ECONOMIA NACIONAL

Plano Brasil Soberano é resposta ao tarifaço dos Estados Unidos

Plano do Governo Federal é resposta às sobretaxas de até 50% aplicadas aos produtos brasileiros.

Em 16/08/2025 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Felipe Storch Damasceno/Divulgação/IBEF-ES

Para o economista-chefe do IBEF-ES, Felipe Storch Damasceno, a efetividade dessas medidas do Plano Brasil Soberano dependerá tanto da velocidade de implementação quanto da adequação às características produtivas locais.

O Plano Brasil Soberano, lançado pelo Governo Federal, é a principal resposta às sobretaxas de até 50% aplicadas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. O pacote combina ações de crédito emergencial, incentivos fiscais, flexibilização aduaneira, estímulo ao mercado interno, proteção ao emprego e reforço da diplomacia comercial.

Em Nota Executiva ao associado do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (IBEF-ES), o economista-chefe, Felipe Storch Damasceno, explica que, para um estado como o Espírito Santo, com forte dependência de setores exportadores, a efetividade dessas medidas dependerá tanto da velocidade de implementação quanto da adequação às características produtivas locais.

O pacote inclui:

1. Crédito e Garantias

O plano destina R$ 30 bilhões ao Fundo Garantidor de Exportações, priorizando empresas mais expostas ao mercado norte-americano. Pequenas e médias terão acesso via fundos como FGI (BNDES) e FGO (Banco do Brasil). A liberação do crédito exige contrapartida de manutenção de empregos, garantindo viés social, mas podendo restringir empresas em reestruturação.

Para setores de margens reduzidas, como algumas indústrias de transformação capixabas, a liberação ágil desses recursos será crucial. Linhas de crédito atrasadas podem gerar quebras em cadeias produtivas e perda de competitividade antes mesmo de a diversificação de mercados surtir efeito.

2. Incentivos Tributários e Aduaneiros

O Reintegra foi ampliado até dezembro de 2026, elevando as alíquotas para até 6% (micro e pequenas) e 3,1% (médias e grandes), proporcionando recuperação parcial das margens reduzidas pelas sobretaxas. O Drawback também foi prorrogado em até 12 meses, permitindo exportar produtos com insumos importados sem multas ou juros.

Para empresas capixabas que operam com contratos internacionais e insumos importados, como rochas ornamentais e aço, essas medidas ajudam a preservar margens e fluxos de produção. Porém, são soluções de curto prazo, que precisam ser combinadas com estratégias comerciais e operacionais de longo alcance.

3. Estímulo ao Mercado Interno e Compras Públicas

As compras públicas simplificadas permitem que governos em todas as esferas adquiram produtos afetados pelas sobretaxas para merenda escolar, hospitais e programas sociais, criando um canal imediato de escoamento da produção.

Para produtores capixabas de pesca, alimentos processados e agricultura familiar, essa medida pode absorver parte da demanda perdida no mercado externo. O desafio está na rápida adaptação dos processos de aquisição por parte de órgãos estaduais e municipais, garantindo que fornecedores locais tenham prioridade.

4. Proteção ao Emprego

A Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego e instâncias regionais foram criadas para monitorar impactos nas cadeias produtivas e evitar demissões. As câmaras também podem intermediar acordos coletivos e apoiar a manutenção de mão de obra qualificada.

Para empresas capixabas, participar dessas instâncias pode abrir acesso a programas de preservação de empregos e melhorar o diálogo com autoridades trabalhistas, principalmente em setores intensivos em mão de obra.

5. Comércio Exterior e Diplomacia Comercial

O plano reforça a diplomacia comercial com negociações em andamento com União Europeia, EFTA, Índia, Vietnã, Emirados e Canadá. A meta é diversificar mercados e reduzir a dependência das exportações para os EUA, abrindo espaço para reposicionamento estratégico de produtos brasileiros.

Para o Espírito Santo, essa agenda é fundamental, já que setores como café, aço, celulose e rochas ornamentais têm participação expressiva no mercado norte-americano. No entanto, novos acordos comerciais demandam tempo para serem concluídos, exigindo medidas internas imediatas para mitigar perdas no curto prazo.

6. Regulamentação e Implementação

A publicação da MP colocou em vigor o Reintegra ampliado, o Drawback prorrogado, as compras públicas simplificadas e as câmaras de emprego. Esses mecanismos já podem ser acessados pelas empresas, mediante cumprimento dos requisitos previstos.

Por outro lado, as linhas de crédito emergenciais e o adiamento de tributos federais aguardam regulamentação por atos do Conselho Monetário Nacional, Receita Federal e ministérios envolvidos. Até que isso ocorra, não é possível acessar esses benefícios. Recomenda-se que empresas capixabas preparem desde já sua documentação e articulem-se com entidades de classe para defender critérios condizentes com a realidade local.

Quadro 1 – Situação das Medidas do Plano Brasil Soberano:

Medida

Status

Observações

Reintegra ampliado

Em vigor

Alíquotas de até 6% (MPEs) e 3,1% (médias e grandes) até dez/2026.

