SAÚDE
Pacientes relatam emoção ao conseguir voltar a falar.
Câncer de laringe acomete principalmente fumantes e, em 2016, deve registrar 7.350 novos casos.
Em 25/04/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Em 2012, quando o então motorista de ônibus, Alcebíades da Silveira, 65 anos, foi encaminhado ao Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), ele não imaginava que a rouquidão que o incomodava há alguns meses fosse câncer de laringe. É uma doença que acomete principalmente fumantes e que, em 2016, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), deve registrar 7.350 novos casos. Dois anos de tratamento, e a cirurgia para a extração do tumor foi inevitável, e, junto a ele, também foi retirada a laringe, o que acarretou a perda da fala.
No mês em que se comemora o Dia Mundial da Voz, o atual aposentado tem motivos para comemorar. Após um ano sem falar e outro se readaptando, Alcebíades compareceu animado ao hospital para trocar a prótese e dar continuidade ao tratamento que está permitindo recuperar a voz e voltar ao convívio social.
Alcebíades conta que a recuperação não foi fácil. “Às vezes, tentava falar com as pessoas, elas não entendiam, e eu ficava nervoso, saía chutando tudo. E agora as pessoas me escutam, me entendem, posso atender ao telefone, já pensou que maravilha?” E complementa: “Toda a equipe tem muita paciência. Estão me ensinando a voltar a falar. Eles me tratam como se eu fosse um bebezinho de colo, e eu estou muito feliz com isso. Porque, se não fosse o tratamento, hoje não estaria vivo”, emociona-se.
Responsável pelo Setor de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Chefe da Clínica do Serviço de Otorrino e Cirurgia Cérvico-Facial do HFSE, Pedro Ricardo Milet, é quem coordena os tratamentos da voz na unidade hospitalar. O especialista em cirurgia de cabeça e pescoço explica que a nova técnica, que faz a colocação de uma prótese “fonatória tráqueo-esofageana”, está em fase de experimentação e implantação. No ano passado, além de Alcebíades, outros dois pacientes também passaram pela mesma cirurgia.
Inovação
De acordo com Milet, o procedimento é inovador, pois permite suavizar a voz artificial, aproximando-a de uma fala natural. “Perder a voz significa dizer que a pessoa perde também a inclusão e a sociabilidade. Como vai ficar escrevendo o tempo todo, como vai brincar com o neto? E a prótese dá essa possibilidade ao paciente de voltar ao mundo que vivia antes”, destaca.
Roksania da Cunha Ramaldes, servente, foi uma das três pacientes que se submeteram à cirurgia de prótese no HFSE e também estava na última quarta-feira na unidade para realizar a troca da prótese. O processo dela foi um pouco mais complexo que o de Alcebíades e necessitou de tratamento complementar com botox. “Além da cirurgia para retirada do tumor, tive de fazer toda uma reabilitação e ainda estou reaprendendo a falar. É uma superação diária que faço com a ajuda das pessoas do hospital”, observa.
Em continuidade à implantação da nova técnica, o coordenador do Serviço de Otorrinolaringologia do hospital, Francisco Cypriano, lembra que a direção administrativa do HFSE já está com processo aberto para a compra de novas próteses, e o procedimento deverá ser expandido ainda este ano, beneficiando a outros pacientes da unidade que estão em tratamento de câncer de laringe.
Além do serviço Servical e de Pescoço, o setor de Otorrino do HFSE conta com 13 profissionais especialistas das mais diversas áreas e sub-áreas, que juntos atendem uma média de 1,3 mil pacientes mensais. Somente no consultório de Pedro Milet, passam uma média de 50 pacientes por semana, que chegam com os mais variados tipos de problemas da voz.
Riscos
Conforme aponta o especialista, apesar de ser uma doença muito grave, que levou mais de quatro mil pessoas à morte em 2013 no Brasil, o câncer de laringe não é o problema mais frequente a atingir a população brasileira.
“A maioria das pessoas com vícios vocais, alterações nas pontas das cordas vocais e no aparelho fonatório como um todo ou com exposição crônica ao cigarro certamente terão alterações da laringe, como a criação de calos nas cordas vocais ou a aparição de tumores benignos. São problemas que vão alterando a voz e que, se não tratados, podem levar ao desenvolvimento do câncer de laringe no futuro”, esclarece Milet.
O médico alerta ainda que o primeiro e principal sintoma do câncer de laringe é a rouquidão e reforça que a maioria dos problemas de voz, quando detectados precocemente, tem cura. “Se a pessoa de repente fica rouca por mais de duas semanas e não melhora, espontaneamente ou com alguma medicação, ela deve procurar auxílio médico e fazer exames diagnósticos como a laringoscopia, para ter ideia do que está acontecendo e fazer um tratamento adequado.”
Além de próteses de laringe, o serviço de voz do HFSE realiza tanto a parte do tratamento cirúrgico como o acompanhamento clínico, com vários tipos de tratamento que recuperam ou preservam a voz. O trabalho também é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, composta também por fonoaudiólogos.
Dicas
A fonoaudióloga do Hospital dos Servidores, Karla Nunes, ensina que há algumas maneiras para preservar a saúde da voz, como o desenvolvimento de hábitos de higiene vocal. “Evitar vícios como o fumo e o álcool e manter uma alimentação equilibrada, com um consumo de ao menos dois litros de água por dia, são algumas das dicas mais importantes.”
Além disso, para os profissionais que utilizam constantemente a voz, como professores, cantores, jornalistas, radialistas e pessoas que trabalham com atendimento ao público, outras dicas são fundamentais: “O ideal é tomar muita água, mas sempre em temperatura natural, e também cuidar da alimentação, com o consumo de alimentos adstringentes como as maçãs”, finaliza.
Fonte: Portal Brasil, com informações do Blog da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (Inca)