EDUCAÇÃO
Vinte refugiados serão professores de idiomas em curso no Rio.
Atividades começam no dia 21 de março em Botafogo, na Zona Sul.
Em 09/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Trocar conhecimento e buscar oportunidades. No Rio, um grupo de vinte refugiados começa a dar aulas de inglês, espanhol,árabe e francês no curso “Abraço Cultural”, que tem apoio da Organização Não Governamental Atados e da Cáritas RJ. Ao todo são 30 voluntários envolvidos. Além do curso de idiomas eles vão trocar experiências sobre culinária, danças, música e literatura. Este será o primeiro curso no Rio, mas o projeto existe em São Paulo desde o ano ano passado.
Entre os professores estão refugiados da República Democrática do Congo, da Síria e dois da Venezuela. Os congoleses vão dar aulas de francês, as aulas de inglês serão ministradas por dois sírios, fluentes no idioma. Um deles dava aulas de inglês em Damasco antes de deixar o país. O curso de árabe será dado por um outro sírio que é fluente em português. Dois venezuelanos vão ensinar espanhol.
Ender Molina, 27 anos, era engenheiro civil na cidade de Valencia, na Venezuela. Ele chegou ao Rio em fevereiro de 2015. Molina contou ao G1 que fugiu do país por causa da situação política. Nesse período no Rio só teve um emprego fixo com carteira assinada. Esta será sua primeira experiência como professor: " Estou com vontade de ajudar e de dar o melhor para que a pessoa aprenda meu idioma".
Já para Gustavo Martinez, 27 anos, a tarefa não será difícil. Embora ainda não tenha domínio total do português, ele era professor de Espanhol e de Inglês na Venezuela.
" Eu acho que será um sucesso. Queremos ensinar e acho que quem vem aprender vai aproveitar já que somos nativos", explicou.
Os professores passaram por um curso de capacitação com pedagogos e oito foram selecionados para ministrar as aulas. Serão abertas 80 vagas divididas em oito turmas. Muito mais que o aprendizado de uma nova língua, o criador do projeto Abraço Cultural, Daniel Moraes, acredita que o mais importante é conectar estas pessoas ao ciclo social e o diferencial das aulas é a vivência cultural dos alunos.
Tulin Hashemi, 24 anos, chegou de Damasco há oito meses. Na Síria ela terminou o ensino médio e é fluente em inglês. Como ainda não fala português, ela preferiu ensinar inglês. "Acredito que será mais fácil já que para ensinar árabe teria que lidar com o alfabeto e essa comunicação seria mais complicada", revelou
Tulin disse que está ansiosa para o início do curso e pela troca de experiência com os brasileiros com quem pretende desenvolver o português. Ela contou que já tem planos para sua vida no Brasil . "Quero estudar Astronomia e para isso preciso falar bem a língua. Essa troca será importante para mim".
O Brasil tem atualmente 8.530 refugiados, segundo o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça. Destes, a maior parte são sírios. Também buscam refúgio colombianos, angolanos e congoleses - da República Democrática do Congo. O Rio é a sexta cidade do país aonde são feitas as solicitações de refúgio. Em primeiro lugar está São Paulo e em seguida o Rio Grande do Sul, segundo o último levantamento do Conare divulgado em agosto do ano passado.
O curso no Rio será na Casa de Cultura Habonim Dror, um centro do movimento juvenil judaico que educa jovens judeus através da educação não-formal. O espaço funciona em um casa em Botafogo, na Zona Sul. "O movimento judaico sempre foi refugiado. Ele ajuda quem for e de onde for", disse Felipe, 20 anos, um dos representantes da casa.
Segundo Moraes, mais de 250 pessoas já demostraram interesse e os cursos mais procurados são o de francês e árabe. “Neste curso você aprende muito mais do que aprenderia em um curso regular, não é só a gramática, você aprende a cultura. A gente fala sobre história, sobre o contexto cultural que a pessoa passou até chegar aqui [no Brasil], inclusive o contexto político”, afirmou.
Os professores serão remunerados com um salário de cerca de R$ 1 mil durante os quatro meses de curso. "Tem advogado, tem engenheiro, historiador e estão com muita vontade abraçar esta oportunidade”, contou Moraes. A mensalidade é de R$ 200 por mês, com duas aulas semanais de 1h30 e uma aula cultural quinzenal onde os alunos aprenderão sobre dança, música, arte gastronomia e história de cada cultura.
Experiência aprovada
O projeto começou em São Paulo em julho de 2015 e juntou 120 alunos no curso de férias. Formada em Direito e Relações Internacionais, Mariangela Garbelini fez aula de árabe e aprovou a experiência.
“Eu já trabalhava com refugiados, então eu já tinha interesse em aprender árabe, Mas o mais importante foi o contato direto com a cultura deles. O meu professor era muito bom. Eles vão ganhando gosto pela profissão e muitos se descobrem como professores. Eles sentem orgulho de passar a cultura, se sentem valorizados”, contou Mariangela, que depois do curso virou voluntária do projeto.
Fonte: G1