NUTRIÇÃO

Refrigerante como suplemento em práticas esportivas, pode?

Nutricionista explica prática muito comum entre atletas de provas longas, como Ironman.

Em 26/05/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Semana de Ironman em Florianópolis, proximidade da Maratona do Rio, e a pergunta que ainda rola no consultório de nutrição esportiva funcional é: "Na hora em que eu precisar de um estímulo a mais para dar aquele up, posso tomar um refrigerante de cola?". Não, né? Refrigerante não ajuda em absolutamente nada, só tem ação contrária.

Como atleta eu concordo que na hora do sufoco aquele líquido geladíssimo, açucarado, cheio de sódio, cafeína e sabor parece ser o último do deserto, como dizem por aí, um “gás a mais” no meio de tanto esforço para completar provas de endurance tão severas. Mas, de fato, é preciso esclarecer que por trás de tantos atrativos há problemas que não valem os 15 minutos de alívio durante o percurso.

Alguns atletas amadores de endurance ainda acreditam que podem consumir qualquer tipo de alimento pois o esporte que praticam se encarregará de gastar tudo. É a velha história: “Eu posso porque eu queimo treinando”. Mas não é bem assim. A manutenção da saúde é fator primordial para uma boa performance no esporte, seja ele qual for. E como regra geral, já podemos elencar alguns bons motivos para você tirar de vez o refrigerante da sua vida.

Envelhecimento precoce

Todos os refrigerantes possuem ácido fosfórico, que pode gerar problemas cardíacos, renais, perda muscular e osteoporose, além de ser uma substância extremamente geradora de estresse oxidativo, provocando diversos problemas de saúde e envelhecimento precoce e acelerado dos tecidos corporais.

Produto altamente cancerígeno

O corante artificial caramelo é largamente utilizado na fabricação dos refrigerantes de cor escura por conter uma substância considerada altamente cancerígena chamada 4-metilimidazol na concentração de apenas 16mcg/dia. Uma lata de 350ml de refrigerante de cola tem sozinha quase 90mcg. Além disso, as latas de alumínio onde são acondicionados os refrigerantes são revestidas com uma resina para impedir que os ácidos do líquido reajam como metal, que pode prejudicar a síntese hormonal e tem sido associada ao câncer, infertilidade e obesidade.

Alteração de microbiota intestinal e inflamação

O consumo de refrigerantes gera alteração da microbiota intestinal (bactérias que vivem em nosso intestino e são necessárias e responsáveis pelo processo de digestão) que é considerada uma barreira de proteção a tudo o que entra no nosso organismo através do aparelho digestivo. A alteração dessas bactérias aumenta a permeabilidade intestinal, atrapalha a absorção de diversos nutrientes importantes para o metabolismo como vitamina D, ferro, cálcio e vitaminas do complexo B, além de aumentar a sinalização molecular de inflamação, piora da imunidade, redução da função celular natal de todos os tecidos do nosso corpo e consequente desperdício na produção energética das células.

Além disso tudo, os refrigerantes são artificialmente gaseificados, o que durante a realização de atividades físicas, aumenta a chance de engasgos e a produção de flatulência (gases), podendo gerar cólicas gástricas (dores próximas das costelas) e intestinais, sensação de estufamento, inchaço, dores abdominais e desconforto.

“Mas e a cafeína do refrigerante, ela me faz sentir melhor!”

Bem, a cafeína é uma substância adrenérgica que aumenta foco e concentração, agindo diretamente no sistema nervoso central (SNC). Durante a atividade física há liberação constante de adrenalina pela medula da glândula suprarrenal, gerando diversas adaptações ao estresse do exercício e ainda estimulando a quebra de glicogênio muscular (substrato energético tão precioso em atividades longas). Ao colocar cafeína de forma aleatória e descontrolada no seu intratreino pode haver um hiperestímulo de liberação adrenalina, piorando a exaustão assim que passar os efeitos sensitivos instantâneos da cafeína, justamente pela aceleração da quebra do glicogênio muscular e aumento da gliconeogênese para produção de energia, interferindo não só na performance durante a competição como na recuperação muscular do pós-atividade, gerando prostração pós-treino e fadiga excessiva.

Apesar das doses de cafeína nos refrigerantes de cola não serem consideradas exageradas, há relatos de atletas com sintomas típicos como hiperacidez, irritação gástrica, diarreia, palpitações, tontura, tremores, reflexos alterados e espasmos abdominais no consumo durante a atividade. Isso ocorre pois em exercícios longos ou intensos o nosso corpo entende que estamos em uma situação de estresse e excitação, o que gera hiperabsorção das substâncias ofertadas durante a atividade e, consequentemente, rápido efeito das mesmas.

Fato é que há uma série de bebidas muito mais saudáveis e uma infinidade de suplementos específicos para a prática esportiva que podem ser prescritos pelo nutricionista e testados na temporada de treinos. Não há nenhuma necessidade do uso de bebidas artificiais como os refrigerantes, pelo contrário. Em prol da saúde, esta prática precisa ser abolida. Claro que a prescrição e tolerância precisa ser individualizada, mas vale ressaltar que há repositores naturais como água de coco, suco de frutas, frutas in natura, caldo de cana, além da própria água pura, associados ou não com suplementos diversos como cápsula de sal, por exemplo, que fazem o devido efeito na manutenção energética e de vitaminas e minerais durante o exercício.

Ainda vale ressaltar os produtos e as bebidas esportivas desenvolvidos pela indústria exclusivamente para a prática de esportes, e que precisam ser prescritos por um profissional capacitado que possa explicar possíveis efeitos adversos e as melhores opções de acordo com as suas reais necessidades e adaptações.

Pense nisso e pratique suas atividades com mais saúde. Bons treinos e boa prova!