Os consumidores estão reduzindo o consumo de chocolate devido à crise do custo de vida na Europa e nos Estados Unidos, de acordo com novos dados e comentários de executivos das maiores empresas de chocolate do mundo.

Os volumes gerais de vendas no varejo de chocolate dos EUA caíram de 2% a 3% nos últimos dois meses, uma vez que os preços subiram na faixa "alta de um dígito, baixa de dois dígitos", disse a Hershey Co (HSY.N ) vice-presidente de relações com investidores Melissa Poole em entrevista à Reuters. O desempenho da Hershey acompanha de perto o resto da categoria de chocolate.

"Esperamos que à medida que avançamos ao longo do ano... veremos um pouco de recuo no volume", disse Poole. A Hershey já havia sinalizado que esperava um abrandamento na demanda. Até a recente queda, "os consumidores não reduziram muito o consumo", disse ela.

As vendas de chocolate, principalmente nos Estados Unidos, aumentaram junto com as compras de muitos produtos de consumo nos estágios posteriores da pandemia de coronavírus, com os compradores impulsionados pelos pagamentos de estímulo do governo e mantendo hábitos de "estilo de vida caseiro", como comprar a granel.

Mas as empresas de chocolate agora estão vendo algumas mudanças no comportamento do consumidor - por exemplo, os compradores escolhem barras de chocolate individuais no caixa em vez de embalagens múltiplas.

De acordo com o pesquisador de mercado IRI, com sede em Chicago, o volume vendido de produtos de chocolate nos Estados Unidos caiu 1,5% em relação ao ano anterior nas 13 semanas encerradas em 12 de junho, com os preços subindo 8,2%.

"Vamos ver o chocolate se tornando mais sensível ao preço. Os consumidores vão se tratar, mas serão tamanhos menores, um petisco pequeno. É por isso que você está vendo queda no volume (de vendas)", disse Daniel Sadler, diretor no IR.

Os dados do IRI também mostraram que os volumes de vendas de chocolates de marca própria ou de marca própria, uma parte menor do mercado geral que é mais barato que o chocolate de marca, cresceram 8% nos últimos seis meses.

Na Grã-Bretanha, os consultores da McKinsey descobriram que 40% dos britânicos trocaram por produtos mais baratos em lanches e confeitos nas quatro a seis semanas encerradas em meados de maio. 

O chocolate mais barato tem um teor de cacau menor, o que significa que, mesmo que os volumes de vendas dos fabricantes de chocolate permaneçam os mesmos em uma desaceleração, a demanda por cacau cairia.

A invasão russa da Ucrânia também impactou a demanda, dizem traders e especialistas, com os dois países juntos respondendo por 5% da demanda global normal de cacau.

Alguns fabricantes de chocolate, incluindo os grandes Lindt (LISN.S) e Nestlé (NESN.S) , se retiraram ou reduziram as vendas na Rússia este ano para protestar contra a invasão. Mas Lindt disse que o impacto desse movimento em suas finanças seria pequeno.

REDUÇÃO

Nos últimos meses, a Hershey tem usado seu novo centro de atendimento em Annville, Pensilvânia, para atender com mais facilidade e eficiência varejistas, como lojas de descontos em massa e lojas de dólar, cujos clientes são muito sensíveis ao preço, disse Poole.

“Para aqueles que têm dinheiro e espaço para armazenar sacolas maiores, o valor para eles é o preço por quilo mais barato”, disse Poole. "O valor para os outros pode ser algo 'acessível para mim' a um preço absolutamente mais baixo."

A Hershey, em certos casos, reduz o tamanho do pacote e mantém o preço semelhante - comumente conhecido como "shrinkflation" - para reter clientes que dizem ter apenas US$ 3 para gastar em um saco de chocolate Kisses, em vez de US$ 5 ou US$ 6, disse Poole. Ela não usou essa ferramenta "com tanta frequência quanto você imagina" por causa do tempo e do planejamento envolvidos, disse ela.

"A inflação tem sido tão significativa que dependemos mais dos aumentos de preços de tabela", disse Poole. Cerca de 20% dos produtos da Hershey's estão abaixo de US$ 2, abaixo dos 25% de abril.

No entanto, nos últimos 18 meses, a empresa eliminou alguns itens sazonais, disse Poole.

A contração, como a troca por chocolate mais barato, afeta a demanda de cacau, mesmo que os volumes de vendas do item permaneçam os mesmos.

Os fabricantes de chocolate originalmente esperavam que a demanda de cacau crescesse cerca de 2,5% este ano, mas agora estão vendo um crescimento de apenas 1%, seguido por nenhum crescimento no próximo ano se a inflação persistir e a guerra Rússia-Ucrânia continuar, dizem traders e especialistas.

A Mondelez, que fabrica os chocolates Cadbury e Milka, também "tomou a decisão de reduzir ligeiramente o peso de certos produtos", disse a porta-voz Tracey Noe por e-mail. As barras Cadbury Dairy Milk vendidas no Reino Unido agora são menores.

O CEO da Mondelez, Dirk Van de Put, disse no mês passado em uma conferência que a empresa está "fazendo tudo o que está ao seu alcance para se preparar para potencialmente um consumidor que reage" a aumentos de preços e uma recessão econômica, incluindo investir em publicidade. (Por Maytaal Angel e Jessica Di Napoli)

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