POLÍTICA INTERNACIONAL
Presidente interina da Bolívia já nomeou 11 ministros
Jeanine Añez no Palácio Quemado após se proclamar presidente interina da Bolívia.
Em 14/11/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, designou nesta quarta-feira (13) seus primeiros 11 ministros, de um total de 20, um dia após assumir o poder após a renúncia de Evo Morales, que se asilou no México.
Na nova equipe se destacam a acadêmica e diplomata Karen Longari como chanceler, e o senador de direita Arturo Murillo como ministro do Interior.
“Vamos à caça de Juan Ramón Quintana (ministro da Presidência de Morales), porque é um animal que se alimenta de sangue”, anunciou Murillo após tomar posse.
Quintana é acusado de ser o “cérebro” das ações contra a oposição, especialmente a guerra suja que supostamente realizava o governo do ex-presidente de esquerda.
Já Añez afirmou que “o trabalho principal da nossa administração será restabelecer a paz social”.
A onda de protestos contra e pró-Morales já deixou 10 mortos e 400 feridos na Bolívia, segundo números oficiais.
Para ministro das Finanças foi nomeado José Luis Parada, assessor econômico do governo de Santa Cruz, rica região oriental e bastião opositor a Morales.
O novo ministro da Presidência é Jerjes Justiniano, um advogado ligado ao líder cívico promotor dos protestos contra Morales, Luis Fernando Camacho.
A pasta da Defesa coube ao consultor de marketing Fernando López Julio, e a da Comunicação à jornalista Roxana Lizarraga.
Na mesa onde estava sentada a presidente durante a cerimônia de posse, no Palácio Quemado, havia um crucifixo, duas velas acesas e uma Bíblia.
“Este Conselho de Ministros que é apresentado hoje de forma parcial (…) inclui pessoas conhecedoras e especializadas de perfil técnico, como corresponde a um governo de transição”, destacou Añez em seu discurso.
A presidente reafirmou que o outro desafio do governo é convocar novas eleições o mais rápido possível.
“Não aceitarei qualquer outra saída que não sejam eleições democráticas”, já havia afirmado Añez, uma senadora de direita de 52 anos, até então pouco conhecida nacionalmente.
“Convidaremos a Organização dos Estados Americanos e a União Europeia” como observadoras das eleições, disse a nova chanceler Longari, única integrante do gabinete que falou durante a cerimônia de posse.
“Faremos o necessário para deixar uma política externa estruturada”, destacou Longari, acrescentando que a Bolívia assumirá um papel “ativo” na diplomacia latino-americana.
Uma das primeiras ações de Añez nesta quarta-feira foi designar uma nova cúpula militar, que terá como comandante das Forças Armadas o general do Exército Sergio Carlos Orellana, que ocupa o lugar do general Williams Kaliman, que passou à reserva.
O general Kaliman, nomeado chefe das Forças Armadas há um ano, se negou a enviar militares para reprimir os protestos e a revolta policial contra Morales, deflagrada na sexta-feira passada.
O “Estado é necessário mais do que nunca para manter a paz”, disse Orellana em um discurso no qual pediu aos seguidores de Morales que “deponham suas atitudes intransigentes”.
A presidente também nomeou o novo chefe do Estado-Maior, e os novos comandantes do Exército, Marinha e Força Aérea.
Áñez elogiou “a disposição democrática das Forças Armadas e da Polícia”, que abandonaram Morales, o que precipitou sua renúncia horas após a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgar um relatório recomendando a anulação das eleições de outubro.
O novo gabinete assume após três semanas de greves e manifestações deflagradas pelas eleições de 20 de outubro, questionadas pela oposição.
Golpe e contragolpe
Ao nomear a nova cúpula militar, a presidente afirmou que “não há golpe de estado na Bolívia, há sim uma reposição constitucional”.
“O único golpista deste país foi Evo Morales”, disse Añez, em referência à decisão do ex-presidente de ignorar o resultado do referendo que negou sua reeleição indefinida, em 2016, e da suposta fraude na apuração das eleições de 20 de outubro.
No México, Morales voltou a denunciar “o golpe” e declarou, em entrevista coletiva, que “se meu povo pedir, estamos dispostos a voltar para apaziguar, mas é importante o diálogo nacional”.
“Vamos voltar cedo ou tarde. Quanto antes melhor para pacificar a Bolívia”, declarou o ex-presidente.
“É importante o diálogo nacional. Sem diálogo nacional, estou vendo que vai ser difícil deter este confronto”, acrescentou sobre a violência que persiste no país.
Na tarde desta quarta-feira, a tensão voltou a subir em La Paz, onde partidários de Morales enfrentaram a polícia e militares, que utilizaram ao menos um blindado na repressão.
No povoado de Yapacaní, na região da cidade de Santa Cruz, um jovem de 20 anos morreu com um tiro na cabeça em um confronto com a polícia, durante uma manifestação pró-Morales.
Em declarações no Twitter, Morales disse que “o golpe de Estado que provoca mortes dos irmãos bolivianos é uma conspiração política e econômica que vem dos EUA”.
Na noite desta quarta-feira, o secretário americano de Estado, Mike Pompeo, reconheceu formalmente Añez como a nova presidente da Bolívia.
“Os Estados Unidos aplaudem a senadora boliviana Jeanine Áñez por tomar posse como presidente interina para guiar a nação nesta transição democrática, sob a Constituição da Bolívia”, destacou Pompeo.
O secretário de Estado disse que espera trabalhar com a Bolívia e seu povo “enquanto preparam eleições livres e justas, o mais cedo possível”. AFP