EDUCAÇÃO

Psicopedagoga do ES fala sobre preparação e emoções pré-Enem.

Estudantes que vieram de Castelo sentem falta da família.

Em 23/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A menos de 20 dias para as provas do Enem, estudantes do Espírito Santo falam de cansaço, nervosismo, abdicação de lazeres e saudade da família.

Neste ano, as provas serão realizadas nos dias 5 e 6 de novembro. No primeiro dia, sábado, o candidato terá 4 horas e 30 minutos para responder questões de ciências humanas e de ciências da natureza. No domingo, ele terá 5 horas e 30 minutos para as perguntas de linguagens, códigos e suas tecnologias, matemática e redação. Os locais de prova já podem ser acessados no site no Inep.

A psicopedagoga Cheila Mussi, representante da Associação Brasileira de Psicopedagogia no estado, disse que os sentimentos de ansiedade, insegurança e tensão antes de um desafio como o Enem são normais. Apoio de pessoas próximas, tempo para relaxar e autoconhecimento são importantes para melhorar o desempenho, segundo a profissional.

“Nas vésperas, tudo é mais difícil. Na verdade, essa preparação para a prova, para qualquer desafio, é sempre um processo. Todos esses sentimentos fazem parte desse processo. Mesmo que haja um preparo cognitivo muito bom, esses sentimentos podem interferir no resultado. Tem que ir confiante, mas não dá para ir confiante se não tiver o preparo”, explicou.

A psicopedagoga também fala que parte do processo de aprendizado se baseia no autoconhecimento. O estudante precisa conhecer as suas habilidades e limitações para alcançar melhores resultados.

“É importante pensar no processo. Processo do autoconhecimento, processo de entender seus recursos, processo de desenvolver suas habilidades e possibilidades. Muitas pessoas desconhecem isso. Esse processo, além do 'estudar', também se aprende. A gente precisa buscar conhecer a forma de aprender”, disse.

Longe de casa
Em busca de melhores condições de estudo, muitos alunos saem do interior do estado para morar em Vitória. A mudança é um exercício de responsabilidade e dedicação, e estar longe da família na reta final pode ser doloroso.

O dinheiro investido na escola e os custos da vida de estudante na capital acabam sendo uma motivação a mais para Bianca Ambrosim Louzada e Luma Nicoli Faião, que são de Castelo, no Sul do estado.

Por causa da preparação para o Enem, Bianca, que vai tentar medicina, está há dois meses sem ir para a cidade. Ela mora numa república em Vitória, com outras pessoas de Castelo. Apesar de adorar morar na capital, a estudante sente saudade da família.

“Quando passo mal, fico sozinha. Às vezes, quero conversar e minha mãe não gosta muito de falar por telefone”, desabafou.

A estudante, que ama esportes, também diminuiu o número de atividades. No ano passado, ela chegou a fazer quatro: muay thai, natação, handebol e musculação. Agora, com pouco tempo disponível, ela faz musculação e corre na praia.

Para não se distrair, Bianca procura estudar na biblioteca da escola quando há menos gente e assiste a algumas aulas à noite. Em casa, ela encontrou na internet uma maneira de estudar que agradou.

“Eu estudo pelo site do MEC, vendo video-aulas. Com a internet, fica mais fácil estudar. Se você quiser, pode estar sempre estudando”, contou.

Luma mora com as primas e a irmã, mas tenta ir pelo menos uma vez por mês para Castelo para matar a saudade dos outros familiares. Em busca de uma vaga no curso de odontologia da Ufes, ela estuda diariamente até as 17h30 e faz musculação nas horas vagas.

Apesar de estudar várias horas por dia, a aluno admitiu que, às vezes, parece que não vai lembrar do conteúdo na hora das provas. “É muita pressão. Às vezes, dá vontade de largar tudo e voltar”, declarou.

Dica: buscar poio afetivo
Nesses momentos, segundo Cheila, é muito importante ter o apoio das pessoas próximas. Para quem percebe que tem grande dificuldade em lidar com esses sentimentos, ela recomenda a busca de ajuda profissional pelo menos três meses antes do exame.

“A gente precisa pensar que essa situação é sempre um desafio com vários componentes. A forma de estudo que os cursinhos e escolas propõem gera muita pressão. Além do desempenho de cada um, uma das coisas mais importantes é o apoio da família ou de pessoas próximas. Junto não significa estar do lado. É fundamental ter uma pessoa que possa ouvir e compreender esses sentimentos”, falou.

É papel dessas pessoas, também, ajudar na organização do estudante. “Se alguém vai para a balada, não estuda, a pessoa vai dizer que ela precisa estudar. Se não tem alguém na família que possa fazer isso, eles podem buscar um profissional que possa ajudar”, disse.

Dupla jornada de estudo
Maria Clara Peres está no pré-vestibular e se prepara para cursar Engenharia Civil. Além de estudar no Colégio União de Professores (UP) durante a manhã, à tarde ela cursa o ensino médio integrado no Ifes.

Para dar conta da dupla jornada, a estudante contou que muitas vezes perde a última aula da manhã e almoça no carro para chegar a tempo para a aula da tarde.

“Estou muito ansiosa. Eu só quero que chegue logo o Enem. Estou esgotada”, desabafou.

Depois da aula do Ifes, que termina às 18h10, ela vai para casa e estuda até a hora de dormir. Por causa dessa rotina, Maria Clara não tem tempo nem para assistir a novelas.

“Amava ver novela, mas neste ano não consegui ver nenhuma. Minha televisão quebrou e eu não consertei, para não correr o risco”, disse.

Dica: buscar tempo para si
A psicopedagoga frisa que é sempre importante ter um tempo para si. O aprendizado é um processo e a véspera da prova é hora de revisar.

“Precisa sempre de um tempo para si. Não dá pra ficar o tempo todo envolvida com isso. À medida que vai se aproximando, você vai fazendo um check list, aí você vê o que precisa revisar. Véspera de prova não é dia de estudar. É preciso distrair para ter condição de focar”, disse.

“É como a gente procurar os erros num jogo de sete erros ou uma peça na montagem de um quebra-cabeça. Quando você sai daquele ambiente, dá uma volta e retorna, parece que aquela peça, que parecia não estar ali, apareceu de repente. É mais ou menos isso que acontece no estudo. Precisa desfocar, distrair, para conseguir retomar”, exemplificou.

Para amenizar a tensão da dupla jornada, o ideal é buscar distrações quando não está em horário de aula. “Quem tem dupla jornada, precisa de um tempo para se distrair no final de semana, por exemplo. Ir a uma festa, um cinema, é necessário”, recomendou Cheila.

Fonte: g1-ES