Prorrogação do Drawback

Em vigor

Extensão de até 12 meses sem multas/juros para exportações.

Compras públicas simplificadas

Em vigor

Permite aquisição emergencial de produtos afetados para merenda, hospitais, programas sociais.

Criação das câmaras de emprego

Em vigor

Instâncias nacional e regionais já instituídas para monitorar e preservar postos de trabalho.

Linhas de crédito emergenciais

Aguardando regulamentação

Depende de atos do CMN; definirá juros, prazos e critérios.

Adiamento de tributos federais

Aguardando regulamentação

Depende de ato da Receita Federal; definirá setores elegíveis e prazos.

7. Impacto para o Espírito Santo

O Espírito Santo apresenta forte sensibilidade ao comércio exterior: café, aço, celulose, rochas ornamentais, alimentos e pesca são setores diretamente afetados pelas sobretaxas. A perda de competitividade nos EUA pode gerar impactos em emprego, arrecadação e investimento privado.

Medidas como o Reintegra e o Drawback ajudam a proteger margens e evitar paralisações, enquanto compras públicas podem sustentar demanda para segmentos voltados ao mercado interno. Entretanto, a real proteção dependerá do rápido acesso ao crédito e da capacidade de reposicionar exportações em novos mercados. O Estado precisa mobilizar seu setor produtivo, governo local e representação em Brasília para garantir que os mecanismos do plano sejam implementados com foco nas necessidades regionais.

Quadro 2 – Impacto Potencial por Setor no Espírito Santo:

Setor

Exposição aos EUA

Impacto Potencial

Medidas Mais Relevantes

Café

Alta

Perda de competitividade e margens; risco de queda nas exportações.

Reintegra, abertura de novos mercados, crédito emergencial.

Aço e metalurgia

Alta

Risco de redução de pedidos; aumento da concorrência global.

Drawback, crédito, diversificação comercial.

Celulose e papel

Média

Pressão sobre preços; necessidade de contratos alternativos.

Drawback, novos acordos comerciais.

Rochas ornamentais

Alta

Forte dependência do mercado norte-americano; margens estreitas.

Reintegra, crédito, abertura de mercados.

Pesca e alimentos processados

Média

Perda de mercado externo; risco de estoque.

Compras públicas, crédito, novos canais internos.

8. Instâncias de Proteção ao Emprego

O Plano Brasil Soberano instituiu a Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego, criada por portaria do Ministério do Trabalho e Emprego, para monitorar os empregos nas cadeias produtivas afetadas pelo tarifaço. Essa instância pública é responsável por acompanhar indicadores de emprego, assessorar negociações trabalhistas (como lay-offs e banco de horas) e atuar preventivamente, em conjunto com a Inspeção do Trabalho, visando evitar demissões em massa. Paralelamente, foram estabelecidas Câmaras Regionais de Acompanhamento do Emprego, vinculadas às Superintendências Regionais do Trabalho. Essas instâncias regionais têm funções semelhantes à nacional, mas com foco nas peculiaridades locais, sendo pontos de contato estratégico para empresas capixabas que desejem participar de mecanismos de preservação de postos de trabalho e diálogo com órgãos federais.

Quadro 3 – Instâncias de acompanhamento da manutenção do emprego:

Instância

Vinculação

Principais Competências

Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego

Ministério do Trabalho e Emprego

Monitorar indicadores de emprego; apoiar negociações coletivas; mediar conflitos trabalhistas; coordenar com a Inspeção do Trabalho

Câmaras Regionais de Acompanhamento do Emprego

Superintendências Regionais do Trabalho

Adaptar ações à realidade local; intermediar negociações; fiscalizar benefícios trabalhistas

9. Compras Públicas Simplificadas

As compras públicas simplificadas estão implementadas como uma das medidas emergenciais do Plano Brasil Soberano. Por meio da MP, o Governo autorizou a aquisição de produtos afetados pelas sobretaxas — como gêneros alimentícios — por União, estados e municípios para abastecer programas sociais, escolas e unidades de saúde. A medida objetiva criar um canal rápido e direto de escoamento da produção nacional, reduzindo perdas decorrentes de dificuldades de exportação. Com isso, o processo licitatório é flexibilizado — o que inclui dispensa de licitação ou procedimento simplificado — e permite que fornecedores locais, como os do Espírito Santo, concorram com menos entraves burocráticos e mais agilidade.

Quadro 2 – Implementação das compras públicas simplificadas:

Aspecto

Descrição

Benefícios para o ES

Produtos elegíveis

Bens afetados pelas sobretaxas, com prioridade para alimentos e insumos estratégicos

Oportunidade para agricultura, pesca e indústrias alimentícias locais

Modalidade

Processo simplificado ou dispensa de licitação

Menor burocracia e maior velocidade para fechamento de contratos

Destinação

Programas sociais, merenda escolar, hospitais e rede pública de saúde

Canal imediato para absorver excedentes de produção local

 
Assina a Nota Executiva ao associado do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (IBEF-ES), o economista-chefe, Felipe Storch Damasceno.

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