POLÍTICA INTERNACIONAL

Oposição da Venezuela convoca marchas contra Constituinte

Governo afirma que 8 milhões foram às urnas, mas oposição diz que foram 2,5 milhões.

Em 31/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A oposição venezuelana convocou mobilizações para esta segunda (31) e quarta-feira (2) no país, para protestar contra a eleição de uma Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro. Dez pessoas morreram durante a votação no domingo (30) e ao menos 58 pessoas foram detidas.

Ele afirmou que, nesta segunda, haverá marchas em todo o país contra o "massacre" e a "fraude" que teria sido a votação. Na quarta, dia em que a Assembleia Constituinte tomará posse em Caracas.

"Não reconhecemos este processo fraudulento. Para nós, é nulo, não existe", afirmou o oposicionista Henrique Capriles, ao convocar as marchas. "A última cartada foi dada por Nicolás Maduro. Ele colocou a corda no pescoço e, a partir de amanhã [segunda], começa uma nova etapa de luta de não reconhecimento dessa fraude", declarou. Governador do estado de Miranda, Capriles disputou - e perdeu - a eleição de 2013 contra Maduro.

Enquanto o governo diz que 8 milhões de venezuelanos foram às urnas eleger os deputados que redigirão a nova Constituição (ou 41,53% dos eleitores venezuelanos, segundo o Conselho Nacional Eleitoral), a oposição afirma que foram 2,5 milhões (12,4% de participação, segundo a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática - MUD).

"A ratificação de que este foi um dia tétrico foi o exíguo comparecimento dos venezuelanos, em um processo do qual apenas o governo participou. Que legitimidade pode ter um processo, em que houve uma abstenção de quase 88%?", questionou Ramos Allup, deputado e ex-líder parlamentar, em entrevista coletiva.

A presidente do Poder Eleitoral afirmou que a eleição foi "pacífica, democrática e sem violência", apesar de o Ministério Público do país confirmar a morte de dez pessoas em protestos convocados pela oposição e de violentos confrontos entre manifestantes e forças de segurança.

Maduro

A oposição teme que uma nova Constituição torne o governo mais autoritário, crie regras que persigam a oposição e prolongue o mandato de Maduro. Novas eleições presidenciais estão previstas para o final de 2018. Já as eleições regionais e municipais deveriam ter ocorrido no final de 2016, mas continuam pendentes.

Em seu primeiro discurso após a eleição, Maduro afirmou em discurso que medidas poderão ser tomadas contra o Parlamento, a Ministério Público, os líderes da oposição e os meios privados.

Maduro assegurou que a nova assembleia assumirá suas funções nas próximas horas e "retirará a imunidade parlamentar de quem tiver que retirar", agirá contra a "burguesia parasitária" para solucionar a crise econômica e assumirá o comando da Promotoria "para que haja Justiça".

Violência

O domingo foi um dos dias mais violentos na Venezuela desde o início da onda de protestos contra o governo em abril, depois que o Tribunal Supremo de Justiça retirou do Congresso - de maioria opositora - o poder de legislar. Desde então, o país já contabilizou mais de 100 mortos em protestos.

No domingo, 380 mil soldados foram mobilizados no domingo, de acordo com a CNN.

Nas ruas, manifestantes montaram barricadas e a Guarda Nacional reprimiu manifestantes de oposição. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar multidão em Caracas.

As mortes aconteceram nas províncias de Lara, Mérida, Sucre, Táchira e Zulia", duas vítimas eram adolescentes, de 13 e 17 anos e um era funcionário da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), segundo a Promotoria. Um dirigente da oposição também foi morto na véspera da votação.

O MP também informou que 58 pessoas foram detidas: 19 pessoas por delitos eleitorais e 39 em manifestações.

A União Europeia condenou nesta segunda "o excessivo e desproporcional uso da força pelas forças de segurança" na Venezuela e expressou sua preocupação sobre o destino da democracia no país.

(Foto: Christian Veron/Reuters)