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Quase um ano após tragédia, cidades do ES querem evitar novas mortes

Temendo o pior, municípios que registraram mortes estocam produtos de higiene e limpeza.

Em 27/10/2014 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O período chuvoso começa a partir do fim de outubro com as chuvas mais significativas adentrando o mês de novembro, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). As estimativas são de um mês de novembro com aumento na quantidade de chuvas em todo o Estado. O que faz com que todos os municípios comecem a se preparar para catástrofes como a do ano passado, em dezembro que deixou 54 municípios afetados pelas águas, desabrigou mais de 60 mil e matou 24 pessoas. A presidente da República, Dilma Rousseff, veio a Vitória na véspera de natal e sobrevoou as áreas afetadas entre elas a região serrana, umas das mais atingidas pelas chuvas.

Temendo o pior, municípios que registraram mortes, como Baixo Guandu, três vítimas, Colatina oito, Itaguaçu, seis, Barra de São Francisco, quatro, Domingos Martins, Pancas e Nova Venécia contabilizaram um óbito cada, estocam produtos de higiene e limpeza, fazem planos de contingência, treinamentos de pessoas, e até simulações de enchentes, e após quase um ano continuam se reconstruindo de uma das maiores tragédias capixabas. 

No entanto, cada um desses municípios que tiveram passarelas, pontes, escolas, muros, casas destruídas e vidas perdidas até o momento dizem que não recebeu nenhum recurso em dinheiro seja do Estado ou do Governo Federal.

Em Itaguaçu o município se prepara com um simulado de enchente em um dos bairros mais afetados no ano passado. Segundo o prefeito Darly Dettmann o simulado vai reunir várias secretárias e a Defesa Civil municipal para demonstrar como proceder em caso de alagamentos. 

“Vamos mostrar como funciona o sistema de comunicação de alarme, para onde as pessoas irão se dirigir, onde elas devem buscar alimentos e medicamentos, os abrigos para se proteger”, destacou o prefeito. Pontes, bueiros, manilhas, tanto a zona rural, quanto a urbana foram devastadas pela enchente. 

Cerca de 70% da cidade já foi reconstruída, pelo menos 50 pontes de madeira foram recuperadas com recursos do próprio município que agora passa por uma situação de caixa empobrecido. “Deus vai nos ver com os olhos mais complacentes, se acontecer tudo de novo, não sei o que vai ser de nós”, desabafou o prefeito. 

Em Baixo Guandu a Defesa Civil está fazendo um trabalho de conscientização junto aos moradores que vivem em áreas de risco. E as famílias são orientadas a deixarem as casas em caso de fortes chuvas. A prefeitura também tem feito a limpeza de canais, bueiros, desobstrução de calhas, galerias, drenagem de córregos, alargou estradas e fez contenções para evitar, por exemplo, o isolamento que aconteceu no distrito de Ibituba, que ficou duas semanas com acessos apenas por helicópteros. 

A administração calcula um prejuízo de mais de R$ 85 milhões, e o Governo Federal aprovou apenas R$ 2.800.000,00 que serão destinados para a construção de pontes e bueiros. 

No município de Colatina as áreas de risco continuam sendo monitoradas regularmente, são 35 mapeadas e identificados por grau de risco. Mais de 10% da população colatinense está em zona de risco. Lá ainda existem 350 famílias fora de suas casas, dessas 280 vivem no aluguel social até hoje. A esperança para elas é a aceleração do programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. Segundo o prefeito Leonardo Deptulski as obras estão licitadas e parte dos R$ 24,5 milhões do Ministério da Integração já foi aprovado para recomeçar as obras. 

“Tem que ter muita fé em Deus e torcer para não ter tanta chuva concentrada novamente. Mas estamos mais preparados porque monitoramos as áreas de risco, fazemos visitas periódicas e vemos como estão as trincas do solo”, relatou o prefeito Deptulski. 

