SAÚDE
Procura pela vacina contra HPV cai pela metade em relação a 2014.
Dados inéditos mostram queda de 83% para 40% no índice de vacinação.
Em 30/05/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A procura pela vacina contra o HPV na rede pública brasileira caiu pela metade em relação ao ano passado, aponta um balanço inédito do Ministério da Saúde.
Neste ano, entre o início de março (quando foi lançada a campanha) e o dia 21 de maio, 40,2% das meninas que formam o público-alvo do ministério para se prevenir gratuitamente contra o vírus tomaram a vacina. Em 2014, no mesmo período, 83% da população-alvo já havia se vacinado – ao longo do ano todo, 100% da meta foi atingida. Nos dois anos, o público-alvo foi fixado em cerca de 4,9 milhões de pessoas.
Este é o segundo ano em que a vacinação contra o vírus está disponível gratuitamente no país. Desta vez, a faixa etária foi alterada: garotas entre 9 e 11 anos têm direito à imunização – no ano passado, a faixa etária era entre 11 e 13 anos (as que não se vacinaram em 2014 ainda podem procurar os postos de saúde, apesar de já não fazerem parte do grupo que atualmente é foco do ministério). A vacinação, que previne o câncer de colo de útero e verrugas genitais, vai até o mês de dezembro.
Causas da diminuição
A menor ocorrência de vacinações em escolas, o fato de a imunização não ser mais novidade e a divulgação nas redes sociais de supostos malefícios da vacinação são apontados pelo ministério e por três especialistas ouvidos pelo G1 como responsáveis pela queda na procura.
Segundo Antônio Nardi, secretário de Vigilância em Saúde do ministério, no ano passado houve mais campanhas em escolas, o que comprovadamente aumenta a cobertura, já que assim a vacina vai até o público-alvo. “Neste ano, como a vacinação já foi absorvida pela rotina das UBS [unidades básicas de saúde], muitos municípios optaram por não levá-la às escolas e mantê-la apenas na rede de saúde”, diz.
Nardi afirma que após ver o resultado desse primeiro trimestre de vacinação, o ministério tem pedido às secretarias estaduais e municipais que reavaliem as estratégias adotadas e intensifiquem a campanha.
O secretário também acredita que o fato de a vacina não ser mais novidade, como no ano passado, contribuiu para a menor procura. “A vacina existia apenas em clínicas particulares. Logo que foi inserida na rede pública, os pais quiseram vacinar rapidamente suas filhas, até por medo de faltar, de acabar. Depois que deixa de ser novidade há uma acomodação natural”, afirma.
Para o cirurgião oncológico Glauco Baiochi Neto, diretor de ginecologia do A.C.Camargo Cancer Center, o assunto tinha mais visibilidade no ano passado. “Houve uma grande divulgação sobre a importância da vacina antes do lançamento da campanha. Depois as ações de conscientização diminuíram”, afirma.
Medo nas redes sociais
Segundo o ministério e os médicos ouvidos para a reportagem, a divulgação de informações sem embasamento científico nas redes sociais também teve um papel na diminuição da procura pela vacina, já que causou medo em alguns pais e meninas.
Sites, páginas no Facebook e vídeos no Youtube questionam a eficácia e a segurança da vacina e citam casos de meninas que teriam sofrido problemas de saúde após se vacinarem contra o HPV. De acordo com os especialistas, porém, nenhum efeito colateral grave foi comprovadamente atribuído à vacina até hoje.
“Têm sido espalhadas informações não embasadas nas redes sociais, em que são atribuídos riscos e complicações não comprovados à vacina”, diz o ginecologista Mauricio Abrão, professor da Faculdade de Medicina da USP e representante da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) no Hospital Sírio Libanês.
Para Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, a repercussão do caso de adolescentes do litoral paulista que desmaiaram e tiveram outros sintomas ao tomar a vacina em setembro de 2014 contribuiu para a desinformação.
“Quando situações inesperadas acontecem após a aplicação de uma vacina, os pacientes tendem a atribuir o quadro à vacinação. Mas todas as possíveis reações severas notificadas até hoje foram investigadas e a relação causal foi descartada”, garante ela. “Infelizmente levamos anos para consolidar uma imagem positiva e a perdemos em segundos”, acrescenta.
