ESPORTE NACIONAL
Sheik é apresentado no Corinthians e promete dar resposta
Atacante diz que não voltou ao Timão pelo passado vitorioso no clube.
Em 19/01/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Emerson Sheik está de volta ao Corinthians. Nesta sexta-feira, o atacante de 39 anos vestiu novamente a camisa do Timão e foi apresentado como o quinto reforço do clube para a temporada 2018. Questionado se voltou pelo passado de glórias no clube ou se pelo que ainda pode jogar, o jogador garantiu:
– Engraçada essa pergunta porque quando foi anunciado e saiu a primeira matéria surgiram alguns comentários. Que falavam de gratidão. O Corinthians ter gratidão comigo é brincadeira, eu que tenho. Vou passar o resto da vida sem poder pagar. Voltando para a pergunta, espero que essa resposta seja para todos, para não sermos repetitivos. Aprendi com um cara que se chama Adenor que futebol se prova dentro do campo. Sei que teve muitas histórias, mas voltei a treinar e daqui a pouco estou jogando. E cada um que queria essa resposta vai poder ver eu atuando. Minha resposta hoje talvez não seja da melhor forma, falando. Vai ser jogando, me preparo para isso e espero dar essa reposta a quem por ventura teve vontade de perguntar – afirmou.
Sheik assinou contrato curto com o Corinthians, até o fim de junho. Segundo o técnico Fábio Carille, o atacante pediu no fim de 2017 para voltar, com o aval da comissão técnica.
– Venho para um contrato de seis meses, mas a ideia é não ter aposentadoria durante seis meses. Obviamente que em 180 dias muita coisa pode acontecer. Mas não tem nada a ver com aposentadoria. "O Emerson está indo para o Corinthians para se aposentar". Isso é lenda. Depois vou ver o que fazer no futuro.
Quando beijei a camisa... A gente vê alguns atletas, não tenho nada contra, mas quando eu beijei hoje o escudo do Corinthians eu beijei porque amo isso aqui, gosto mesmo. Não foi "vou beijar porque...". Beijei porque gosto, senão não beijava p... nenhuma. Gosto muito, inclusive.
Esta será a terceira passagem de Emerson Sheik pelo Timão. A primeira – e mais marcante – foi entre 2011 e 2014, quando ele conquistou cinco títulos: Brasileirão, em 2011, Libertadores e Mundial, em 2012, e Paulistão e Recopa Sul-Americana, em 2013.
Depois, em abril de 2014, Sheik foi emprestado ao Botafogo, e retornou ao Timão no início de 2015. O contrato dele acabou em julho, e o atleta se transferiu para o Flamengo. No total, o atacante disputou 157 jogos pelo Corinthians e marcou 26 gols.
Na última terça-feira, Sheik foi ao CT Joaquim Grava, reviu ex-companheiros e funcionários do Corinthians, passou por exames e já realizou treinos na academia. De acordo com o preparador físico corintiano, Walmir Cruz, o atacante ainda não tem prazo para reestrear.
Antes de Sheik, o Timão já havia apresentado neste ano outros quatro reforços: o atacante Júnior Dutra, o volante Renê Júnior, o lateral-esquerdo Juninho Capixaba e o meia Mateus Vital. O zagueiro Henrique, ex-Fluminense, já tem um acerto verbal com o clube, mas ainda não foi anunciado.
Leia outros trechos da entrevista:
Pode substituir Jô?
– Substituir o Jô... eu ia falar um palavrão, mas não pode. Substituir o Jô é difícil, pois é um jogador com características totalmente diferente, de mim e de todo o elenco. Mas vou tentar entender as ideias do Fábio, que tem excelentes ideias, e me adaptar onde ele tentar me colocar. Como atleta e jogador, quero jogar. Respostinha padrão. Até de goleiro, mentira (risos). Quero jogar, mas preciso entender as ideias do Fábio, assimilar e desenvolver da melhor maneira.
Quando poderá estrear?
– Me sinto um cara geneticamente privilegiado. Todo mundo sabe que tenho 39 anos. Papai do céu foi muito bom comigo. No início do ano eu estava com personal, o que é diferente de estar treinando com o time profissional. A exigência é outra. Sendo bem direto, quero jogar. Porque gosto de jogar. Sou peladeiro no bom sentido. Talvez em duas ou três semanas. Esse é um pensamento meu, mas sou atleta, não fisiologista ou preparador físico. São eles que vão decidir para não ter risco. Mas a minha ideia é jogar o quanto antes.
Como foi o reencontro com a Fiel jogando por outro time?
– O reencontro, apesar do carinho e respeito que tenho pela Ponte, e seria com qualquer outro clube, eu sentiria um mix de sentimentos. Tenho muito carinho e respeito pelo Corinthians, foi aqui que vivi os momentos mais felizes da minha vida, conquistei os principais títulos da carreira, fiz amigos, clube que me lançou para o cenário mundial... Foi estranho ter que ser agressivo contra o Cássio, um cara que é meu amigo, meu parceiro. Ou ter que dar carrinho no Jadson. Como faz? Mas obviamente tem o lado profissional. Naquele momento eu defendia as cores da Ponte Preta, que são parecidas até. Foi estranho.
