MEIO AMBIENTE

Tragédia no Rio Doce faz 10 meses e pescadores seguem insatisfeitos.

Quase 3 mil pescadores do estado recebem auxílio da Samarco.

Em 06/09/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Há 10 meses, a barragem de rejeitos de minério da Samarco se rompeu em Mariana, Minas Gerais, e atingiu toda a extensão do Rio Doce. Quase três mil pescadores no Espírito Santo perderam o sustento e sobrevivem com o auxílio oferecido pela mineradora, que não paga todas as contas.

Procurada pelo G1, a Samarco afirmou que a expectativa da empresa é de atender essas demandas dos pescadores por meio de programas de indenização e reparação aos impactados, com previsão de início para este semestre.

No dia 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, uma barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, se rompeu. Uma lama de rejeitos de minério vazou, arrasou vilas, matou pessoas e chegou até o Rio Doce, que percorre cidades mineiras e capixabas. No Espírito Santo, as cidades afetadas foram Baixo Guandu, Colatina e Linhares, onde fica a foz do rio.

A pesca está proibida na região da Foz do Rio Doce desde o dia 19 de fevereiro. No dia 31 de março, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) recomendou que a pesca no  Rio Doce continuasse interrompida por prazo indeterminado, em função da presença de elevados níveis de contaminação por metais tóxicos nos peixes e crustáceos da região.

O pescador Elcio José Souza Oliveira afirma que preferia pescar a receber o valor da empresa sem trabalhar. Sem saber quando vai poder contar com o sustento vindo do Rio Doce, ele lamenta não poder pagar mais a faculdade do filho.

“Eu preferia, com certeza, pescar a ficar à mercê do cartão. Eu estou no limite, no limite do limite. Estou até tendo que conversar a respeito de algumas dívidas. A faculdade do meu filho eu tive que trancar, porque não deu para pagar. É uma pena, é o sonho de um pescador ter o filho na faculdade, formado”, lamentou.

São 78 pescadores cadastrados na Associação de Pescadores de Regência. O presidente da associação, Leoni Carlos, afirma que depois de tanto tempo não foi divulgada análise alguma sobre a qualidade da água no local.

“Não dá, porque se você pesca, você vai pegar um peixe, para vender para um cliente, ele não vai comprar o peixe, porque não saiu a análise do peixe. Nós exigimos isso da Samarco, que ela tenha isso, com a certeza para dizer que o pescador pode comer o peixe e pode vender”, reclamou.

A Samarco disse que estudos realizados por uma empresa especializada demonstram que atualmente a qualidade do pescado não está diferente de como estava antes da passagem da lama.

Ainda segundo a mineradora, os resultados desses levantamentos são disponibilizados aos órgãos competentes.

Auxílio da Samarco
De acordo com a Samarco, atualmente,  3.392 famílias no Espírito Santo recebem o cartão de auxílio financeiro, sendo 2.909 para pescadores. Especificamente em Linhares, onde está localizada a foz do Rio Doce, 1.558 famílias recebem o cartão auxílio.

A mineradora esclareceu que os critérios para a destinação do cartão de auxílio financeiro emergencial foram definidos em conjunto com o Ministério Público. 

O valor pago, de acordo com a empresa,  é de um salário mínimo mais 20% do salário mínimo por dependente e o valor de uma cesta básica calculado pelo Dieese.

A Samarco afirmou que a expectativa é de atender essas demandas por meio de programas de indenização e reparação aos impactados, que devem começar neste semestre.

Os programas estão previstos no Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) firmado, em março, com o objetivo de amenizar os impactos causados pela tragédia.

Fiscalização
De acordo com o responsável pela fiscalização do Ibama, Givanildo Lima, alguns pescadores não respeitam a proibição da pesca na foz do Rio Doce.

Desde a proibição houve 36 autuações no local, sendo que 18 barcos foram apreendidos e 17 em fase de identificação.

Os barcos apreendidos e lacrados foram autuados por dificultar a identificação e pesca em área proibida. “Há pescadores que pescam em área proibida. Pescadores daqui e no Rio de Janeiro. Inclusive, uma tática que eles estavam usando era retirar a identificação dos barcos”, disse.

Lima explicou que a fiscalização é constante, com o uso de um helicóptero, e conta com a ajuda de denúncias anônimas.

O camarão e os peixes que são pescados de maneira irregular são vendidos tanto no Espírito Santo quanto no Rio de Janeiro.

“Caminhões frigoríficos estariam indo buscar esse camarão. A gente tem a informação de que está sendo comercializado no Espírito Santo e no Rio de Janeiro”, disse Lima.

Fonte: g1-ES