NEGÓCIOS
Os 5 desafios para quem substituir Graça Foster na presidencia da Petrobras.
Assumir a presidência da maior estatal do Brasil não é apenas uma honra ? é um abacaxi.
Em 04/02/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Quem substituir Graça Foster como presidente da Petrobras não gozará apenas de prestígio e poder. No pacote, está uma pressão monstruosa para resgatar a imagem da empresa e estancar a corrupção. Maior estatal brasileira e uma das maiores petroleiras do mundo, a companhia atrai inúmeros interesses: de políticos, lobistas e empresas. Com um plano de investimentos de US$ 220 bilhões entre 2014 e 2018, a Petrobras é estratégica para estimular a economia, induzir negócios e gerar novas tecnologias, como a do pré-sal.
Mas a pressão descomunal sobre o presidente é capaz de esmagar até os mais resilientes. Graça é um exemplo. Alçada ao posto em fevereiro de 2012, no lugar de José Sérgio Gabrielli, ela foi saudada pelo mercado e pelos especialistas como uma técnica competente, funcionária de carreira da empresa e gestora dura. Desde sua nomeação, Graça circulou por listas estreladas de reputação. A tradicional revista americana Fortune, por exemplo, a elegeu como a executiva mais poderosa do planeta, fora dos Estados Unidos, naquele ano e em 2013. Em 2014, ela ocupou o quarto lugar geral.
O risco de o próximo presidente ser esmigalhado por essa mesma pressão existe. Não é à toa que a presidente Dilma Rousseff encontra dificuldades para atrair um nome de peso para sentar naquela cadeira. Na bolsa de apostas, circulam o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles; o presidente da Vale, Murilo Ferreira; o ex-presidente da mineradora, Roger Agnelli; o ex-presidente da Perdigão, Nildemar Secches; e o ex-presidente da OGX, Rodolfo Landim. Pelo acordo fechado com Dilma, Graça e cinco dos atuais diretores permanecerão no comando até o fim de fevereiro, com o objetivo de publicar o balanço auditado de 2014.
O plano é dar um choque de gestão na companhia, com uma espécie de “Joaquim Levy” à frente. Não há dúvidas de que os nomes especulados são executivos de peso, com respeito do mercado e histórico de boa atuação, mas os desafios da Petrobras são enormes. Confira, a seguir, os principais.
1. Reduzir a influência política na Petrobras
A maior estatal do País é um verdadeiro ímã para políticos de todos os matizes. Seu orçamento previsto é de US$ 220 bilhões entre 2014 e 2018. Cada diretoria tem, sob seu comando, um orçamento bilionário. Mesmo que não houvesse um esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal na Petrobras, a capacidade de estimular empresas e setores, com essa dinheirama, e agradar às bases eleitorais já seria o bastante para fazer com que os políticos cobiçassem um naco da petroleira.
Outro exemplo claro de influência política é o represamento dos preços dos combustíveis. Nos últimos anos, a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, obrigaram a companhia a absorver a alta da cotação mundial do barril de petróleo, sem repassá-la para o preço no mercado interno. O objetivo era impedir pressões sobre a inflação, que nunca ficou perto do centro da meta de 4,5% no primeiro mandato de Dilma. Essa política levou a uma grande descapitalização da Petrobras, à elevação do nível de endividamento, ao corte das notas de risco e ao derretimento na Bovespa.
2. Estancar a corrupção
A Operação Lava Jato, lançada pela Polícia Federal com o respaldo da Justiça, revelou um esquema de corrupção que envolve ex-diretores, funcionários, doleiros, lobistas, empreiteiras e políticos. Acusados como o ex-diretor Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Yousseff e Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal, assinaram acordos de delação premiada para reduzir as penas a que estariam sujeitos, em caso de condenação.
Seus depoimentos, segundo o Ministério Público Federal, indicam que diretorias da Petrobras foram loteadas por partidos políticos e tiveram obras superfaturadas, com o objetivo de desviar parte dos recursos para enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas. Paulo Roberto Costa, por exemplo, afirma que a “caixinha” cobrada era de 3% do valor de cada projeto. O dinheiro seria repartido entre PT, PMDB e PP. Os procuradores estimam que os desvios alcancem R$ 4 bilhões, mas a própria Petrobras fala em R$ 88 bilhões de sobrepreço dos projetos, em seu balanço não auditado do terceiro trimestre, divulgado na semana passada.
3. Conter as dívidas
Mesmo que se desconsiderem os dois itens acima, o substituto de Graça tem outra grande tarefa: reduzir as dívidas da companhia. Impedida de reajustar o preço dos combustíveis, a Petrobras começou a enfrentar restrições de caixa. Para manter o ritmo de investimentos e despesas, a empresa começou a se endividar com bancos e investidores.
A estatal chegou a setembro de 2014 com uma dívida total de R$ 331,7 bilhões. A cifra é 24% maior que a de dezembro de 2013, segundo os números não auditados do balanço do terceiro trimestre. Com isso, a relação dívida líquida/ebitda ajustado subiu de 3,52 para 4,63 vezes. Na prática, isso significa que a empresa precisaria de mais de quatro anos de sua geração de caixa para pagar todas as dívidas.
Com dívidas maiores, a Petrobras corre o risco de perder o grau de investimento recebido pelas agências internacionais de classificação de risco. Nesta semana, a Fitch e a Moody’s rebaixaram a nota da companhia, alertando para o nível das dívidas e a necessidade de divulgar números auditados.
4. Melhorar o caixa
Para não se endividar mais e correr o risco de perder o grau de investimento, a Petrobras precisa reduzir suas atividades ao “mínimo possível”, segundo Graça afirmou aos jornalistas, no encontro em que explicou o balanço trimestral. O objetivo da freada é preservar o caixa para não paralisar a companhia. Traduzindo: o dinheiro pode acabar, diante dos gastos correntes, como a folha de pagamento e as contas, e do pagamento de juros, empréstimos e financiamentos, e do bilionário programa de investimentos, que deve desembolsar, no mínimo, US$ 30 bilhões.
Em setembro, o caixa estava em R$ 62,4 bilhões, acima dos R$ 58 bilhões que possuía em julho. Seria uma boa notícia, se esse acréscimo não fosse bancado por financiamento e captações de mercado.
5. Recuperar o valor da empresa
Sob Graça Foster, a Petrobras viu seu valor de mercado derreter 61%. Em 13 de fevereiro de 2012, quando ela assumiu a presidência, a companhia valia R$ 329,9 bilhões. Nesta terça-feira 3, dia em que foi anunciada a sua saída e os papéis dispararam 15% na bolsa, o valor chegou a R$ 128,9 bilhões.
O simples anúncio de que a diretoria da Petrobras será substituída levou a um salto no valor dos papéis. Caberá ao próximo presidente confirmar se a euforia dos investidores vai se transformar em realidade, com uma gestão mais profissional da companhia. Do contrário, a imagem e o seu valor continuarão afogadas nas águas profundas da descrença.
Fonte: Istoé Dinheiro