ESPORTE NACIONAL
Preparação e estudos apontam nova tendência dos treinadores brasileiros.
Profissionais ligados ao futebol buscam evolução em cursos.
Em 05/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Felipe e Pedrinho foram confirmados como técnico e auxiliar, respectivamente, do Tigres para a disputa do Campeonato Carioca de 2017. Formados nas categorias de base do Vasco, e com uma larga experiência no futebol, eles vão dar o pontapé inicial na preparação da equipe para o Estadual. Porém, ambos fazem parte de uma rotina cada vez mais comum entre ex-jogadores, técnicos e profissionais ligados ao futebol: a preparação com base em estudos e cursos. Passaram pela sala de aula da CBF e pegaram o diploma de treinador. A entidade concentra atualmente vários cursos voltados para o esporte, a preparação e a especialização, e pretende tornar obrigatório até 2020 a cobrança do diploma para treinadores trabalharem no futebol brasileiro.
Atualmente não é obrigatório o certificado de treinador formado em cursos da CBF, ou outros, para comandar clubes nas principais divisões do futebol brasileiro, nem no trabalho com a base. Maurício Marques, coordenador do curso de técnicos da CBF, explica que há uma questão jurídica em andamento entre Sindicatos de Treinadores, Conselhos de Educação Física e outros órgãos que não têm um caminho em comum para essa decisão. Porém, ele deixa claro que a entidade máxima do futebol brasileiro trabalha para capacitar os profissionais e qualificar a entrada dos mesmos no mercado do futebol. Por conta disso, estipulou somente para 2020 o período que considera ideal para exigir a carteira de treinador.
- Esses cursos acontecem desde 2009. Até 2012 era em parceria com uma universidade de Minas Gerais, três cursos por ano. Esse ano serão 14, e esperamos que no ano que vem possamos oferecer 20 cursos. Até 2020, mais de quatro mil profissionais devem ser qualificados para comandar clubes de todas as divisões, além da base. A partir de 2020 queremos tornar obrigatório no currículo. Como acontece no mundo todo, em poucos países não há certificado - explicou ao GloboEsporte.com.
A CBF oferece três cursos para treinadores que desejam trabalhar desde a base até o futebol profissional (veja mais ao lado). Para iniciar o trabalho com crianças em escolinhas, o curso que está com inscrições em andamento é o chamado de licença C. O custo para pagamento à vista é de R$ 5.004,00. Já o licença B sai por R$ 7.250,80. O mais caro é o licença A: R$ 8.227,00 à vista.
Um dos cursos de técnicos mais conhecidos do mundo é o Uefa Pro Licence. Questionado sobre o que a CBF segue do currículo da entidade europeia, Maurício Marques afirma que também usou este curso como parâmetro para formar a grade curricular do curso brasileiro. Além disso, ele deixa claro que está em andamento via Conmebol o processo para o diploma brasileiro ser aceito na Europa (para trabalhar em clubes das principais ligas do continente é preciso ter um curso de técnicos reconhecido pela entidade):
- Construí o currículo em cima do curso da Uefa e dos melhores cursos do mundo. Os nossos respondem tecnicamente à Uefa. A Conmebol não tinha esses cursos, mas já tem aprovada uma convenção para que os países do continente possam ter acesso ao material e aos cursos. Só falta um acordo institucional entre Conmebol e Uefa para o nosso ser reconhecido.
Para "apimentar" e dar uma base ainda maior aos cursos, a CBF convida estrangeiros para palestras e aulas práticas. De acordo com Maurício Marques, a troca de informações e o intercâmbio de ideias têm sido muito importante para os "alunos" brasileiros. Porém, deixa claro que o objetivo não é copiar ou seguir ideias de outros países, mas avaliar o que pode ser utilizado no Brasil e aperfeiçoar com a qualidade dos jogadores brasileiros.
Um dos alunos do último curso Licença A da CBF, feito para profissionais que atuam ou pretendem atuar como treinador em equipes profissionais do Brasil, foi PC Gusmão. Ele será o técnico do Marítimo na próxima temporada. Apesar de o curso brasileiro ainda não contar com o reconhecimento da Uefa, ele acabou sendo fundamental para a contratação do treinador.
