ECONOMIA NACIONAL
Segunda mão vira primeira opção.
Crise econômica e desemprego impulsionam sites de produtos usados.
Em 06/02/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
No ano passado, a esposa do holandês Andries Oudshoorn estava fazendo uma faxina em suas tralhas e queria jogar no lixo um computador Mac usado, da Apple. Mas Oudshoorn, que vivia há pouco tempo no Brasil, mantinha ainda um espírito que é comum na Europa: vender produtos que não são mais utilizados. Fez um anúncio na OLX, oferecendo o equipamento por R$ 2,5 mil. “Quem comprou ficou muito feliz por ter um Mac a este preço”, lembra o executivo, que comanda a OLX no Brasil, um dos principais sites da internet brasileira para vender itens que só estão ocupando os armários, as gavetas e as despensas.
Com o crescimento do desemprego e com a recessão econômica, a saída para muitos brasileiros está sendo se livrar dos excessos dos anos de bonança ou comprar produtos a preços mais baratos. “Esse tipo de oportunidade se intensifica em tempos de crise”, diz Pedro Guasti, CEO da consultoria especializada em comércio eletrônico Ebit. Não deixa de ser irônico. Se a economia vai mal, os sites especializados em vender produtos usados tendem a ir bem. Essa é uma boa notícia para OLX, Mercado Livre, Trocafone, que vende smartphones antigos, e Estante Virtual, um marketplace virtual que reúne mais de dois mil sebos espalhados no Brasil.
O potencial de negócios para essas empresas é gigantesco. Pesquisa do Ibope Conecta, encomendada pela OLX, mostra que quase 70 milhões de brasileiros possuem itens sem uso em casa e que 84% deles têm interesse em vender os objetos. O potencial financeiro dessas vendas soma R$ 262 bilhões, segundo o relatório. Os entrevistados contam com até quatro produtos em casa, com destaque para as áreas de moda e beleza e de eletrônicos e celulares. “A crise ajudou a aumentar a venda de usados”, afirma Oudshoorn, da OLX. “Mas há também uma mudança de comportamento do consumidor.”
A Trocafone, criada há dois anos pelo argentino Guille Freire, exemplifica esse bom momento pelo qual passa a venda de usados no Brasil. Em 2016, a startup que já recebeu R$ 45 milhões de investimentos de fundos como Sallfort, 500 Startups, Lumia Capital e Quasar Ventures, comercializou 100 mil smarphones antigos, volume quatro vezes maior do que em 2015. “Já tem muitas pessoas no Brasil que compraram um smartphone usado e estão começando a repetir a experiência”, afirma Freire. Com os últimos R$ 25 milhões aportadados em setembro do ano passado, a companhia expandiu seus negócios para Buenos Aires.
Até 2018, o plano é montar operações no Chile, Colômbia e Peru. O foco está voltado para as classes C e D, que aceitam usar um aparelho mais avançado de segunda mão. De olho nesse público, a Trocafone abriu uma loja física no Shopping Tamboré, em São Paulo, em outubro do ano passado. “Vamos abrir mais lojas físicas em 2017”, diz Freire. A OLX, que vende computadores, carros e até imóveis, também não tem do que reclamar da crise. No ano passado, a operação movimentou R$ 81,9 bilhões.
Isso mesmo: R$ 81,9 bilhões, uma alta de 18,3% em relação a 2015. Neste ano, quando o PIB ensaia uma tímida recuperação de 1%, a startup controlada pelo fundo de investimento sul-africano Naspers estima que crescerá 8%. A OLX não ganha dinheiro quando ocorre uma venda. Seu modelo de negócios é a venda de publicidade. Já o Mercado Livre observou suas ofertas de usados aumentarem 62% em 2016, representando 15% da volume total da companhia no País. Só no terceiro trimestre de 2016, a empresa comercializou 3,5 milhões de itens usados, como produtos de informática, videogames, jogos, acessório para veículos, brinquedos, produtos de áudio e vídeo.
Mesmo setores acostumados com a venda de usados estão se beneficiando dessa crise. É o caso da área de livros. No ano passado, a Estante Virtual vendeu três milhões de livros, 15,4% a mais que os 2,6 milhões de unidades negociadas em 2015. Enquanto isso, o mercado editorial de produtos novos teve queda de 3,4%. A expectativa da companhia é crescer 35% em 2017. O site reúne 2,6 mil revendedores e 790 mil compradores. Sua remuneração vem da cobrança de 8% a 12% do valor de cada venda. “A crise acelerou as vendas”, diz Richard Svartman. “Mas há, principalmente no segmento de livros, uma forte tendência ao reuso.”
Por: Roger Marzochi