POLÍTICA INTERNACIONAL
Verónika e Pedro Pablo, juventude e experiência, disputam presidência do Peru.
Os dois lutam para chegar ao segundo turno com a favorita, Keiko Fujimori.
Em 09/04/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Verónika Mendoza tem 35 anos, Pedro Pablo Kuczynski, 77. Ela, de esquerda, aposta em um modelo econômico alternativo; ele acredita no livre mercado. Os dois lutam para chegar ao segundo turno com a favorita, Keiko Fujimori, na disputa pela presidência do Peru.
O destino quis que a aspirante mais jovem e o candidato mais velho, que além disso se posicionam em extremos políticos opostos, tivessem que brigar voto a voto pela segunda posição, em um país onde, mais que ideologias, o eleitor privilegia pessoas e rostos.
Até dezembro, Verónika, que fala quechua, era uma desconhecida. Diante das consequências de uma lei eleitoral que expulsou candidatos e em meio à eterna busca do eleitorado por um "outsider", Mendoza avançou explorando uma imagem de decência e honestidade, prometendo mudanças radicais na economia e resistindo a críticas até da Igreja católica por sua postura a favor da união civil gay e do aborto.
Verónika tem uma voz calma e nasceu em Santiago, distrito de Cusco. Sua mãe, uma francesa amante da história andina, pensou em chamá-la de Micaela, em homenagem à esposa do líder indígena Túpac Amaru, que se rebelou contra a colônia espanhola. Mas seu pai, que falava quechua, escolheu "Vero". Quando era criança gostava de se vestir de Ñusta - princesa inca - e hoje alimenta a ideia de se converter na primeira presidente do Peru.
Seus pais, professores, sempre foram de esquerda, mas tomaram cuidado para não influenciar suas três filhas. Em vão: aos 19 anos, a candidata percebeu que a arqueologia não era para ela e decidiu viajar à França, onde estudou Psicologia na Universidade Denis Diderot e fez um mestrado em Antropologia na Sorbonne Nouvelle.
Ingressou no hoje governante Partido Nacionalista, onde foi eleita congressista em 2011, mas renunciou um ano depois, ao divergir da forma como o governo administrava os conflitos sociais. Casada e mãe de uma filha, fez uma façanha.
Aos que quiseram ridicularizá-la entrevistando-a em francês - língua que domina - ela respondeu em quechua, língua de seus ancestrais, falada hoje por uma minoria. Promete destinar 6% do PIB à educação.
Se vencer as eleições proporá uma nova Constituição com "transformações radicais" e, por temas ambientais, questiona projetos de mineração em um país onde a extração de recursos naturais é chave para a economia.
Defende um modelo alternativo à extração mineradora e acredita que o Estado deve recuperar a soberania dos recursos naturais, embora não goste dos mercados.
Chamou de golpista a oposição venezuelana, mas voltou atrás depois, fato que foi aproveitado pelos seus eleitores, que a chamaram de "chavista" e a vincularam aos grupos armados maoistas e guevaristas que semearam o terror no país entre 1980 e 2000.
Mendoza afirma que não aplicará no Peru o modelo da Venezuela, e nega qualquer vínculo com organizações extremistas. "É revoltante que a dor que o terrorismo causou ao nosso povo seja utilizada para uma guerra suja contra nossa proposta de mudança", afirmou.
"Meus amigos me disseram que poderia ir embora tranquilo, descansar, com minha (motocicleta) Harley (Davidson)", afirma Pedro Pablo Kuczynski, com experiência nos cargos de primeiro-ministro e ministro, que quer sacudir a imagem de "gringo".
"Eu não sou político, sou um economista que quer fazer algo por seu país", declarou o também concertista de flauta transversa do Royal College of Music, que trocou a música clássica pela música andina.
De pai alemão e mãe franco-suíça, o popular "PPK" é primo do diretor de cinema Jean-Luc Godard e sua vida foi de cinema: nasceu no Peru e acompanhou seu pai, médico, em trabalhos sociais nas florestas do país, mas foi educado no Reino Unido, Suíça e Estados Unidos. Em 2011 esteve próximo de passar ao segundo turno e atualmente insiste novamente com o Peruanos Por el Kambio, que carrega suas iniciais.
Precisou renunciar a sua nacionalidade americana - sua esposa a ostenta - em meio ao receio de seus compatriotas, que temem que isso possa servir para que ele fuja da justiça, como fez o peruano-japonês Alberto Fujimori. Explora sua imagem de experiência, valorizada pelos mercados.
Integrou diretórios de várias empresas, razão pela qual seus opositores temem que, se chegar à presidência do Peru, defenderá interesses particulares. "São besteiras", adverte. "Minhas mãos estão limpas", afirma.
AFP