Sobre o elenco
– 2011, 12, 13... atletas diferentes. Naquela época, sem muito o que falar, ganhou tudo o que disputou. Essa galera que está aqui já provou que tem competência, são capazes, foram campeões paulistas e brasileiros. Vejo uma equipe qualificada, com condições de brigar pelo bicampeonato regional e nacional.
Você segue morando em Alphaville (região metropolitana de São Paulo? Vai atrasar?
– Aphaville tem boas histórias aquela casa. Era muito longe, então eu me atrasava um pouquinho. Agora estou morando mais perto, são 25 minutos até o CT, então não vai ter atraso. Porém, as brincadeiras vão continuar. Entendo que o futebol perdeu um pouco a magia. Vou continuar sendo esse cara alegre, costumo dizer pros meus amigos que sou o cara mais feliz do mundo. As brincadeiras vão continuar, mas a casa mudou, é em Perdizes (risos). Agora mudou, tenho mais idade, meus filhos cresceram, a responsabilidade muda, é um momento diferente, tenho que tomar todo cuidado do mundo com certas atitudes, até para falar com vocês. Tem bastante gente vendo, até meninos vendo. Ontem estava correndo com um menino de 19 anos, tenho o dobro da idade dele.
Como foi a negociação para voltar?
– O desejo de voltar para o Corinthians eu sempre deixei claro, sou apaixonado por esse lugar e pela torcida. Não escondo disso de ninguém, tampouco acho vergonhoso. Quando beijei a camisa... a gente vê alguns atletas, não tenho nada contra, mas quando eu beijei hoje o escudo do Corinthians eu beijei porque amo isso aqui, gosto mesmo. Não foi "vou beijar porque...". Beijei porque gosto, senão não beijava p... nenhuma. Gosto muito, inclusive. Estava conversando com o Fábio em um evento no Rio, ele foi um dos convidados, junto com Tite, Zico e outros. Ali surgiu conversa do Corinthians, meu empresário tinha propostas do Rio e de fora do Brasil, já que, felizmente, minha carreira é vitoriosa. Tinha possibilidade de jogar o Brasileiro ou voltar para o mundo árabe. Foi quando começou o namoro.
Sobre Fábio Carille
– O Fábio é um cara que eu conhecia do Corinthians. Ele me surpreendeu muito, em 20 minutos ele me mostrou porque é campeão paulista e brasileiro. Ele conseguiu, com grandeza, separar Corinthians, profissionalismo e a vida dele pessoal.
Você acha que foi contratado pela história ou pelo que mostrou na Ponte?
– O que aconteceu na Ponte no ano passado certamente ajudou para que eu estivesse aqui hoje. Na Ponte Preta eles têm uma grande dificuldade de estrutura, de dar condições para o atleta trabalhar em alto nível. E não estou falando mal da Ponte Preta, esse é um problema de muitos no cenário nacional. E, ainda assim, com todos os probleminhas e dificuldades, com a minha idade, consegui fazer bons jogos. Isso me credenciou. "Ah, mas a Ponte caiu". Caiu por um monte de coisa. É óbvio que minha história no clube ajudou, mas se eu não tivesse jogado no ano anterior não estaria aqui hoje. A Ponte me abriu as portas e, apesar do que aconteceu, que não foi legal, eu fiz boas partidas.
Pretende passar dos 40 jogando, como o Zé Roberto? Sente dores?
– Não tenho dor. Voltei a treinar agora e é normal que dores apareçam. Jogar aos 43, só o Zé, que é um fenômeno. Estou feliz, gosto de estar feliz, sou feliz, estou feliz e quero estar mais. Para isso, preciso ir bem, jogar bem, e estou me preparando para isso. Abri mão de muitas coisas, inclusive os amores da minha vida, meus filhos. Quando coloquei na balança, entendi que valia a pena. Quero fazer valer estar longe dos meus filhos.
No passado, você falou que o Corinthians lhe devia. Isso já foi resolvido?
– Eu jamais entraria na Justiça contra o Corinthians. E voltando à pergunta inicial, sobre gratidão, eu que tenho gratidão pelo Corinthians. Jamais entraria na Justiça. Esse valor que o Corinthians me devia está resolvido há muito tempo.
Sente a falta de enfiar o pé na jaca de vez em quando?
– Eu não sinto vontade mais dessas coisas, de verdade. A época de fazer bagunça, eu fiz. Passou, passou, não quero mais, hoje tenho outros prazeres, como estar com meus filhos, pessoas queridas, amigos verdadeiros.
Mais sobre a volta
– É bom estar de volta, disputar uma competição, seja regional ou nacional, é desgastante. Principalmente o Brasileiro, que é muito competitivo. É bom dividir esses momentos de dificuldades e alegrias com os amigos. E por serem amigos, torna mais fácil. É um privilégio vestir essa camisa novamente e compartilhar a companhia de pessoas que gosto muito.
