ECONOMIA INTERNACIONAL

Parlamento grego aprova por maioria referendo sobre oferta de credores.

No próximo domingo (5), a população decidirá se o país aceita, ou não, a última oferta feita pelos credores.

Em 27/06/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Parlamento grego aprovou por maioria, na madrugada deste domingo (horário local), a proposta de referendo apresentada pelo governo do premiê Alexis Tsipras, em meio às negociações com a União Europeia (UE) e com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No referendo do próximo domingo, 5 de julho, a população decidirá se o país aceita, ou não, a última oferta feita pelos credores. União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário internacional (FMI) exigem reformas econômicas na Grécia para dar ajuda financeira. O país depende desse dinheiro para pagar uma dívida com o FMI e evitar o calote que poderia tirá-la da zona do euro. A dívida, porém, vence antes do referendo, em 30 de junho.

Segundo o texto da proposta, os gregos poderão dizer "sim", ou "não", às medidas propostas por UE e FMI na sexta-feira ao governo de Alexis Tsipras em uma das últimas rodadas de negociação entre as duas partes. A negociação se arrasta desde o final de fevereiro.

Segundo contagem definitiva dos votos, dos 300 deputados da Casa, 178 votaram a favor; 120, contra; e dois se abstiveram.

Os membros da maioria governista de esquerda radical e seus aliados da direita soberanista Gregos Independentes (ANEL) votaram pelo referendo, assim como os deputados do neonazista Aurora Dourada.

Já os conservadores do Nova Democracia e os socialistas do Pasok votaram contra, caminho seguido pelos comunistas do KKE e pelo partido de centro Potami.

No discurso no Parlamento antes do início da votação, o primeiro-ministro Tsipras considerou que "o povo grego dirá um 'grande não' ao ultimato, mas, ao mesmo tempo, um 'grande sim' à Europa da solidariedade".

Em defesa da consulta popular, ele disse estar convencido de que, "no dia seguinte desse orgulhoso 'não', a força de negociação do país será reforçada" diante de seus credores UE e FMI.

Jeroen Dijsselbloem diz que Grécia fechou as portas para negociação (Foto: AP Photo/Virginia Mayo)
Jeroen Dijsselbloem diz que Grécia fechou as portas
para negociação (Foto: AP Photo/Virginia Mayo)

Ministros rejeitam estender prazo
Antes da decisão do Parlamento grego, os ministros da Economia da zona do euro rejeitaram neste sábado estender o atual programa de resgate financeiro da Grécia, como resposta ao colega grego, Yanis Varoufakis, que pediu a extensão de mais alguns dias, ou semanas, do programa de resgate para poder realizar o referendo.

Com a proposta de referendo, o governo da Grécia rejeitou as últimas propostas dos seus credores, segundo disse o chefe do grupo de ministro das Finanças da zona do euro, Jeroen Dijsselbloem, advertindo que Atenas "fechou a porta para novas negociações" e que a zona do euro vai conversar sobre as "consequências", segundo a agência Reuters.Pesquisas de opinião realizadas antes de o primeiro-ministro anunciar um referendo mostram que a maioria dos gregos é favorável a aceitar um acordo de resgate com os credores internacionais.

A pesquisa do instituto Alco publicada na edição de domingo (28) do jornal "Proto Thema" mostra que 57% dos 1.000 participantes são a favor de um acordo, ao passo que 29% querem ruptura com os credores.

Risco de calote
A zona do euro ofereceu liberar bilhões em ajuda se a Grécia aceitasse e implementasse reformas de previdenciárias e tributárias que são um fantasma para o governo esquerdista, eleito em janeiro sob a promessa de acabar com a austeridade.

Se a Grécia não fechar um acordo no final de semana para liberar os recursos, o país dará o calote ao Fundo Monetário Internacional (FMI) na terça-feira, possivelmente desencadeando uma corrida aos bancos, controles de capital e levantando dúvidas sobre seu futuro na zona do euro.

Filas nos bancos
Depois da convocação do referendo, colocando a Grécia à beira do calote, os gregos fizeram filas do lado de fora dos caixas eletrônicos para sacar dinheiro, temendo que o país saia da zona do euro.

Cerca de 35 por cento da rede de caixas eletrônicos --dois mil de um total de 5.500 equipamentos em todo o país-- ficaram sem notas de euro em determinado momento do dia, disseram três fontes do setor bancário à Reuters. Depois, eles foram reabastecidos, disseram as fontes. Os bancos estavam trabalhando de forma coordenada com o banco central para manter a rede abastecida, afirmaram.

Pessoas fazem fila neste sábado (27) em caixa eletrônico da cidade de Iraklio, na ilha de Creta (Foto: REUTERS/Stefanos Rapanis)
Pessoas fazem fila neste sábado (27) em caixa eletrônico da cidade de Iraklio, na ilha de Creta (Foto: REUTERS/Stefanos Rapanis)

O reabastecimento dos caixas geralmente demora de uma a duas horas por ponto, o que levou a longas filas em todo o país, disse uma das fontes.

Cerca de 600 milhões de euros foram sacados do sistema bancário grego no sábado, disse à Reuters uma fonte sênior de um dos quatro grandes bancos da Grécia. Uma segunda afirmou que o fluxo de retirada de dinheiro foi de mais de 500 milhões de euros.

"A demanda por dinheiro em espécie é definitivamente mais alta do que o que se vê em um sábado normal", disse um deles.

O governo da Grécia insistiu que os bancos irão reabrir normalmente na segunda-feira e negou que o país tenha de impor controles de capital para evitar o colapso do sistema bancário.

Caixa eletrônico de banco na cidade de Tessalônica tem fila neste sábado (27) (Foto: REUTERS/Alexandros Avramidis)
Caixa eletrônico de banco na cidade de Tessalônica tem fila neste sábado (27) (Foto: REUTERS/Alexandros Avramidis)

A crise na Grécia
A Grécia enfrenta atualmente "uma queda de braço" com os credores de sua dívida. O impasse tem gerado o temor de que o país deixe a zona do euro e até mesmo o bloco da União Europeia.

Na última década, a Grécia gastou bem mais do que podia e pediu empréstimos volumosos para financiar suas despesas. O resultado é que o país ficou refém da crescente dívida.

Nesse período, os gastos públicos dispararam, com os salários do funcionalismo praticamente dobrando. A arrecadação do governo não acompanhou o ritmo, com evasão de impostos.

Atualmente, a dívida grega é de mais de € 320 bilhões (em torno de R$ 1 trilhão) e supera, em muito, o limite de 60% do PIB estabelecido pelo pacto assinado pelo país para fazer parte do euro.

Em loja de itens para celulares vazia em Atenas, promoção anuncia 'vários produtos a partir de um euro' (Foto: Petros Karadjias / AP)

Em loja de itens para celulares vazia em Atenas, promoção anuncia 'vários produtos a partir de um euro' (Foto: Petros Karadjias / AP)

Reuters