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Pandemia completa seis meses no Brasil e deixa lições

Vista aérea de sepulturas no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus.

Em 26/08/2020 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: AFP

Inicialmente considerada doença pulmonar, a covid-19 se revelou doença sistêmica, que ataca diversos órgãos e funções do corpo.

O carnaval mal tinha terminado quando o Brasil registrou o primeiro caso de covid-19. Ontem, a epidemia completou seis meses em território nacional. De acordo com o Ministério da Saúde, em 13 de agosto a doença estava presente em 98,4% dos municípios. São 3,6 milhões de casos confirmados e mais de 115 mil mortes, o que faz do Brasil o segundo país mais afetado, atrás apenas dos EUA.

“Uma nova epidemia virá em algum momento”, sustenta Roberto Medronho, especialista em saúde pública e professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’ um novo vírus surgirá ou um vírus já conhecido ressurgirá.”

Os números ainda são muito altos, e nenhuma vacina ou tratamento específico contra o novo coronavírus foi descoberto, a despeito dos esforços científicos sem precedentes. Mesmo assim, especialistas brasileiros dizem que aprendemos lições importantes nos últimos meses. E seis delas devem nos acompanhar mesmo depois da pandemia. São elas:

A compreensão da doença

Inicialmente considerada doença pulmonar, a covid-19 se revelou doença sistêmica, que ataca diversos órgãos e funções do corpo.

“Houve uma curva de aprendizado muito intensa”, atesta a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

A necessidade de combater a inflamação generalizada, a atenção especial aos eventos circulatórios e a garantia da boa oxigenação do paciente são algumas das práticas que já se tornaram normais no atendimento à covid. O preparo da equipe médica também é crucial.

“As boas práticas com os pacientes graves salvam vidas, não as tentativas esdrúxulas de uso de terapias sem evidências científicas”, diz o infectologista Fernando Bozzo, do Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz.

O impacto econômico e social

“Esse modo de produção e de vida que o mundo adotou precisa ser revisado, isso ficou muito evidente”, diz o epidemiologista Roberto Medronho, coordenador do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ.

“Espero que nesses meses de isolamento e confinamento as pessoas tenham aproveitado para repensar um pouco a forma de lidar com a natureza e como o outro.”

A epidemia também teve um efeito devastador sobre o sistema de saúde de vários países. Paralisou parte da produção industrial, do comércio e deixou milhares de desempregados.

“No caso específico do Brasil, a epidemia acentuou as desigualdades econômicas, raciais e regionais”, constata Fernando Bozza. “A letalidade entre os jovens internados no Nordeste é o dobro da registrada no Sudeste. Esse resultado não é exclusivamente por causa da epidemia, mas porque já era horrível antes e agora piorou.”

A importância da ciência

Sem ciência, não teríamos avanços tão rápidos na compreensão da doença, na criação de kits de diagnóstico e, sobretudo, no desenvolvimento de vacinas em tempo recorde.

“A pandemia deixou muito claro que não podemos ficar dependentes de outros países nesta área, precisamos de autonomia”, diz Roberto Medronho. “Acho que agora pelo menos parte da sociedade percebeu a importância da ciência para o desenvolvimento de uma nação.”

O estrago das fake news

“O desserviço que as fake news fizeram do ponto de vista da informação para a população foi enorme. As redes sociais foram inundadas com bobajadas sem fim, terapias falsas, uma série de coisas que serve apenas para confundir a população: foi um desserviço político e de saúde pública”, critica Fernando Bozza.

“A imprensa está fazendo o seu papel, mas a sociedade brasileira não conseguiu se organizar para dar uma resposta adequada diante da gravidade do que estamos vivendo.”

Especialistas que constataram que a cloroquina não funcionava contra a covid chegaram a ser ameaçados de morte.

Herança para a humanidade

“A gente aprendeu muita coisa”, diz Margareth Dalcolmo. “Toda uma geração que nunca tinha vivenciado algo semelhante pode entender de fato o que é uma pandemia de uma doença transmissível. É um evento que certamente vai modificar a qualidade de vida no planeta, para o bem ou para o mal.”

Certeza da próxima epidemia

Roberto Medronho afirma que uma nova epidemia virá em algum momento.

“Não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’ um novo vírus surgirá ou um vírus já conhecido ressurgirá.” (Estadão - Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)