ECONOMIA INTERNACIONAL
UE enfrenta batalha de quantificar seu futuro sem o Reino Unido
Sem surpresas, as posições estão muito polarizadas, dentro da União Europeia.
Em 20/02/2020 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Decididos a alcançar uma União Europeia (UE) climaticamente neutra e a impulsionar sua indústria militar, dirigentes europeus vão tentar, nesta quinta-feira (20), estabelecer cifras ao porvir do bloco sem o Reino Unido, em uma cúpula tensa, consagrada a seu futuro orçamento comum.
O Marco Financeiro Plurianual 2021-2027 (MFP) concentra a reunião, mas para além dos percentuais, os europeus têm nas mãos o alcance do impulso que querem dar a um bloco que perdeu em janeiro uma potência econômica e militar.
“Não deve haver acordo nesta cúpula. Nenhum país mostrou muita vontade de compromisso. Mas isso era de se esperar porque estão falando à sua opinião pública”, afirma Marta Pilati, analista do European Policy Centre (EPC).
Sem surpresas, as posições estão muito polarizadas. Do grupo dos chamados “Quatro frugais”, partidários de contribuir menos com o orçamento comum, aos “Amigos da Coesão”, que defendem a solidariedade, cada um tentará impor sua visão.
Sobre a mesa, terão a proposta de consenso do chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, que propôs um orçamento 2021-2027 de 1,094 trilhão de euros, ou seja, 1,074% da Renda Nacional Bruta (RNB) da UE.
Autoridades europeias admitem que esta será a “cúpula da redistribuição das perdas”, dando a entender que cada país precisará ceder. “Avizinham-se negociações muito duras e difíceis”, disse nesta quarta-feira a chanceler alemã, Angela Merkel.
A única certeza por enquanto é o início da cúpula. As discussões vão começar às 15H00 locais (11H de Brasília) na quinta-feira e, segundo vários diplomatas europeus, devem continuar na sexta-feira e inclusive se estender pelo fim de semana em caso de um possível acordo.
“Frugais” e “amigos”
Encaixar todas as peças do quebra-cabeças do MFP não é tarefa fácil. A UE quer financiar novas prioridades, como a luta contra as mudanças climáticas e a defesa, mas sem deixar de lado as ajudas aos agricultores e às regiões menos desenvolvidas.
E tudo isso em um contexto em que a saída do Reino Unido, um contribuinte líquido, representa uma perda de 12 bilhões de euros anuais aos cofres comunitários. O primeiro desafio será, assim, estabelecer o limite das contribuições nacionais.
O 1,074% da RNB, proposto por Michel, está abaixo do 1,114% pedido pela Comissão Europeia em 2018 e do 1,3% da Eurocâmara. “Faltam-nos 230 bilhões de euros”, advertiu nesta terça o presidente do Parlamento, David Sassoli.
Mas Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia, apelidados de os “Quatro frugais”, já informaram que não vão sair do 1%. Para a Alemanha, o principal contribuinte, este é o ponto de partida, mas está aberta a mais, se novas políticas forem priorizadas.
“A proposta atual não inclui suficientemente a modernização”, explicou na segunda-feira o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, em alusão às remessas destinadas ao Pacto Verde europeu, à proteção de fronteiras ou à tecnologia.
Para o Fundo Europeu de Defesa, com o qual a UE busca impulsionar sua indústria militar perante Estados Unidos, Rússia e China, a proposta arrecada, por exemplo, 7 bilhões de euros, um pouco mais da metade do que a Comissão considera necessário.
Os Amigos da Coesão, que reúnem 16 países entre os quais a Espanha, denunciam, por sua parte, os cortes nos fundos de coesão e na Política Agrícola Comum, que passarão de representar 69% no MFP 2014-2020 para 59%.
A proposta de Michel não resolve “os problemas de divergência dentro da UE, que ocorreram desde a crise [econômica] de 2008” e “não reconhece o papel da agricultura”, nas palavras da chanceler espanhola, Arancha González Laya.
Os “cheques”, as reduções em sua contribuição obtida por alguns países, será outro entrave da negociação, que os europeus querem concluir antes do fim de março para dar tempo à sua ratificação pela Eurocâmara.
O Parlamento advertiu que um atraso em sua aprovação poderia trazer problemas ao popular programa de intercâmbio estudantil Erasmus em 2021, aumentando assim a pressão sobre os líderes. (AFP)