ECONOMIA NACIONAL

Varejo vê retomada, mas impacto dos saques do FGTS segue tímido.

Impacto dos saques do FGTS no varejo segue tímido, segundo lojistas.

Em 30/04/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Ainda que recuperação continue lenta, os indicadores do comércio varejista apontam para um aumento das vendas após o início dos saques das contas inativas do FGTS. Lojistas e analistas ouvidos pelo G1 ressalvam, entretanto, que ainda há dúvidas sobre o ritmo de retomada e que continua tímido o impacto desse dinheiro extra que está entrando na economia brasileira no consumo das famílias.

Segundo a Serasa Experian, a atividade do comércio cresceu 0,6% em março, na série com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, entretanto, o movimento caiu 1,9%.

A Via Varejo, dona das redes Casas Bahia e Ponto Frio, informou que as categorias que tiveram mais compras em março foram celulares, televisores e móveis. Considerando apenas a operação de lojas físicas, a receita da Via Varejo subiu 2,5% no 1º trimestre sobre um ano antes comparando apenas lojas que já estavam abertas (mesmas lojas).

Nos supermercados, as vendas reais (descontada a inflação) subiram 4,49% em março na comparação com fevereiro, mas no 1º trimestre ainda houve queda acumulada de 1,4% na comparação anual, segundo a associação que representa o setor, Abras.

Para o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi, a alta das vendas em março se deve mais à queda da inflação e das taxas de juros, e à melhora dos níveis de confiança do consumidor. “Como os saques do FGTS somente iniciaram em 10 de março e ainda são escalonados segundo o mês de nascimento, não se notou impacto significativo na quitação das dívidas ainda, quanto menos no varejo”, avalia.

A segunda fase dos saques das contas inativas do FGTS, que começou no dia 8 de abril, terá o maior volume previsto de saques. De todos os trabalhadores que podem retirar o benefício, 26% estão no lote de abril. E a maioria dos saques disponíveis já foram feitos, segundo a Caixa. Desde o dia 10 de março, cerca de 15,1 bilhões dos R$ 18,1 bilhões previstos já foram sacados. Até julho, a estimativa é que o valor possa chegar a R$ 43 bilhões.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), mostra que apenas 9,6% dos que têm valores a receber planejam usar o dinheiro do FGTS para consumo. A maioria (41,2%) planeja quitar dívidas e outros 24% pretendem poupar.

  (Foto: Editoria de arte/G1)

(Foto: Editoria de arte/G1)

Dúvidas sobre abril

Embora o comércio continue apostando em propagandas e pegando carona no FGTS para tentar fisgar o consumidor, lojistas ouvidos pelo G1 afirmam que em abril o aumento no movimento ficou restrito aos primeiros dias do novo calendário de saques.

"O mês começou bom. Na segunda-feira da semana passada cheguei a vender mais de 30 celulares no dia. Agora já deu uma caída", disse um vendedor. Na loja ao lado, a percepção também era de que o movimento está abaixo do registrado em março. "Está devagar. Acho que estão todos pagando as dívidas ainda", afirmou outro.

Segundo indicador da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas na capital paulista caíram recuaram em média 6% nas duas primeiras semanas de abril ante a primeira quinzena de março. Na comparação com o mesmo período do ano passado, entretanto, houve crescimento de 1,2%. O aumento foi puxado pelas comercializações à vista, que avançaram 3,6%, e pelas compras. Na contramão, as vendas a prazo caíram 1,2%.

"As vendas caíram tanto que qualquer alta no movimento ajuda, mas ainda vai demorar um tempo para melhorar. O brasileiro está sem dinheiro", resume o gerente de uma loja de móveis na Zona Oeste de São Paulo, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, de um faturamento médio de R$ 500 mil por mês até 2015, a receita ainda não voltou ao patamar de R$ 350 mil por mês.

O IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), que reúne 69 empresas varejistas de diferentes setores, estima uma alta de 2,7% em abril e 3,8% em maio em comparação com o mesmo período de 2016.

Juros e desemprego altos

Pelos últimos números revisados pelo IBGE, o comércio varejista subiu 5,5% em janeiro e caiu 0,2% em fevereiro. No acumulado em 12 meses, a queda é de 5,4%. Mas considerando o indicador que também inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, já são 4 altas consecutivas nas vendas, o que reforça as apostas numa retomada do setor.

"Os dados do setor apontam claramente para o início de um ciclo de crescimento em 2017", afirma o assessor econômico da FecomercioSP, Altamiro Carvalho, que revisou sua projeção para o desempenho do comércio paulista no ano, de uma alta de 2,5% para um avanço de 2,8%.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também revisou para cima sua projeção de crescimento do varejo no país em 2017, de 1,2% para 1,5%, mas avalia o ritmo de recuperação dependerá da queda das taxas de juros ao consumidor e da melhora das condições do mercado de trabalho. A taxa de desemprego no Brasil subiu para novo recorde de 13,2% no trimestre encerrado em fevereiro, atingindo 13,5 milhões de brasileiros.

“Além do recuo dos preços nos últimos meses, o início do processo de barateamento do crédito começa a produzir efeitos positivos em segmentos mais dependentes das condições de venda a prazo”, afirma Fabio Bentes, economista da Confederação, citando como exemplo os segmentos de vestuário e de materiais de construção.

A Lojas Renner, por exemplo, registrou alta de 9,1% nas vendas mesmas lojas no 1º trimestre, após dois trimestres seguidos de resultado negativo.

As vendas de material de construção cresceram 12,2% em março na comparação, na comparação com fevereiro, segundo a Abramat, a associação do setor. Na comparação com 1 ano antes, entretanto, houve queda de 6,5%. Em 12 meses, o recuo ainda é de 9,1%.

"A perspectiva é que em algum momento do segundo semestre as vendas a crédito comecem a se recuperar”, avalia Alencar Burti, presidente da ACSP, citando a expectativa de repasse da queda da taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano, aos consumidores.

Foto: Darlan Alvarenga/G1