EDUCAÇÃO
Prefeitura do Rio identifica 430 alunos da rede pública de ensino superdotados.
Alunos desenvolvem habilidades no contra-turno.
Em 26/07/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
João Gabriel do Nascimento tem só 9 anos e nem gagueja para ajudar o repórter a escrever corretamente o complicado nome do colégio em que estuda:
— Escola Municipal Albert S-C-H-W-E-I-T-Z-E-R — soletra o aluno do 4º ano, filho de uma diarista e um pizzaiolo, moradores do Morro do Cerro Corá, no Cosme Velho.
O menino é um dos 430 estudantes identificados pela rede municipal de ensino como de altas habilidades. São crianças superdotadas ou que se destacam por liderança, capacidade criativa, artística ou psicomotora. Especialista no assunto, Cristina Delou, da Universidade Federal Fluminense, estima que o número desses supertalentos seja de 12 mil na rede — que tem 497.024 estudantes no ensino fundamental. Desde 2014, ela capacitou 200 professores do município para identificar os alunos com altas habilidades.
— Essa criança tem alta capacidade de observação, de análise, de lembrança da informação, de liderança. Tudo isso muito frequentemente — explica Delou.
A prefeitura criou um programa para os estudantes de altas habilidades desenvolverem suas capacidades no contraturno escolar. Algumas unidade da rede recebem alunos de diferentes colégios do entorno para o trabalho numa sala de aula chamada de sala de recursos, equipada com jogos livros e material de desenho para que desenvolvam sua capacidade de construir conhecimento, explica a Secretaria municipal de Educação.
João Gabriel — que, avisa logo, prefere ser chamado apenas de João — impressiona. O menino sonha virar goleiro do Flamengo, mas admite a carreira de advogado como uma possibilidade caso não cresça até 1,80m como uma pediatra prometeu a ele. O menino lembra que o desejo de defender o gol do time do coração nasceu numa terça-feira de abril de 2013, quando salvou uma bola quase indefensável durante a pelada na educação física com amigos. A sensação, ele explica, foi inesquecível.
— Aprendi a ler com 4 anos. Agora, estou tocando violino. Já sei duas músicas — conta.
A professora Claudia Feijó tem 13 alunos de altas habilidades na sala de recursos da Escola Municipal José de Alencar, em Laranjeiras. Lá, são atendidas crianças da 2ª Coordenadoria Regional de Educação (Zona Sul e Grande Tijuca). João é o caçula da turma.
Já Isabel Bojea-Silva, de 14 anos, foi a última a entrar. A pré-adolescente carioca vivia com os pais em Vancouver, no Canadá. Passou oito anos por lá e voltou em janeiro. Aluna da Escola Municipal Estácio de Sá, na Urca, ainda fala português com sotaque estrangeiro
— A escola no Brasil é muito conteudista. Aqui na sala de recursos a gente estuda como no Canadá, por projetos, refletindo mais — explica a jovem, que foi diagnosticada como superdotada ainda em Vancouver e estudava em salas especiais.
Quando a família voltou ao Rio, houve o temor de que a jovem não se adaptasse. A mãe, Tami Bogea, procurou escolas particulares, mas só encontrou na rede pública um programa especializado para altas capacidades.
— Eu proponho a atividade por meio de projetos. Agora, por exemplo, estamos estudando astronomia. Aqui não tem resposta certa. Eles constroem, têm que buscar alternativas, várias maneiras para resolver o problema. Aqui a gente busca a criatividade e a produção de conhecimento autônoma — conta a professora Claudia Feijó.
Parceria
Cerca de 330 estudantes de altas habilidades da rede já passaram das salas de recursos para projetos da iniciativa privada, como o Lecca (que prepara alunos de 3º e 4º anos para provas das escolas federais, como Pedro II), o Ismart (que dá bolsas para alunos dos últimos anos do ensino fundamental em colégios particulares) e o Rogério Steinberg (que desenvolve as potencialidades de estudantes superdotados).
A secretária de Educação da cidade, Helena Bomeny, afirmou que o projeto é para ajudar o aluno a “desabrochar e atingir outros patamares na vida acadêmica com muito sucesso”.
“É um mito achar que todo estudante superdotado é tímido”, explica a professora Claudia Feijó. Os estudantes com altas habilidades, segundo a especialista Delou, podem ser bagunceiros ou faltar muito, por desinteresse. É que o professor precisa repetir mais vezes para a turma o conteúdo que ele já entendeu. Isso acaba entediando o aluno que aprende muito rapidamente.
Para não ter esses problemas, a professora do ensino regular de João escolheu o menino para ser uma espécie de monitor para a turma. “Assim, ele ajuda as outras crianças e fica envolvido nas atividades dentro da sala”, diz Feijó.
Na sala de recursos, as aulas de Claudia Feijó são divididas entre as atividades propostas por ela e uma parte livre. Nesse momento, as crianças são livres para desenvolver atividades ou só brincar.
Além dos professores, os próprios alunos acabam reconhecendo outros colegas com altas habilidades. “Eles se identificam. Por isso, gostam de vir para cá”, conta a professora Claudia Feijó.
Fonte: Extra