POLÍTICA INTERNACIONAL
Último discurso do Estado da União de Obama tem otimismo e críticas
Obama falou sobre situação do país ao Congresso pela sétima vez.
Em 13/01/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O presidente dos EUA, Barack Obama fez na noite de terça (12) no Capitólio seu sétimo e último discurso do Estado da Nação. O discurso, realizado anualmente e sempre em janeiro, acontece em uma sessão conjunta do Congresso e é uma forma de o presidente prestar esclarecimentos sobre a situação do país e planos para o futuro a senadores, deputados, militares e membros da Suprema Corte. O primeiro discurso do Estado da Nação foi feito por George Washington, em 1790.
Assim como seus dois antecessores, George W. Bush e Bill Clinton, Obama não fez um discurso do tipo em seu primeiro ano de mandato, porque o evento seria realizado apenas alguns dias após sua posse.
Como previsto, o presidente adotou um tom otimista, afirmando que os americanos não devem temer o futuro, apesar das incertezas.
Em diversos momentos, ele citou comentários pessimistas feitos por pré-candidatos republicanos e os desmentiu. Sem fazer alusões diretas, mencionou por exemplo pessoas que falam em decadência econômica, rejeitam o aquecimento global, defendem bombardeios em zonas civis na Síria e atacam muçulmanos, todos pontos já abordados pelos líderes nas pesquisas Donald Trump e Ted Cruz.
Obama criticou ainda os que tentam instaurar o medo, citando o passado e afirmando que o atual período de grandes mudanças pode ser usado a favor dos EUA.
Logo no início do discurso, Obama anunciou que não queria falar apenas das propostas para seu último ano de mandato, mas para os próximos cinco, dez anos ou mais. “Quero focar nosso futuro”, disse.
Para isso, afirmou que irá continuar buscando o progresso ainda necessário. “Consertar um sistema imigratório defeituoso. Proteger nossos filhos da violência com armas. Salários iguais para trabalhos iguais, licença-maternidade, aumentar o salário mínimo”, citou. “Ainda são as coisas certas a fazer. E não vou desistir até que elas sejam feitas”.
“Vivemos em uma época de mudanças extraordinárias, mudanças que estão remodelando a forma como vivemos e trabalhamos, nosso planeta e nosso lugar no mundo... são mudanças que podem abrir oportunidades, ou ampliar desigualdades. E, gostemos ou não, o ritmo dessas mudanças irá apenas se acelerar", afirmou.
"A América passou por grandes mudanças antes – guerras e depressão, o influxo de imigrantes, trabalhadores lutando por condições justas, e movimentos para expandir os direitos civis. A cada vez existiram aqueles que nos disseram para temer o futuro... e a cada vez superamos esses medos... em vez disso pensamos de forma inovadora e agimos de forma inovadora. Fizemos as mudanças trabalharem a nosso favor... e porque o fizemos – porque vimos oportunidades onde outros apenas enxergavam riscos – emergimos mais fortes e melhores do que antes", acrescentou.
Economia
Ao citar progressos durante seus dois mandatos, ele começou afirmando que os EUA, atualmente, “tem a mais forte e duradoura economia do mundo”, citando a criação de 14 milhões de novos empregos e o melhor ano da história da indústria automotiva. “Qualquer um que diga que a economia da América está em decadência está falando em ficção”.
O presidente também defendeu melhorias no acesso às universidades e proteção aos trabalhadores, dizendo que o Seguro Social e o Medicare são mais importantes do que nunca e devem ser fortalecidos.
Ao admitir que não acredita que haverá um acordo entre os partidos sobre a questão da saúde pública, ele apelou a um esforço conjunto para melhorar a segurança econômica de trabalhadores. "Sei que (Paul) Ryan falou sobre o interesse em eliminar a pobreza. Os EUA dão uma ajuda a todos aqueles dispostos a trabalhar e eu receberia muito bem uma discussão séria sobre as estratégias que todos podemos apoiar, como ampliar os cortes de impostos para pessoas que ganham pouco e não têm filhos", exemplificou, citando o republicano que é atual presidente do Congresso.
Mudanças climáticas
Outro tema de destaque no discurso foi a necessidade de ampliar a geração de energia limpa e frear o aquecimento global. "Se alguém ainda quer discutir a ciência disso, estará bastante solitário, porque estará debatendo contra nossos militares, a maioria dos líderes dos negócios nos EUA, a maioria da população americana, quase toda a comunidade científica e 200 países ao redor do mundo que concordam que isso é um problema e pretendem resolvê-lo", provocou.
Segurança e Estado Islâmico
"O sistema internacional que construímos após a II Guerra Mundial está agora lutando para se manter adequado à nova realidade. Cabe a nós ajudar a reformular esse sistema. E isso significa que temos que definir prioridades", afirmou Obama ao introduzir o tema da segurança internacional e as ameaças de grupos terroristas.
