SAÚDE
Pesquisador estuda atendimento às vítimas de abuso e propõe mudanças.
Docente da Unesp realizou o levantamento em 5 cidades do Estado de SP.
Em 24/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Tudo começou com reuniões com estudantes em escolas públicas de Araraquara (SP). “Entrávamos na sala de aula mais problemática da escola e pedíamos para as crianças contarem histórias, até que elas começaram a abordar os meus alunos perguntado por que elas tinham que ter relações sexuais dentro de casa”, conta Augusto Caccia-Bava, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Em uma das abordagens, uma criança de 10 anos contou que a mãe da amiga ‘emprestava’ a filha para o vizinho.
Com esses relatos, ele procurou a ajuda de vários especialistas, recebeu a orientação de deixar as crianças falarem, sem interrupção dos relatos, e decidiu continuar investigando a questão do abuso sexual.
Docente do campus de Araraquara, ele realizou estudos na cidade e em São Carlos, Ribeirão Preto, Bauru e São José do Rio Preto - municípios que, segundo o Ministério da Justiça, registram casos de tráfico de pessoas para exploração sexual e registram, oficialmente, cerca de 20 novos casos de violência por mês - e trabalha na criação de protocolos de atendimento para vítimas e de um observatório para prevenir novas ocorrências.
Prevenção
Caccia-Bava e seus alunos realizaram cerca de 90 entrevistas nas cinco cidades com agentes públicos responsáveis pela assistência às vítimas, como juristas, delegados, promotores, oficiais da Polícia Militar, integrantes da Guarda Municipal, assistentes sociais, psicólogos, representantes do Conselho tutelar e agentes de saúde.
Segundo o pesquisador, o levantamento apontou que os serviços de assistência social, juntamente com os Centros de Referência Especializados de Assistência Social, conseguem atender apenas cinco casos por semana e que há a necessidade de 12 assistentes sociais e 12 psicólogos em cada unidade."Não tem tempo e falta pessoal. A ausência de um corpo técnico para dar conta do problema é evidente".
Reduzir o número de casos por profissional permitiria, por exemplo, que os agentes conseguissem acompanhar as famílias.
Em 70% dos casos, segundo Bava, os agressores estão dentro de casa ou na vizinhança e o ideal seria os agentes e conselheiros visitarem as famílias. “As famílias têm que ser objeto de atenção. Sendo famílias de crianças consideradas vulneráveis, é necessário estudar o caso, ver o equilíbrio da família, se existe caso de desemprego, droga ou até prostituição dentro do lar”, relatou o professor.
“É importante também prevenir o segundo abuso. A prevenção exige mobilização intensa e permanente dos agentes públicos junto com as vítimas e os familiares”, completou.
Outra questão a ser trabalhada é o preconceito. “Existe um enorme preconceito em relação às vítimas, a sociedade precisa aceitar e abraçar essas pessoas”, disse.
“Esses casos não ocorrem apenas em regiões pobres, existem também na classe média, média alta e rica, não é uma coisa pequena”.
Observatório
Agora, com os dados compilados, Bava trabalha para criar um observatório sobre experiências de prevenção à violência sexual contra crianças e adolescentes.
O objetivo é difundir propostas de intervenção e propor um atendimento padronizado, já que, segundo o professor, não há nas unidades um protocolo específico referente ao apoio às vítimas.
Bava também quer difundir a ideia de polos de prevenção, com projetos locais em cidades que possuem universidades federais, por exemplo.
g1/SP