguma ação porque o cara diz que mandei matar Nisman. Quero falar da causa Amia. Este cara... estamos todos loucos... como é possível que nem um promotor o convoque?", questiona a ex-presidente.

Estas conversas foram gravadas no marco de uma causa na qual Parrilli é investigado pelo suposto acobertamento do empresário Ibar Pérez Corradi, acusado de ser autor intelectual de um triplo crime relacionado com o tráfico de efedrina.

O primeiro vazamento desembocou no pedido do promotor Guillermo Marijuan - a quem Cristina chama de "anão" no áudio divulgado - para investigar se a ex-presidente incorreu em um "abuso de autoridade", enquanto outra procuradora pediu que se averigue o vazamento das escutas à imprensa.