Outro município que sofreu com as tempestades do ano passado foi Nova Venécia, que agora se prepara dando mais atenção para as populações das áreas acidentadas e ribeirinhas. Um programa de trabalho designa tarefas especificas para cada secretaria, ações de conscientização para a população e a abertura da comporta da represa na altura do Centro Cultural Casarão, limpeza de bueiros e do leito do Córrego da Serra são medidas em andamento. 

No interior, os produtores rurais são orientados a baixar o nível das represas em caso de chuvas torrenciais. O vice-prefeito e secretário de Agricultura, Theomir Bassetti Filho, explicou que 100% das estradas foram reconstruídas, mas ainda há pontes a espera de recuperação. “O município está mais bem preparado, estamos antevendo os problemas que as chuvas podem causar esse ano”, disse Theomir.

Barra de São Francisco que teve quatro mortes, é um dos municípios que não recebeu verba do governo Estadual ou Federal até o momento e segue reconstruindo a cidade com recursos próprios. Lá uma força tarefa está sendo montada incluindo todas as secretarias do município e os moradores. De acordo com o secretário de Defesa Social Reinaldo Neri, moradores que tem barco estão sendo convocados para ajudar em caso de enchente. “Também estamos conversando com os trilheiros de motos, para que eles possam levar água e medicamentos”, destaca Neri.

As áreas de risco seguem monitoradas e os rios passam por limpezas. Árvores estão sendo podadas e a população ribeirinha recebe mais atenção. “Deus ajude que não venha uma chuva como essa novamente, é torcer para Deus mandar uma chuva mais calma”, falou o secretario de defesa social de Barra de São Francisco.

Pancas no noroeste foi uma das cidades que foi castigada do ano passado e teve uma morte causada pelas chuvas. Lá as equipes da defesa civil já começam a ficar em constante alerta, veículos e maquinários estão à disposição e uma reserva financeira está ficará a disposição para causas emergenciais na cidade. “Faltou recurso, não recebemos nada ainda, nem metade do que foi destruído foi reconstruída”, afirma Diego Garcia do Nascimento coordenador da Defesa Civil de Pancas.

A última cidade que teve morte causada pelas chuvas foi Domingos Martins na região serrana do Estado, que também espera por recursos financeiros que não chegaram até o momento. O município realizou com recursos próprios reconstrução de estradas e pontes, mas ainda há outras pontes e encostas que não foram recuperadas.

Grande Vitória 

Vila Velha um dos municípios mais atingidos da Grande Vitória teve vários bairros inundados, que ficaram até dez dias isolados sem entrada ou saída de carros e moradores. Uma estação com sete bombas foi instalada no Canal de Guaranhuns um dos locais mais afetados pelas chuvas, além disso, nove pluviômetros foram distribuídos por toda a cidade, para monitorar o volume de chuva que cai, auxiliando no trabalho de previsões climáticas. 

Obras na Bacia de Cocal e Jaburuna, trocas de manilhas para dar maior vazão as águas, limpeza e derrocagem no Canal da Costa, obras no Canal do Congo e na Bacia de Aribiri fazem parte do trabalho de reconstrução. Por lá as equipes da Defesa Civil foram equipadas com galochas, capas de chuvas e novos veículos. Colchões, cobertores e cestas básicas estão sendo adquiridas para enfrentar possíveis desastres. 

O prefeito Rodney Miranda comentou que a cidade foi reconstruída na medida do possível e que estão todos mais preparados do que no ano passado. “Investimos 100 milhões só em macrodrenagem, do nosso próprio caixa, o que acabou diminuindo nossa capacidade de investimento em outros projetos”, lembrou o prefeito.

Em Cariacica já são preparados mapeamentos com possíveis locais de abrigo e atendimento aos atingidos, campanhas de conscientização e obras de diminuição de impactos das chuvas. A Defesa Civil trabalha em plantão operacional 24 horas por dia com duas equipes diferentes, uma para atender os chamados da população e outra que atua numa frente de prevenção para buscar medidas para diminuir os estragos em desastres naturais. 

