MEIO AMBIENTE

Piracema acaba, mas lama inibe pesca no Rio Doce, no ES.

Pescadores falaram que não há compradores para os peixes da região.

Em 01/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Mesmo com o fim do período da piracema (quatro meses em que a pesca é proibida para a reprodução das espécies), neste domingo (28), pescadores de Baixo Guandu, na região Noroeste do Espírito Santo, continuam sem pescar no Rio Doce, por causa da lama de rejeitos de minério, vinda de Mariana, Minas Gerais.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a pesca está liberada no local, mas os pescadores preferem não se arriscar, por medo de contaminação do animal pela lama e por causa da ausência de compradores.

Os barcos continuam parados às margens do Rio Doce e os pescadores acreditam que enquanto o rio estiver com coloração de lama, vai continuar deserto. “Só se vê capivara no meio do rio e mais nada. Nem ser humano vem mais”, falou o pescador Adroaldo Gonçalves.

Adroaldo pesca há 40 anos em Mascarenhas, vila de Baixo Guandu, onde o Rio Doce passa ao lado e, pela primeira vez, vai deixar o barco parado. “Todo lugar que você olha aí, você vê um barco, no seco, parado”, disse.

O pescador Irineu dos Santos conta que o período costumava ser de alto lucro. “Nessa época, a gente metia a rede na água, porque tinha que tirar os atrasados, já que já estávamos há quatro meses parados”, falou.

Alguns pescadores recebem um salário mínimo e uma cesta básica, pagos pela mineradora Samarco. Mesmo assim, eles garantem que recebiam mais com o trabalho de pesca. “Ninguém quer peixe do rio. Os carros não vêm mais aqui em casa, comprador de Valadares não liga mais. Eles levavam 100 kg de dourado para lá e para Vitória, mas sumiram”, relatou Décio Gonçalves.

A proximidade da semana santa e a tradição de não comer carne de boi durante a quaresma também costumavam movimentar a venda de peixes na região, mas, este ano, a situação está totalmente diferente.

“Seria a melhor época de vender peixe. Infelizmente, por causa da lama, mesmo se a gente pescasse, não apareceria pescador nenhum para comprar peixe. Ninguém tem coragem de comer”, vendedora de peixe Monique dos Santos.

Fonte: G1-ES