CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Idosos com doença sem cura retomam visão com células-tronco

80% dos pacientes com DMRI melhoraram com técnica; entenda.

Em 02/08/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Carlos Trinca/EPTV

Com o celular nas mãos, o aposentado Manoel Eleotério Neto, de 72 anos, responde a todas as mensagens recebidas. Diagnosticado com Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), ele ouviu dos médicos que poderia ficar cego, mas a letra miúda não é mais problema desde que se submeteu a uma técnica desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto (SP).

No Hospital das Clínicas (HC), os cientistas passaram a usar células-tronco, capazes de dar origem a outras células, extraídas do próprio paciente. O método apresentou resultados animadores e 80% dos pacientes tiveram melhora expressiva na visão.

Manoel Eleotério Neto responde às mensagens no celular após receber injeção com células-tronco em Ribeirão Preto, SP (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Manoel Eleotério Neto responde às mensagens no celular após receber injeção com células-tronco em Ribeirão Preto, SP (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Retina afetada

A degenação macular é mais comum a pacientes com mais de 50 anos de idade. Segundo os pesquisadores, a doença incapacitante afeta a retina e pode levar à cegueira. Estima-se que 8,7% dos idosos no mundo convivam com o problema – só no Brasil, são cerca de três milhões.

Após descobrir a doença há 16 anos, o oftalmologista recomendou a Manoel o uso de vitaminas, mas elas não seriam suficientes para conter o avanço da perda da visão.

“Ele disse: ‘sua visão vai caindo, o senhor vai perder a visão, e quando o senhor tiver uns 65 anos, o senhor vai ficar cego.’ Eu fiquei apavorado.”

A pesquisadora do HC-USP, Carina Costa Cotrim, em Ribeirão Preto, SP (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

A pesquisadora do HC-USP, Carina Costa Cotrim, em Ribeirão Preto, SP (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

O mesmo prognóstico foi dado ao aposentado Walter Cassioti, de 72 anos. A angústia foi ainda maior ao saber que não havia remédios ou cirurgia para tratar a doença.

“No começo, eu enxergava razoável, mas via deficiência ao prestar atenção, por exemplo, em uma formiga que vai passando e eu perdia a imagem. Já estava atingindo a retina. Tinha uma deformidade nas imagens porque estava entortando a retina.”

Encaminhados ao HC para o estudo, Walter e Manoel fizeram parte de um grupo de dez pacientes que recebeu injeções intraoculares de células-tronco. O material retirado da medula óssea de cada um deles foi processado e isolado nos laboratórios do Hemocentro.

Após o procedimento, os pacientes passaram por um ano de exames para avaliar a função visual. Os resultados mostraram uma sensível recuperação da visão e a estabilização.

“Essas células, depois que são injetadas dentro do olho, se incorporam no tecido da retina e têm um fator que a gente chama de fator trófico. Elas liberam fatores que melhoram o ambiente hostil da retina. Aquelas células da retina que estão sofrendo e que não estão funcionando são resgatadas, é chamado resgate funcional das células ruins”, diz a pesquisadora Carina Costa Cotrim.

Ainda de acordo com a pesquisadora, o estudo possibilitou avaliar a segurança do uso das células-tronco dentro do olho e mostrou que pode ser um dos caminhos para a descoberta da cura.

“Não houve crescimento de células indesejáveis. Não houve descolamento de retina ou infecção, então, foi muito positivo nesse fator. Quando a gente pensa que uma doença que a tendência é piorar e a gente tem resultados que melhoraram uma porcentagem de visão, isso é uma grande esperança para a população que é acometida pela DNRI.”

Manoel, que já tinha perdido a esperança em enxergar com qualidade novamente, diz que o procedimento mudou a sua vida.

"100% não fica nunca mais, nem com células-tronco, mas vamos botar uns 40% ou 50%. Para quem estava com 3%, é bastante. A visão é ótima pelo que eu estava. Vejo celular, claro que eu não faço [digitar] como vocês. Faço devagar, mas eu enxergo."

Consigo tocar a vida para frente. Valeu a pena fazer, diz o aposentado Walter Cassioti em Ribeirão Preto, SP (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Consigo tocar a vida para frente. Valeu a pena fazer, diz o aposentado Walter Cassioti em Ribeirão Preto, SP (Foto: Carlos Trinca/EPTV)