Veja abaixo algumas perguntas e respostas sobre a segurança da vacina contra HPV.
O que é o HPV?
O papilomavírus humano (HPV) é um vírus que infecta a pele e mucosas e pode causar câncer do colo de útero e verrugas genitais. Ele é altamente contagioso, e a sua transmissão acontece principalmente pelo contato sexual.
Como a vacina age?
Ela protege contra os tipos 6, 11,16 e 18 de HPV. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por cerca de 70% dos cânceres de colo do útero e os tipos 6 e 11, por 90% das verrugas genitais.
A vacina é eficaz?
Sim. Estudos com mais de 20 mil mulheres atestaram a eficácia da vacina antes de ela entrar no mercado. Países na Europa e nos Estados Unidos já estão verificando uma redução da prevalência dos casos de câncer de colo de útero na população vacinada.
Médicos ressaltam, porém, que mesmo mulheres que tomam a vacina devem continuar fazendo exames preventivos como o papanicolau.
A vacina é voltada apenas para meninas que já iniciaram a vida sexual?
Não. Quanto mais precoce a aplicação, melhores são os resultados. Segundo os especialistas, a teoria de que a vacina poderia antecipar a vida sexual ou incentivar comportamento de risco foi cientificamente descartada.
A vacina é oferecida gratuitamente para meninas de qual idade?
A vacina é oferecida no sistema público para meninas de 9 a 13 anos. Mulheres com HIV entre 9 e 26 anos também têm direito a se vacinar.
A vacina é segura?
Sim, os estudos existentes apontam que ela é segura.
A vacina pode causar algum efeito colateral?
Os efeitos colaterais são pouco frequentes (ocorrem em 10% a 20% dos casos) e leves: dor, inchaço e vermelhidão no local da injeção. Segundo os especialistas, mais de 200 milhões de doses já foram aplicadas em todo o mundo e não houve nenhum evento colateral grave associado à vacina.
Em 2014, algumas adolescentes de Bertioga (SP) relataram que desmaiaram e tiveram paralisia nas pernas depois da vacinação. A vacina contra o HPV pode ser a causadora?
Na época, após as jovens passarem por exames neurológicos, a secretaria de Saúde do Estado de SP descartou qualquer relação dos sintomas com a vacina. Segundo Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, o que ocorreu foi uma reação de ansiedade pós-vacinação, que não é incomum em pessoas dessa faixa etária. "A causa, portanto, não foi a vacina, mas o ato de vacinar”, afirma.
A vacina pode causar infertilidade?
Não. Correntes antivacina costumam citar um trabalho australiano que relata um caso de falência ovariana em uma adolescente que tomou a vacina do HPV. Mas, segundo os especialistas, não foi demonstrado que a vacina foi a causadora do problema, e a associação causal entre as duas coisas é incorreta. Os médicos afirmam que não houve nenhum caso comprovado no mundo de infertilidade devido à vacina.
Para que servem a segunda e a terceira doses?
A segunda e terceira doses reforçam a proteção. No caso das garotas menores de 15 anos, duas doses são protetoras e a terceira pode aumentar a eficácia em longo prazo. As maiores de 15 anos devem, necessariamente, receber três doses.
Quando é preciso tomar a segunda e a terceira doses?
Segundo o esquema adotado pela rede pública brasileira, a segunda dose deve ser tomada seis meses após a primeira. Já a terceira dose deve ser tomada 60 meses (ou seja, 5 anos) após a primeira dose. Quem não tomou a segunda e a terceira doses no período indicado pode tomar mesmo assim.
Onde é possível tomar a vacina?
A vacina contra HPV está disponível em 35 mil salas de vacinação pelo país, localizadas em lugares como as UBSs (unidades básicas de saúde) e hospitais.
Fontes: Glauco Baiochi Neto, cirurgião oncológico e diretor de ginecologia do A.C.Camargo Cancer Center; Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações; Mauricio Abrão, professor da Faculdade de Medicina da USP e representante da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) no Hospital Sírio Libanês