POLÍTICA NACIONAL
Terceira via planeja candidato único contra Lula ou Bolsonaro
Partidos de centro sempre souberam que precisariam se unir em torno de candidatura única.
Em 25/02/2022 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Os partidos de centro articulam uma candidatura única para a disputa presidencial em 2022. Em jogo está a possibilidade real de ir ao segundo turno e derrotar Lula ou Bolsonaro.
Os partidos de centro sempre souberam que precisariam se unir em torno de uma candidatura única para romper com a polarização entre os candidatos dos extremos, com Lula à esquerda e Bolsonaro à direita. Agora, esse caminho finalmente está se materializando. Todos os quatro candidatos a presidente da chamada terceira via, como João Doria (PSDB), Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e Luciano Bivar (União Brasil), decidiram abrir mão de posições individuais para discutir uma frente visando chegar ao segundo turno com o lançamento de uma chapa unificada para o pleito em outubro. Esse grupo já havia recebido a adesão do Cidadania, que, na semana passada, decidiu se juntar ao PSDB em uma federação para a corrida presidencial. Um desses quatro seria candidato a presidente. Apenas Ciro Gomes (PDT) não aceita participar desses entendimentos, que se intensificaram esta semana com reuniões preliminares realizadas na terça-feira, 22, em Brasília entre os presidentes dos três principais partidos desse projeto: Bruno Araújo (PSDB), Baleia Rossi (MDB) e Bivar.
A revelação de que a candidatura única estava em andamento foi feita em um evento do grupo Lide, em São Paulo, na sexta-feira, 18, com a presença de Moro, Simone Tebet e Felipe d’Avila (Novo). Os três anteciparam que os entendimentos estavam avançando e mostraram que a terceira via unida, como se espera, poderia somar 35% nas pesquisas, mais do que os números de Bolsonaro, por exemplo, e poderia ir para o segundo turno em condições de derrotar Lula. “Os analistas políticos dizem que se um candidato da terceira via chegar ao segundo turno ele vence tanto Lula quanto Bolsonaro”, concorda Doria, um dos entusiastas da união, que, segundo ele, “está em fase bem adiantada”. Já o ex-juiz Sergio Moro diz que “a união é urgente e não há tempo a perder”. O tucano, contudo, entende que as conversas não devem ser concluídas tão cedo. Talvez, segundo ele, o diálogo se estenda até as convenções dos partidos para o registro das chapas. “Julho é o limite”, confidenciou Doria.
Liderando o grupo da terceira via na faixa dos 10%, Moro acha que o critério para se escolher o cabeça da chapa pode ser quem estiver melhor nas pesquisas. Doria também concorda com esse critério, embora diga que precisa se fixar primeiro qual será o momento de corte da pesquisa para se chegar ao nome com maior viabilidade eleitoral. “O importante é que todo mundo abra mão de projetos pessoais, sem vaidades. E que todos nós estejamos nessa mesa de negociação com humildade.” O governador paulista lembra que até agora ainda não percebeu ninguém da terceira via com posição de arrogância. “Ninguém ainda falou: se não for eu o candidato, não vale. Não tenho visto isso”, afirma o tucano. Doria chega a brincar com o fato de que há gente nesse grupo com certa ansiedade para avançar logo no fechamento de um acordo. “Não é uma negociação para cardíaco. Não haverá uma decisão imediata. Neste momento, estamos fazendo um protocolo de intenções. Primeiro, temos que estar juntos e depois é que decidiremos quem será cabeça de chapa ou o vice”, acrescentou o governador em entrevista exclusiva à ISTOÉ.
“Extremos sem escrúpulos”
Moro também não é cardíaco, mas acha que o acordo deve sair o mais rápido possível, porque os adversários da terceira via jogam pesado. “Os extremos não têm escrúpulos e servem-se de uma máquina de produção de mentiras em massa. Precisamos de espírito público para, com coragem e ousadia, deixar de lado projetos pessoais e pensar no País como um todo”, disse Moro à ISTOÉ. É mais ou menos a posição de Doria: “Se não nos unirmos, daremos a eleição para Lula ou Bolsonaro e aí estaremos em uma situação desastrosa, com um retrocesso gigantesco, pois os dois são populistas e nocivos ao País”.
A união já vinha sendo debatida desde o final do ano passado, mas esbarrava no fato de que nenhum dos postulantes abria mão da candidatura própria. Depois de nenhum dos candidatos conseguirem se desgarrar dos concorrentes do mesmo espectro político e deslancharem nas pesquisas, a necessidade do entendimento falou mais alto. Todos eles, contudo, dizem que continuarão embalando suas pré-campanhas paralelamente às reuniões da frente única. É natural que todos queiram mais tempo para tentar viabilizar suas campanhas para a composição de chapas. O senador Alessandro Vieira (Cidadania), que fechou federação com o PSDB, afirma que a composição é indispensável e explica o porquê: “Não é uma articulação simples, mas evita o retorno de Lula ou a permanência do Bolsonaro na Presidência”. O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, defende que um dos critérios para a escolha de um candidato único seria o da rejeição. “O indicador mais confiável é o da rejeição. Quanto menor é a rejeição, maior a chance do candidato ganhar o eleitorado indeciso.” As negociações, porém, não têm tempo para terminar. Se a união vai se concretizar ou não, o prazo limite é julho e só o tempo dirá como as peças se encaixarão nesse quebra-cabeça. (Por Germano Oliveira e Eudes Lima - ISTOÉ)
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