POLÍTICA NACIONAL
Papel internacional da Argentina diminuirá com Bolsonaro
O bloco sul-americano impede os países membros de negociarem separadamente.
Em 03/11/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Presidida por Mauricio Macri, a Argentina aumentou seu peso no plano internacional nos últimos anos, contando também com uma perda de força de um Brasil em turbulência política, mas a situação tende a mudar com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, segundo analistas políticos argentinos, que, por outro lado, enxergam que o país austral pode ser beneficiado economicamente com o novo cenário.
Anunciado como próximo ministro da Economia, Paulo Guedes provocou polêmica ao afirmar que a Argentina e o Mercosul "não serão uma prioridade" para o futuro governo Bolsonaro, o que reflete uma vontade de expandir e reconfigurar as relações comerciais e internacionais do Brasil.
Historicamente, o país tem uma posição de destaque na América do Sul, representando, por si só, cerca de metade do PIB, do território e da população do subcontinente, mas nos primeiros dois anos de Mauricio Macri no poder na Argentina (2016 e 2017), sofreu uma grave crise política e econômica, combinando a recessão com os escândalos revelados pela operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e as fragilidades do governo Michel Temer.
Estes revezes "neutralizaram o Brasil como ator regional e global", deixando um vazio do qual, "de alguma forma, Macri se beneficiou", afirmou à Agência Efe o analista Rosendo Fraga, que apontou que, com um novo presidente, o Brasil "recupera o papel natural na região e no mundo, e é o que está acontecendo".
O governante argentino assumiu o poder com um programa que pregava um aproximação em relação às potências ocidentais, e sediar a cúpula do G20 abriu um "espaço internacional excepcional", disse Fraga, mas a partir de 1º de janeiro, Bolsonaro tomará posse, marcando um momento no qual "será recuperada a relação de forças tradicionais".
Para Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, "a Argentina é um país médio, e o Brasil é grande", conceito que ficou claro nas polêmicas declarações de Paulo Guedes.
O "guru econômico" de Bolsonaro afirmou também que o Mercosul "está supervalorizado" e fez o Brasil "prisioneiro de relações ideológicas", expondo assim sua intenção de buscar acordos com outros pesos pesados mundiais, uma necessidade que o especialista em comércio internacional Marcelo Elizondo vê como consequência natural da próxima etapa do Brasil e de seu grande crescimento nas últimas décadas.
O bloco sul-americano impede os países membros de negociarem separadamente tratados comerciais com países que não o integram, uma proibição que, cerca de 30 anos depois de sua criação, se mostra "rígida demais" na opinião de Elizondo, diretor da empresa de consultoria argentina DNI.
Uma flexibilização destas condições do Mercosul não seria mal vista pelos demais integrantes, segundo o economista, com Macri buscando novos destinos para as exportações argentinas e o Uruguai no meio de um processo de negociações com a China.
Apesar desta visão crítica sobre o Mercosul, Bolsonaro e sua equipe descartaram deixá-lo, e por isso, apesar dos atritos que algumas declarações possam causar, Elizondo observou que uma abertura comercial do Brasil para países como os Estados Unidos pode ser benéfica também para a Argentina.
Os dois países sul-americanos, que Elizondo considera "fechados" comercialmente, têm grandes relações de interdependência: a Argentina é o terceiro principal destino das exportações brasileiras, e o Brasil é o maior comprador da Argentina, com 17% de suas vendas ao exterior.
Nesse sentido, a crise no Brasil afetou o crescimento da Argentina, mas uma possível recuperação após a chegada de Bolsonaro, que tem ganhado sinais de aprovação por parte do mercado, pode ser um dos fatores que ajudariam na recuperação da abalada economia do país vizinho.