NEGÓCIOS

Safra menor deve ter impacto na balança comercial brasileira

O grão encabeça a lista dos produtos exportados pelo País.

Em 18/02/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: JOSÉ MARIA TOMAZELA//AE

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A quebra na safra de soja pode ter reflexo na balança comercial brasileira. O grão encabeça a lista dos produtos exportados pelo País – responde por 15% da receita das vendas externas. A Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) prevê uma queda de 12% nas exportações neste ano, em razão da colheita menor. A previsão é de que o Brasil exporte 73 milhões de toneladas, ante 82,8 milhões enviadas ao exterior em 2018.

De acordo com o diretor-geral da Anec, Sérgio Castanho Teixeira Mendes, é preciso levar em conta que as exportações do ano passado foram “um ponto fora da curva” por causa da guerra comercial com os Estados Unidos, que levou a China a comprar mais soja do Brasil. “Estamos prevendo esse volume de exportações com base numa safra de 116 milhões de toneladas. Se a quebra for maior e essa produção não for alcançada, pode haver um impacto maior na exportação”, diz. Mendes lembra que, em 2017, o Brasil exportou 68 milhões de toneladas.

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A soja é cultivada de norte a sul do País, em praticamente todos os Estados. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), embora a área plantada tivesse mantido a tendência de crescimento dos últimos dez anos, atingindo 35,8 milhões de hectares, a produtividade foi bastante afetada pelas condições climáticas adversas nos principais Estados produtores.

Cozimento

O produtor Valdir Edemar Fries, de Itambé (PR), conta que as chuvas de novembro foram 50% menores que a média da região. “Em dezembro, passamos por estiagem e ficamos praticamente 20 dias sem ocorrências de chuvas. Isso, associado às altas temperaturas, prejudicou o desenvolvimento das lavouras. Antecipamos a colheita em 15 dias porque a estiagem e o calor anteciparam o ciclo da lavoura. Nesses talhões (unidades de cultivo dentro de uma propriedade), tive perdas de 30% numa área e de 60% em outra, que tinha um solo menos estruturado.”

Segundo Fries, as perdas foram agravadas pelo sol escaldante, que acabou “cozinhando” a superfície. “São perdas que de fato aconteceram e nesta safra não tem como recuperar”, afirma.

  Agricultores paulistas plantam próxima safra de soja — Foto: TV TEM

A quebra na produção de soja também em regiões do sudeste do Mato Grosso, onde são cultivadas lavouras de ciclo precoce. Foto: TV TEM

No sudoeste paulista, principal região produtora de soja de São Paulo, as lavouras tiveram perdas médias de 15%, segundo o dirigente da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado em Itapeva, Vandir Daniel da Silva. “Somente na regional de Itapeva a perda atinge 1 milhão de sacas, sendo mais da metade no próprio município de Itapeva”, diz. Segundo ele, as lavouras foram afetadas pela falta de chuvas e temperaturas acima da média entre dezembro e janeiro.

O Rally da Safra, expedição técnica sobre a safra de grãos no Brasil, organizada pela consultoria Agroconsult, confirmou a quebra na produção de soja também em regiões do sudeste do Mato Grosso, onde são cultivadas lavouras de ciclo precoce.

De acordo com André Debastiani, coordenador de uma das equipes, no final de janeiro os técnicos já tinham confirmado um potencial produtivo um pouco abaixo do esperado nas regiões do médio-norte e oeste do Estado, maior produtor de soja do País. Entre as razões da baixa produtividade, segundo ele, estão as altas temperaturas de janeiro e fevereiro, que encurtaram o ciclo, afetando o peso dos grãos.

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Clima derruba safra de soja no Brasil

O produtor de soja Antonio José Meireles Flores, de Naviraí (MS), viu a produtividade de suas terras despencar de um ano para o outro. Áreas que no ano passado produziam 61 sacas por hectare, este ano estão entregando 32 sacas. Na média, em seus 3 mil hectares de terra, a perda na produção está estimada entre 15% e 18%. E a culpa, segundo Flores, é do clima. “Foi um ano diferente, com setembro bastante chuvoso, quando fizemos o plantio”, disse. “Mas em novembro só tivemos chuvas isoladas e a soja já ficou manchada, castigada pela seca.”

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Seca derruba safra de soja no Brasil. Foto:  Reuters  - Agraceleiro/ Reprodução

A situação vivida por Flores se repete em outros pontos do País, e os especialistas fazem as contas das perdas que a soja – principal produto na pauta brasileira de exportações – terá este ano. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo federal, prevê, até o momento, uma quebra de 4 milhões de toneladas em relação à safra recorde do ano passado, de 119,3 milhões para 115,3 milhões de toneladas – semelhante à produção da safra 2016/2017.

Mas, para a Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja Brasil), a quebra na safra 2018/19 pode chegar a 16 milhões de sacas, numa colheita esperada inicialmente de 117,2 milhões de sacas, por conta de problemas climáticos em 12 Estados. “Esse é o montante até o momento, mas a quebra pode ser ainda maior”, disse o presidente da associação, Bartolomeu Braz, com base em levantamentos encerrados no início deste mês. O Paraná apresentava perdas mais severas, de 30%, seguido da Bahia e Piauí (20%) e Goiás (17%). “Já estamos pensando numa estratégia para repactuação das dívidas dos produtores, inclusive pensando em securitização”, disse Braz.

Receita menor

Caso se confirme a previsão da Conab, tida como a mais conservadora, a perda de receita para os produtores está estimada em R$ 4,3 bilhões, levando em conta o preço médio de R$ 65 a saca. Se a quebra atingir o que preveem as consultorias, mais pessimistas, a perda no rendimento bruto da safra pode passar de R$ 7 bilhões.

De acordo com o engenheiro agrônomo Adriano Gomes, da consultoria AgRural – que projeta uma safra de 112,5 milhões de toneladas, quase 7 milhões a menos que no ano passado -, a falta de chuvas em dezembro afetou a produção de soja no oeste do Paraná, principalmente na faixa ao longo do Lago Itaipu, e na região de Dourados, em Mato Grosso do Sul. “No sul de Mato Grosso do Sul, vimos produtores colhendo de 15 a 30 sacas por hectare, quando deveriam colher o dobro.”

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