Segundo o coordenador da Defesa Civil, Inácio Daroz, em ocasiões de chuvas são colocadas lonas nas encostas mais críticas e um alerta é emitido aos moradores para que se desloquem a lugares mais seguros. O município recebeu recurso do governo do Estado de R$ 2.435.000,00, que atenderam 974 famílias prejudicadas pelas chuvas. Outra prioridade foi a limpeza dos canais, 130 foram limpos até esse mês e três muros de contenção de encostas foram construídos. 

Na Serra, as secretarias se uniram para elaborar o plano de contingência municipal e criar o gabinete estratégico para tomada de decisões e o gabinete operacional onde serão executadas as ações. Várias audiências públicas fazem parte do plano de conscientização e orientação da população para se prevenir de desastres e saber como agir nos casos de emergência. 

As áreas de alagamento e deslizamento estão sendo mapeadas de acordo com o tipo de risco e a quantidade de moradias atingidas, e 23 pluviômetros foram instalados em pontos estratégicos da cidade. 

Os bairros mais atingidos têm a limpeza das caixas e bocas de lobo mais constantes. A principal obra na Serra para o período das chuvas é a dragagem e urbanização do Rio Jacaraípe, com investimento de R$15 milhões, que vai beneficiar 40 mil moradores de 16 bairros. 
Viana se prepara com a atualização do seu plano de contingência, a criação de um núcleo de voluntários e um conselho municipal de Defesa Civil. A cidade investe na limpeza das bocas de lobos e no desassoreamento de pontos críticos do rio. A zona urbana foi recuperada com obras nas ruas e a recuperação de vias e pontes da zona rural, totalizando 100% da área reconstruída com recursos próprios, a cidade espera agora o convênio de R$ 49 milhões para obras de saneamento nos bairros Universal, Bom Pastor, Ribeira e Ipanema.

Para evitar os prejuízos e alagamentos, a Capital se preparou com reservatórios que tem a capacidade para acumular até 30 milhões de litros de água das chuvas, composto por galerias e uma estação de bombeamento, que vão atender 17 bairros e 77 mil moradores, e evitar que as ruas alaguem. A estação de bombeamento de águas pluviais é a maior da América Latina, e tem a capacidade para bombear até 33,8 metros cúbicos de águas das chuvas por segundo. 

As encostas também tiveram um reforço, foram investidos R$ 23 milhões em 39 obras de contenção de encostas, beneficiando diversos bairros. Após a maior quantidade de chuvas registrada em 90 anos pelas medições metereológicas, o Estado todo parece se preparar para uma verdadeira operação de guerra. Segundo a Defesa Civil estadual 36 municípios foram capacitados com cursos e receberam também kits com caminhonete, barco, reboque, mobiliário para montagem de escritório, computador, fax, máquina fotográfica, GPS e motor para barco. Totalizando um investimento de R$5,6 milhões somente nos kits. De acordo o coronel Carlos Marcelo Disep Costa, coordenador da Defesa Civil Estadual, 1.129 agentes foram capacitados e até a primeira quinzena de dezembro mais 42 kits serão entregues, totalizando os municípios do Estado.

Um radar que faz análises metereológicas foi instalado em Aracruz e permite o monitoramento de dados 24 horas por dia por metereologistas do Incaper, permitindo antecipar possíveis desastres como o do ano passado. “Tivemos um aprendizado com o que aconteceu, muitos municípios não estavam preparados”, lembrou o coronel Disep. Atualmente, 58 municípios do Estado têm suas áreas de risco mapeadas para casos de desastres naturais. 

Solidariedade

Diante do cenário devastador, os capixabas se mobilizaram em uma das maiores ações de solidariedade realizada no Espírito Santo. Uma campanha feita pela Rede Vitória, em parceria com a Cruz Vermelha, 300 toneladas de donativos para as vítimas das enchentes. 

Fonte: Folha Vitória