ESPORTE INTERNACIONAL
RBR mostra que pode entrar na luta com Mercedes e Ferrari
Ricciardo é o mais veloz e o piloto de maior quilometragem percorrida.
Em 27/02/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Os fãs da F1, bem como profissionais do evento e apaixonados pela competição, não viam a hora de ver os carros novamente na pista. Lembrando que da última vez, em condição de corrida, havia sido dia 26 de novembro no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi. Pois nesta segunda-feira pilotos das dez equipes da F1 treinaram no Circuito da Catalunha, em Barcelona.
O fato de ser a primeira experiência dos modelos de 2018 em uma pista bastante fria faz com que não tenhamos informações maiores sobre o potencial de cada time. Agora, não deixa também de nos manter atentos a esse ou aquele aspecto nos próximos três dias da primeira série de testes da pré-temporada.
Por exemplo: será bem interessante se Max Daniel Ricciardo e Max Verstappen mantiverem o RB14 TAG Heuer (Renault) na primeira posição nos três dias que restam para o encerramento da primeira série de testes. Nesta segunda-feira, Ricciardo, diferentemente do primeiro dia de ensaios de 2017, mostrou-se não apenas mais veloz como o piloto de maior quilometragem percorrida nos 4.655 metros do traçado catalão, ou 488,7 quilômetros. O GP da Espanha é disputado em 66 voltas.
Você talvez se lembre das declarações de Ricciardo ao GloboEsporte.com, no ano passado, no GP do Brasil, de que a maior preocupação da escuderia, este ano, seria a de começar bem os testes, não perder tanto tempo, como em 2017, até que o carro se tornasse minimamente competitivo, a partir do GP da Espanha, o quinto, em maio. Ao menos nesse primeiro dia o planejamento saiu de acordo com o previsto pela RBR.
O australiano registrou 1min20s179. A comparação com o resultado do primeiro dia de 2017 é ingrata, por não sabermos se as condições eram semelhantes. Imagine, por exemplo, que 10 quilos a mais de gasolina no tanque leva um piloto a ser três décimos de segundo mais lento no Circuito da Catalunha, dentre tantas outras variáveis, como carga aerodinâmica, tipo de pneu, hora do dia em que o tempo foi registrado. Há mais.
Apenas para dar uma leve referência, em 2017 Ricciardo fez no primeiro dia o quinto tempo, 1min22s926, ou 2s747 mais lento, mas a principal diferença foi ter completado somente 50 voltas. Nesse sentido, vale destacar o alcançado pela Renault no primeiro dia da F1 em 2018. Ricciardo deu 105 voltas, Nico Hulkenberg, piloto da equipe francesa, de quem falaremos em breve, 73, seu companheiro, Carlos Sainz Júnior, 26, e Fernando Alonso, com McLaren MCL33-Renault, 51.
Nova unidade motriz Renault é promissora
Bom começo para a unidade motriz da montadora francesa. É uma versão nova da que terminou 2017 e, como explicou o diretor técnico da escuderia, Bob Bell, o desafio maior este ano nem é performance, velocidade, mas confiabilidade, resistência. Isso porque o regulamento limita a três unidades motrizes por piloto para as 21 etapas do calendário.
Só para recordar, os testes não entram nessa contagem. A regra começa a valer da sexta-feira, primeiro dia de treinos do GP da Austrália, dia 23 de março, e se estende até o domingo da 21ª e última prova, em Abu Dhabi, 25 de novembro.
Valtteri Bottas, com a Mercedes W09, fez questão de dizer que não exigiu tudo do time que vem de conquistar os quatro últimos títulos de pilotos e construtores. “O dia foi dedicado para a colheita de dados aerodinâmicos.” Como à tarde choveu, Hamilton acabou prejudicado. Bottas completou 58 voltas e seu melhor tempo é o segundo no geral, 1min20s349, enquanto Hamilton, com apenas 25 voltas, fez o sexto tempo, 1min22s327.
Nova Ferrari, bem equilibrada
Segundo profissionais que estão no Circuito da Catalunha e ouvidos pelo GloboEsporte.com, o comportamento da Ferrari SF71H, com Kimi Raikkonen, nesta segunda-feira, impressionou. O terceiro tempo do finlandês não tem relevância maior, 1min20s506. Também completou mais de um GP, 80 voltas. Aparentemente, a Ferrari introduziu menos modificações no veloz e equilibrado carro de 2017 que Mercedes e RBR no modelo deste ano. A excelente base do projeto italiano fez com que já de cara fosse rápido e constante.
Também de importância relativa é o fato de Raikkonen ter registrado seu tempo com pneus macios, enquanto Ricciardo e Bottas, com médios. A Pirelli levou para Barcelona toda a sua gama de pneus: hipermacios, novidade nesta temporada, ultramacios, supermacios, macios, médios e duros, além dos intermediários e para chuva intensa.
O que mais vale nesses experimentos são os tempos obtidos nas séries de voltas seguidas que os pilotos dão, os chamados long runs. E nesse sentido, segundo técnico ouvido pelo GloboEsporte.com, Raikkonen demonstrou velocidade e equilíbrio, como já havia feito o modelo SF70H do ano passado, com Sebastian Vettel. Foi segundo, 113 milésimos mais lento que Hamilton, o mais rápido. Vettel no primeiro dia em 2017 completou nada menos de 128 voltas, mais de dois GPs. E nesta segunda-feira, Raikkonen, 80.