- Cada caso é avaliado de uma forma. No caso do PC, enviamos toda a grade do curso que ele fez para a Conmebol, que é quem trata diretamente com a Uefa. Faltam alguns trabalhos e vamos enviar os certificados para que ele possa trabalhar na Europa - disse Maurício Marques, relatando que em países da Ásia, além dos Estados Unidos, o diploma de técnico da CBF já está liberado.
PC Gusmão quer aproveitar sua passagem pelo Marítimo para abrir as portas para mais treinadores brasileiros na Europa. Aos 54 anos, e com passagens por grandes clubes do país como Cruzeiro, Vasco, Fluminense e Flamengo, ele terá a primeira oportunidade na Europa. E considera fundamental esse novo horizonte de preparação e estudos para os técnicos.
- É um trabalho de uma temporada, com opção de renovação por mais uma. É na Europa, e nosso momento não é bom, do futebol brasileiro. Mas existem grandes jogadores e treinadores. No futebol, tudo é um ciclo, como na vida, e esse momento favorece até mesmo aos treinadores portugueses no mercado internacional por grandes trabalhos. Me sinto um privilegiado de estar indo para lá, conhecendo esse novo momento que Portugal vem vivendo. Tem a facilidade do idioma, esse intercâmbio. Espero fazer uma grande competição para abrir esse mercado para grandes companheiros. É muito importante (estudar e se preparar). Tivemos aulas da escola alemã, portuguesa. Eles não vieram ensinar, mas passar como as coisas estão sendo feitas por lá. É uma experiência fantástica, porque passamos por uma reciclagem. É uma nova etapa, temos a facilidade de troca de informações. Saio com uma cabeça completamente diferente da que cheguei.
"Mais novos" no banco de reservas do que PC Gusmão, Felipe e Pedrinho aproveitaram cada momento dos ensinamentos e trocas de informações que tiveram no curso na Granja Comary, em Teresópolis. Ambos fizeram a licença B e avançaram ao cursarem a licença A para trabalharem em equipes profissionais. Com formação ligada ao futsal, e uma habilidade muito apurada, Felipe já tem até em mente o estilho de jogo que pretende implementar em suas equipes. Além disso, vibra com essa nova tendência entre os profissionais ligados ao futebol, que buscam cada vez mais uma preparação adequada para as necessidades do esporte:
- Muito gratificante o curso. Muito importante para o conhecimento, é claro que o curso mais importante que fiz na vida foi durante os 20 anos que vivenciei o futebol de alto rendimento. O futebol profissional. Isso que me deu a base, junto com o curso, para que eu possa me tornar um treinador mais completo. É o casamento entre a vivência do futebol e o estudo. Mas não adianta o cara parar em um dia e virar treinador no outro. Ele vai ter o conhecimento, mas não estará qualificado ao máximo para exercer a função. Como também o universitário terminar a faculdade e ir direto para o futebol. Isso tudo é muito importante para a evolução do futebol. E mudar nossa cultura, que é imediatista. Os melhores trabalhos no futebol têm sido a longo prazo, como Tite e Fernando Diniz. Gosto muito do estilo do Fernando Diniz, não entendo a falta de oportunidade para ele em equipes grandes. Faz um trabalho fantástico.
Pedrinho, por sua vez, avalia que é preciso se preparar para tirar do papel e organizar ideias e metodologias. Ele já teve uma oportunidade de ficar no banco de reservas do Cruzeiro ao lado do então treinador David:
- Tem sido muito importante pela seriedade dos diversos palestrantes que vêm de lugares diferentes. Minha procura pelo conhecimento é por alguns fatores. Nunca quis usar meu nome para me beneficiar de algum cargo, queria estar preparado. E tenho muitas ideias, e precisava organizar. Quando jogávamos, não tínhamos tempo para organizar e elaborar novas metodologias de trabalho.
Globo Esporte