Você se acha um exemplo para outros jogadores com mais de 30 anos? O futebol brasileiro está valorizando os "trintões"?
– Quanto a rendimento dentro de campo, não tem por que não ter a contratação, investir nesse atleta. Investir a longo prazo, não sei se é boa ideia para o clube. Mas se o atleta se destacou, entendo que ele merece oportunidades. Eu não sei se sou exemplo, mas o que pouca gente sabe é que... "Ah, o Emerson aparece muito em festa, sempre em boas companhias, com amigos ou amigos". E tem gente que confunde muito. Na minha vida como atleta eu tive muitos cuidados. É difícil acreditar, porque se der um Google fica difícil. Mas os momentos de lazer que tive foram nas minhas folgas, eu poderia estar fazendo aquilo. O cara chega com 37, 38 ou 39 e, se ele se cuida, é comprometido com o clube, o trabalho e as ideias, ele tem que ser valorizado e lembrado.
Você pretende jogar até dezembro pelo Corinthians?
– Não pensei em até o final do ano no Corinthians, estou pensando em seis meses de contrato que é o que tenho. E nesse tempo vou fazer o meu melhor, o que eu puder para agradar. Se vou continuar, é outra história. Mas essa oportunidade que o Corinthians me deu tem um prazo, que é de seis meses. Nesses seis meses vou fazer tudo de melhor, no mínimo em forma de agradecimento. E com certeza não quero apagar em seis meses o que fiz em anos.
Como será voltar a jogar a Libertadores?
– Voltar a jogar uma Libertadores pelo Corinthians é uma situação mágica. A única Libertadores que o Corinthians tem eu participei. E disputar essa competição, que fez com que o torcedor gostasse mais de mim, é uma honra. Vou me sentir privilegiado.
É possível bater de frente com o Palmeiras, que tem um elenco muito badalado?
– Pelo investimento, sim, é um time muito forte, certamente um dos candidatos a conquistar títulos neste ano. Não só regional e nacional, mas outros. Só que futebol são 11 contra 11, tem outras potências, outros grandes que têm que ser respeitados. Mas, pelo investimento, o Palmeiras se torna um dos favoritos a títulos.
Já sabe qual camisa irá usar?
– Eu sempre joguei com a 11 em todos os lugares que passei. No Botafogo eu joguei com a 7. O presidente pediu para eu jogar com a camisa que era do Garrincha, sei lá. Não era da minha época. Mas a minha volta ao Corinthians me fez entender que eu simplesmente só quero vestir a camisa do Corinthians, independentemente de número. Poder representar 40 milhões de torcedores já é o máximo. Eles estão até vendo o número. Eu tive uma ideia irada, não sei se vai agradar.
Qual é a ideia?
– Não sei se posso falar... Não sei se vai ser. Inclusive, acho que não vai dar. Mas tive ideia da 77, que seria uma homenagem ao título de 77, aí implica em outras coisas, há competições que não permitem esse número. Vamos chegar a um número.
O que falta na sua carreira?
– Eu fiquei muito triste no ano passado, porque não veio título. Ano passado eu queria chegar numa Libertadores com a Ponte Preta. Quando eu aceitei o projeto da Ponte, era algo bacana, o projeto era chegar na Libertadores. Por conta do ano anterior, as finais do Paulista, achei que daria, mas não houve continuidade, investimento... Eu só quero título. O que fica marcado são títulos, não é vir dar entrevista bonitinha. Eu quero ganhar título, é bacana, você fica para a histórica, ganha dinheiro. A gente trabalha para realizar sonhos e ganhar dinheiro, pagar contas. Tenho sede de títulos sempre. Para passear, eu iria para casa, que é maneira. Eu só quero títulos.
Você está recebendo menos do que no passado. O que te fez aceitar voltar, acordar cedo para treinar, ficar em concentrações...?
– Eu já sai do Brasil para alguns clubes porque a proposta financeira foi muito boa. Eu já sai de clubes porque a proposta de outro era muito boa. Os atletas têm o hábito de dizer "a carreira do jogador de futebol é curta, blá-blá-blá". Nessa volta ao Corinthians, eu tinha propostas financeiras até melhores. Estou aqui porque busco a felicidade o tempo inteiro. Nada do que me fosse oferecido... Estou falando de muita coisa, não chegou muita coisa, não, tá? Mas mesmo que chegasse, eu não iria. Aqui que eu sou feliz. Estou há quatro dias no clube. Quatro dias de caminhar pelo CT, lembrar das brincadeiras com Zizao, Danilão... Isso nenhum dinheiro paga. Esse aqui é o meu lugar.
Vai ter mordida em argentino de novo?
– Não sei. Final agora mudou, está lá para dezembro. Tenho seis meses. Se não for mordida e for vitória, já está maneiro. Mas se tiver que ter mordida, vai ter. Esse sou eu.