Não há como esperar uma evolução da Renault, pelo grande reestruturação de suas duas sedes, Enstone, Inglaterra, e Viry Chatillon, França, a chegada de novos técnicos, sua imensa retaguarda tecnológica e capacidade de investimento. Hulkenberg emitiu sinais de o RS18 poder mesmo ocupar a faixa que foi da Force India nos dois últimos nos, quarta colocada entre as equipes.
Mas pode ser que tanto o capaz piloto alemão como o promissor Sainz Júnior façam mais. Há indícios de melhora do chassi e da unidade motriz. Vamos acompanhar os próximos testes. Confirmada, será uma boa notícia. O alemão marcou 1min20s547, quarto, com pneus macios.
McLaren começou errando
Como bem disse Alonso, perder a roda traseira depois de somente seis voltas de treino, na última curva, não representa um motivo maior de preocupação. Mas é bem verdade, também, que não deixa de ser revelador de que não fazia sentido os integrantes da McLaren atribuírem todos os imensos problemas de 2017 à unidade motriz Honda.
Uma porca de roda quebrada logo de cara na pré-temporada não é bom e sugere que a escuderia tem sua parcela de responsabilidade em quase tudo. Os números são pouco representativos. Alonso ficou com o sétimo tempo, 1min22s354, usando pneus supermacios. Como mencionado várias vezes pelo espanhol, não há motivo para coçar excessivamente a cabeça.
Agora, Alonso deve ter levantado uma das sobrancelhas ao ver, no fim do dia, que Brendon Hartley, da STR, completou já no primeiro dia impressionantes 93 voltas. Por quê? Porque a Honda migrou da McLaren de Alonso para a STR. Em 2017, Alonso não foi além de 29 voltas no primeiro dia de testes.
Honda, maior surpresa
A versão da unidade motriz Honda este ano é a primeira concebida e construída em conjunto com técnicos de outras nacionalidades, não apenas japoneses. O líder dos estrangeiros é o suíço Mario Illien, que já havia sido útil a Renault, em 2016, diante dos seguidos problemas de confiabilidade da sua unidade motriz. Ainda que seja o primeiro dia, não deixa de ser um começo animador.
Na F1, dizia-se no paddock que uma das dificuldades da Honda relacionava-se à integração com o chassi McLaren. Pode ser, vamos ver mais para a frente, que essa questão funcione diferente na relação entre STR e Honda. Seria muito bom para a F1. Hartley obteve o oitavo tempo, 1min22s371.
Dentre as escuderias que mais mudaram seus carros de 2017 para cá está a Williams, com um novo grupo de projetistas. A outra foi a Sauber. Sob a liderança do novo sócio e diretor técnico, Paddy Lowe, o modelo FW41-Mercedes deu mostra de precisar ainda desenvolvimento básico. Para quem usa unidade motriz Mercedes, espera-se sempre bons resultados.
O pouco experiente Lance Stroll deu 46 voltas de manhã enquanto o estreante russo Sergey Sirotkin, 28 à tarde, a maior parte do tempo com o asfalto molhado. Na melhor passagem Stroll obteve 1min22s452, nono tempo.
Diante das grandes semelhanças entre o carro atual da Haas e a Ferrari de 2017, imaginava-se que Romain Grosjean fosse pilotar nesta segunda-feira um carro mais veloz, harmonioso. Não foi o que aconteceu. O francês, autor do décimo tempo, disse ter muito trabalho pela frente para tornar o VF18-Ferrari mais competitivo. Mas parte do seu comportamento esquivo pode ser atribuído, disse, à baixa temperatura, impedindo de os pneus atingirem a temperatura ideal de aderência.
O mesmo vale para a Sauber. O modelo C37-Ferrari é promissor, deve levar o time a deixar o último lugar regularmente. A baixa temperatura, 5 graus, nesta segunda-feira, contudo, comprometeu o aquecimento dos pneus. Marcus Ericsson sentiu bastante. Deu 63 voltas no Circuito da Catalunha e ficou com o 11º tempo, 1min23s408. O monegasco Charles Leclerc, de 20 anos, tido como grande talento, treina com o C37 nesta terça-feira.
Necessidade de dinheiro
Por fim, o russo Nikita Mazepin teve a honra de pilotar o novo carro da Force India, VJM11-Mercedes, apresentado nesta segunda-feira antes de ir para a pista, de manhã. Mazepin tem 18 anos e disputou a F3 Europeia em 2017, décimo colocado. Seu pai é dono de uma das maiores fortunas da Rússia, dono de uma empresa de fertilizantes, e deve ter custado caro levar o filho assumir o VJM11 antes mesmo dos pilotos titulares, Sérgio Perez e Esteban Ocon, em uma pré-temporada com somente oito dias de testes.
Sem experiência e em condições bem difíceis, pela pouca aderência dos pneus, em razão do frio e chuva, Mazepin não deu mais de 22 voltas, sendo que foi mais de cinco segundos mais lento que Ricciardo, 1min25s628. Algo do potencial do VJM11 será conhecido nesta terça-feira, com Esteban Ocon no cockpit.
Amanhã as coisas deverão começar a ficar mais claras. Isso se não estiver tão frio e os pneus puderem trabalhar na faixa de temperatura para a qual foram projetados. Os pilotos terão possibilidades melhores, também, de comentar sobre o halo, a grande novidade técnica da F1 este ano, arco posicionado sobre o cockpit para proteger a cabeça do piloto. Ele tem grande implicação no projeto, na performance geral do carro.