Obama afirmou que declarar que o combate ao Estado Islâmico é a “Terceira Guerra Mundial” é um exagero, mas que seus militantes são “assassinos e fanáticos que precisam ser rastreados, caçados e destruídos” e que isso é exatamente o que os EUA estão fazendo. Ele aproveitou para pedir ao Congresso que aprove uma autorização para o uso de força militar contra o EI.
"Se vocês duvidam do comprometimento dos EUA - ou do meu - em ver justiça sendo feita, apenas pergunte a Osama Bin Laden. Pergunte ao líder da Al-Qaeda no Iêmen, que foi morto no ano passado, ou ao autor dos ataques em Bengazi, que está em uma prisão. Quando alguém vai atrás dos americanos, nós vamos atrás deles. Pode levar um tempo, mas temos boa memória, e nosso alcance não tem limites", afirmou o presidente, que neste momento foi aplaudido de pé.
Ao mencionar a Síria, ele afirmou que os EUA não podem "tomar e reconstruir" todos os países que entram em crise, buscando novas formas de ajudar as populações desses lugares. "Isso não é liderança, é a receita para uma armadilha, para espalhar sangue americano e nos enfraquecer. É a lição do Vietnã e do Iraque - que já deveríamos ter aprendido a essa altura".
Ainda ao falar sobre liderança, Obama pediu o fim do embargo a Cuba e defendeu o fechamento da prisão de Guantánamo. "Cinquenta anos isolando Cuba falharam em promover a democracia... vocês querem consolidar nossa liderança e credibilidade no hemisfério? Reconheçam que a Guerra Fria acabou. Encerrem o embargo".
"Isso é força. Isso é liderança. E esse tipo de liderança depende do poder de nosso exemplo. Por isso irei continuar trabalhando para fechar Guantánamo: é cara, é desnecessária e apenas serve como material de recrutamento para nossos inimigos".
Muçulmanos
Obama também foi firme e bastante aplaudido ao mencionar preconceito contra imigrantes e seguidores de diferentes religiões, como os muçulmanos. "Esta não é uma questão de correção política. É uma questão de entender o que nos torna fortes. O mundo nos respeita não apenas por nosso arsenal, ele nos respeita por nossa diversidade e por nossa abertura e pela maneira como respeitamos todas as fés".
"Quando políticos insultam muçulmanos, quando uma mesquita é vandalizada, ou uma criança é atacada, isso não nos torna mais seguros. É simplesmente errado. Isso nos diminui aos olhos do mundo. Torna mais difícil alcançar nossos objetivos. E trai o que somos como um país", criticou.
Laços de confiança
Obama ressaltou ainda que, embora nem sempre seja possível conseguir a aprovação de todos, é importante que exista uma união de forças.
"Uma política melhor não significa que temos que concordar em tudo. Este é um grande país, com diferentes regiões e atitudes e interesses. Essa é uma de nossas forças também. Mas a democracia requer laços básicos de confiança entre seus cidadãos", disse.
Eleições
Embora não tenha mencionado diretamente a disputa por sua sucessão, Obama afirmou que é preciso facilitar o processo eleitoral, mas que não pode fazer isso sozinho e pediu a ajuda da população.
"Isso signifca um governo de, por e para o povo...o que estou pedindo é difícil. É mais fácil ser cínico, acreditar que mudar não é possível e que a política é algo sem esperança, e que nossas vozes e ações não importam. Mas se desistirmos agora, desistimos de um futuro melhor. Aqueles com dinheiro e poder irão ganhar maior controle sobre as decisões que poderão mandar um jovem soldado para a guerra, ou permitir outro desastre econômico, ou provocar um retrocesso nas igualdades de direitos pelas quais gerações lutaram, e até morreram, para garantir", disse.
Convidados
Ao lado da primeira-dama, Michelle Obama, assistiram ao discurso, entre outros, Spencer Stone, sargento que ajudou a deter um homem armado em um trem entre Amsterdã e Paris, o autor da ação que levou a Suprema Corte a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, um refugiado sírio e o estudante Braeden Mannering, de 12 anos. Um assento no camarote foi deixado vago, para representar as vítimas de violências com armas que “não têm mais voz”.
Já integrantes do Congresso incluíram em sua lista de convidados um menino sírio refugiado de nove anos de idade, um funcionário da Planned Parenthood e um policial muçulmano de Nova York.
Outras plataformas
Visto como uma das últimas oportunidades de Obama atingir milhões de cidadãos ao mesmo tempo, o discurso do Estado da União não ficou restrito à televisão. Na segunda-feira, a Casa Branca inaugurou um perfil no Snapchat, onde compartilhou cenas dos bastidores do discurso. Além, disso, o evento foi transmitido em livestream no YouTube. Ao final do discurso, Obama foi entrevistado por três Youtubers, e o resultado poderá ser visto online a partir de sexta-feira.