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Sudão do Sul chega aos 4 anos de independência em crise humanitária.
País mais novo do mundo sofre com guerra civil entre facções.
Em 09/07/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
O Sudão do Sul, país no leste da África, completa nesta quinta-feira (9) quatro anos de independência em relação ao Sudão. O país de quase 12 milhões de habitantes, que é o mais novo do mundo, é também uma das nações com pior situação humanitária.
Há um ano e meio, o país sofre com a guerra civil que opõe o presidente Salva Kiir e seu ex-vice-presidente, Riek Machar, acusado de preparar um golpe de Estado. De acordo com a agência para refugiados da ONU, o Acnur, o conflito provocou mais de 2,2 milhões de deslocados.
Deste total, mais de 730 mil pessoas que viviam no Sudão do Sul fugiram para países vizinhos e 1,5 milhão tiveram que abandonar as suas casas e procurar abrigo em outras regiões do país. Além disso, o Sudão do Sul acolhe mais de 250 mil pessoas que fugiram do vizinho Sudão.
O número de civis refugiados nas seis bases da Missão da ONU no país (Minuss) já ultrapassou os 150 mil, sendo que alguns estão ali desde o início dos combates, em dezembro de 2013. Mais de 10 mil pessoas chegaram apenas na semana passada, segundo os números apresentados pela Minuss.
Guerra entre facções
A guerra no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013 com combates entre duas facções do exército, dividido pela rivalidade entre o presidente Kiir e seu ex-vice. Diversas milícias se uniram a cada lado, com confrontos marcados por massacres de caráter étnico.
Os combates se intensificaram em abril, quando o exército sul-sudanês, SPLA, iniciou uma ofensiva contra as forças rebeldes no departamento de Mayom, que era uma importante região petroleira antes da destruição provocada pela guerra.
A violência no país atingiu tais níveis que, em algumas ocasiões, a ONU denunciou “violações generalizadas dos direitos humanos". Atrocidades como o assassinato de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na região.
Em maio, a Unicef denunciou o assassinato de 26 de crianças - algumas de apenas 7 anos - e o sequestro de dezenas de outras em ataques realizados por grupos armados, formados homens e meninos armados, vestidos de militares ou civis, no estado de Unidade.
Na semana passada, as Nações Unidas acusaram militares do exército sul-sudanês de estuprar e queimar vivas mulheres e meninas que estavam em suas casas no mesmo estado, segundo depoimentos de vítimas e testemunhas.
"Os sobreviventes dos ataques afirmaram que o SPLA e suas milícias aliadas do departamento de Mayom executaram uma campanha contra a população local, matando civis, saqueando e destruindo vilarejos, além de provocar o deslocamento de mais de 100 mil pessoas", afirma o relatório da ONU.
Cólera e fome
Em Juba, a capital, os trabalhadores humanitários lutam para aplacar uma epidemia de cólera que explodiu há um mês, deixando ao menos 32 mortos. No total, 484 casos de cólera foram diagnosticados em junho, segundo o Escritório para Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA). As autoridades acreditam que a epidemia começou nas superlotadas bases da ONU na capital, onde se amontoam 28 mil pessoas.
"Até 5 mil crianças com menos de cinco anos podem morrer de cólera se não for adotada nenhuma medida urgente para conter a ameaça", alerta o OCHA em um comunicado.
Além disso, a fome também ameaça os sul-sudaneses, inclusive crianças. O ex-coordenador humanitário da ONU no Sudão do Sul, Toby Lanzer, denunciou que cerca de 250 mil crianças "correm risco de morrer de fome" no país.
"Uma em cada três crianças está em estado de desnutrição severa e 250 mil menores correm o risco de morrer de fome", afirmou Lanzer, que foi expulso pelo governo do país no início de junho, segundo as autoridades, por prever o colapso do país.
Independência
O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.
As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçulmana e que tentava impor a lei islâmica.
O governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão tranquila para aquele que foi, até então, o maior país da África - que agora é a Argélia.
A situação econômica no país piorou muito desde 2012, quando o governo decidiu fechar a produção de petróleo, até então o petróleo correspondia a 98% da receita pública do país, após discordâncias bilaterais com o Sudão, que tinha toda a infraestrutura para a sua comercialização, como oleodutos, refinarias e portos do Mar Vermelho.
Fonte: AFP