NEGÓCIOS
Vamos nos adaptar, dizem montadoras, à espera de Trump.
Política divide atenção com carros no Salão de Detroit; clima é de incerteza.
Em 12/01/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
"No momento, nós não temos ideia do que vai acontecer, sobre o que a nova administração vai fazer", diz Mark Gillies, gerente de comunicação de produtos da Volkswagen na América do Norte. "Vamos trabalhar com qualquer administração que vier."
"A Nissan quer trabalhar com qualquer administração. Somos muito adaptáveis. O que for decidido, a marca vai cumprir", afirma Ken Kcomt, diretor de planejamento de produto.
Recado virtual
Eleito apoiado em promessas como a criação de empregos nos EUA, Trump ameaçou no Twitter cobrar "imposto alto" da GM, pela importação do Chevrolet Cruze hatch, e da Toyota, pela intenção de fabricar o Corolla naquele país. Atualmente, carros produzidos lá são vendidos sem cobrança de imposto de importação no mercado americano.
"É muito cedo para falar qual será o resultado, quais serão os impactos com o que ele (Trump) gostaria de mudar e o quanto realmente vai mudar", afirma Dietmar Voggenreiter, membro do conselho para vendas e marketing da Audi, que acaba de inaugurar uma unidade no México.
Por que o México?
O México é o maior produtor de veículos da América Latina, mas o volume não se compara ao da indústria norte-americana.
A maior parte dos veículos mexicanos é destinada à exportação e o mercado americano, o 2º maior do mundo para carros, é o maior cliente. Em 2016, 77% dos 3,47 milhões de veículos produzidos no México foram vendidos nos EUA.
Graças a acordos de livre comércio com mais de 40 países e à retomada da economia americana após a crise, o México viveu um "boom" de fábricas de carros nos últimos anos.
Basicamente todas as grandes montadoras produzem lá. Em 2014, o país tirou do Brasil o título de maior fabricante de veículos da América Latina.
Também um cliente da indústria mexicana, o Brasil voltou atrás no acordo de livre comércio de carros com aquele país em 2012, quando passou a limitar o número de veículos que podem ser trazidos de lá porque esse volume só crescia. A restrição foi renovada em 2015 por mais 4 anos.
GM pede trabalho em conjunto
"Trabalhamos com a situação atual, mas, se houver alguma mudança, que seja trabalhada em conjunto", diz Santiago Chamorro, ex-presidente da General Motors do Brasil e que atualmente ocupa o cargo de vice-presidente de Global Connected Customer Experience na sede da empresa, em Detroit.
"Quando Trump deu a declaração no Twitter sobre o Cruze vindo do México, esclarecemos a situação rapidamente", completou.
A GM divulgou um comunicado afirmando que são poucas as unidades do Cruze que são trazidas do México -todas da versão hatchback.
O grosso das vendas do modelo nos EUA, na carroceria sedã, é produzido localmente.
A presidente-executiva da montadora, Mary Barra, é um dos nomes no grupo de executivos convocados por Trump para discutir o ações para a criação de empregos no país. O fundador da Tesla, Elon Musk, notório apoiador de Hillary Clinton na campanha eleitoral, também está na lista.
"Estamos felizes que a Mary Barra faz parte do conselho formado por Trump e estamos preparados para trabalhar com quem precisar", completou Chamorro.
A associação das montadoras alemãs, formada por Volkswagen, Audi, Mercedes-Benz e BMW, entre outras, disse no Salão de Detroit que essas marcas quadruplicaram sua produção nos EUA, com 850 mil veículos manufaturados em 2016. No México, elas fabricaram 425 mil.
Globalização não tem volta
Mesmo assim, as fabricantes reforçam a necessidade de continuarem como empresas globais, produzindo veículos em diversos países, inclusive para exportação.
Além do México, os EUA recebem carros vindos da China, do Japão, do Canadá e até do Brasil, caso do BMW X1.
Tudo é uma questão de custo. "Se elas tornarem a produção no México pouco econômica, teremos de desistir", afirmou Sergio Marchionne, presidente-executivo da Fiat Chrysler, a jornalistas, em Detroit.
Eco na Europa
Ao estilo Trump, a candidata presidencial francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, disse nesta semana que buscaria levar de volta ao país a produção de automóveis e outros bens industriais. Tanto a Renault quanto a Peugeot possuem atividades de manufatura significantes na Espanha e no leste europeu.
Falando ao canal francês France 2 Television, ela descreveu a política como “patriotismo econômico e protecionismo inteligente”. “Ele (Trump) está adotando medidas que eu tenho exigido há anos”.
Por Rafael Miotto e Luciana de Oliveira do G1, em São Paulo e em Detroit.