NUTRIÇÃO
Café da manhã é a refeição mais importante do dia
Nutricionista comenta estudos que falam dos efeitos desta refeição.
Em 15/01/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A realização do café da manhã é considerada um hábito de vida saudável e equilibrado. Normalmente distribui-se cerca de 15 a 30% do valor energético total da dieta para esta refeição. O café da manhã representa a primeira refeição consumida em um período de duas horas após o sono mais longo em qualquer período de 24 horas. Indivíduos que mantêm um hábito regular de realizar o café da manhã têm um estilo de vida “saudável” com prática regular de atividade física, menor consumo de lanches intermediários e mais seletividade na escolha dos alimentos.
Na década de 1960 a nutricionista Adelle Davis preconizava: coma o café da manhã como um rei, almoce como príncipe e jante como um pobre. Mas será que esta refeição não está supervalorizada? Estudos recentes vêm demonstrando que sim. O brasileiro tem como a maior refeição o almoço, seguido pelo jantar, o café da manhã e lanches intermediários. Em países Eeropeus como Inglaterra e França, por exemplo, o jantar é a principal refeição. Precisamos sempre levar em consideração a cultura e os hábitos de vida de uma população até para avaliar e prescrever um programa alimentar personalizado.
Efeito do café da manhã sobre o apetite
Os estudos transversais (estudos observacionais) correlacionavam a realização do café da manhã com o menor IMC, mas não havia estudo direto de causa e efeito, eram apenas “observacionais” (indivíduos que apresentavam peso adequado consumiam o café da manhã). Isso levou à correlação de que a retirada do café da manhã levaria ao aumento da ingestão alimentar ao longo do dia e redução do gasto energético. Usualmente o café da manhã é suprimido para reduzir a ingestão total de calorias com o objetivo de perda de peso.
Estudos demonstraram que o consumo de café da manhã suprime o apetite durante a manhã, mas esse efeito parece ser transitório, já que a primeira refeição consumida após o café da manhã (por exemplo o almoço) parece compensar o apetite de forma similar, independentemente do consumo do café da manhã.
A questão é: as pessoas conseguem ser seletivas na escolha dos alimentos (qualidade alimentar) e no porcionamento das preparações (quantidade de alimentos) quando estão com mais fome ou por um longo perído sem se alimentar? Quando comemos com muita fome, normalmente, preferimos preparações mais quentes e cremosas, comemos de forma mais rápida e queremos alimentos que nos dão prazer, o que pode alterar a escolha das preparações reduzindo o consumo de saladas, verduras e legumes.
Estudos realizados com indivíduos magros e indivíduos obesos que comparam a ingestão do café da manhã e a omissão do café da manhã, demonstraram que indivíduos magros não compensam a ingestão energética ao longo do dia por não ter realizado o café da manhã. Entretanto, o grupo de indivíduos obesos que omitiram o café da manhã observou-se maior compensação de ingestão de alimentos à tarde e noite, prejudicando a perda de peso.
O efeito da omissão de café da manhã
Estudo de Reeves e colaboradores (2014) avaliou o efeito da omissão de café da manhã sobre a ingestão diária de alimentos em 37 indivíduos com peso adequado (IMC 18,5 a 24,9 kgm2) e com excesso de peso. O estudo revelou efeitos significativos do tempo na ingestão de energia. Mais energia foi consumida durante a tarde na semana sem café da manhã em comparação com a semana do café da manhã. Os participantes com sobrepeso consumiram maiores quantidades de energia no início da noite do que os participantes de peso normal. Todos os grupos consumiram significativamente menos energia, carboidratos e fibras na semana sem café da manhã, entretanto os indivíduos com excesso de peso aumentaram a ingestão de açúcar.
Estudo de Halsey e colaboradores (2014), com 49 participantes (26 mulheres e 23 homens) compararam experimentalmente os efeitos de realizar o café da manhã ou omitir café da manhã no gasto energético, níveis de atividade e hábitos alimentares. Foi realizado estudo randomizado cruzado (os participantes fazem as 2 fases do estudos e os dados são comparados com eles mesmos) com duração de 2 semanas. Em uma semana os participantes receberam café da manhã e na outra semana foram obrigados a se alimentar a partir do meio dia, pulando o café da manhã. Ao comparar usuárias de café da manhã com aqueles com hábitos irregulares ou que omitiam o café da manhã, descobriu-se que os consumidores de café da manhã não habituais consumiram significativamente mais energia durante o café da manhã. Além disso, as participantes femininas que eram usuárias de café da manhã comeram significativamente mais e mais tarde na fase de omissão do café da manhã.
Estes dados sugerem que o efeito do café da manhã pode variar em função do gênero (homens e mulheres) e dos hábitos alimentares matinais, o que demonstra que pode haver outros mecanismos que correlacionam o IMC e o comportamento de café da manhã.
Efeito do café da manhã sobre o metabolismo
Não são claros os estudos que correlacionam o consumo do café da manhã com gasto energético. O gasto energético é determinado pelo gasto em repouso (cerca de 60 a 75% do gasto energético total = relacionado à composição corporal – massa muscular, sexo, idade...), termogênese induzida pelo alimento (processo de digestão, absorção e excreção) e gasto energético nas atividades diárias do dia a dia e do exercício físico.
O efeito térmico do alimento é o menor componente do gasto energético, contribui com cerca de 10% da ingestão de uma refeição mista. Sabe-se que a o gasto energético da atividade física é o componente mais modificável, que mais pode alterar o metabolismo energético em torno de 15 a 30% do gasto energético total.
Ou seja, na prática ou na “vida real” a contribuição do efeito térmico do alimento é muito pequena para acelerar o metabolismo. A realização do café da manhã melhora o controle glicêmico pós-prandial (pós-refeição), menor estímulo/ pico insulínico com o consumo de refeições mistas, que associam carboidratos, gorduras e proteínas. Ou seja, é preciso se preocupar com a qualidade, com a combinação e quantidade dos alimentos ingeridos.
Alimentos proteicos
Sabe-se que alimentos proteicos possuem digestão mais lenta e quando associamos carboidratos e proteínas o processo de digestão e absorção torna-se mais lento com menor pico e queda mais lenta da insulina. A insulina é um hormônio relacionado ao aumento de apetite e quando está elevada inibe a utilização de gordura como fonte energética.
O café da manhã é uma refeição importante, mas é preciso levar em consideração o estilo de vida do indivíduo, seus hábitos alimentares, história clínica, hábito familiar - cultura, horários de maior fome, prática esportiva e respeitar suas preferências para determinar quais alimentos, combinações e quantidades devem ser utilizadas nesta refeição.
(Foto: EuAtleta)