CULTURA
A poética de Hilal incrustada de brilhantes.
Grandiosas instalações e um objeto-livro exibem o universo visionário do artista no Palácio Anchieta.
Em 27/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Memórias, histórias, afetos, encontros... Um passeio poético que leva a reflexões sobre identidade e pertencimento. Uma viagem por ruas com pedrinhas de brilhantes; uma viagem através de estrelas de nomes grafados com a marca da vivência de cada autor. Um universo bucólico de sutilezas. Assim é “Constelações”, exposição de Hilal Sami Hilal, produzida pela 4 Art Produções Culturais. A curadoria é de Neusa Mendes, pesquisadora e crítica de arte da Universidade Federal do Espírito Santo/UFES, que se interessa pela poética de Hilal desde 1997, sendo a obra do artista o objeto de estudo de seu curso de especialização e posteriormente Mestrado pela PUC/SP.
Para o meu amor passar é a instalação que recebe os visitantes e os conduz ao universo poético do artista. Inspirada na cantiga popular "Se essa rua fosse minha", que embala as brincadeiras de criança desde o século XIX, ocupa uma área de 250 metros quadrados, com 40 mil “pedrinhas de brilhante” (strass) incrustadas em oito mil ladrilhos cinza chumbo. A obra, que não tem um percurso definido para que cada um escolha o seu próprio caminho, evoca lembranças e inquietações subjetivas.
Sensação que se mantém antes de chegar a obra-título, em dois outros trabalhos monumentais, que fazem parte da série Deslocamentos. O primeiro é uma “piscina” – obra inédita – com 5,6 metros de diâmetro. Na água, papel macerado, glicerina e pigmento, flutuando como um grande mundo cuja forma constitui uma paisagem real em movimento, com a construção e desconstrução próprias da natureza. – É matéria pura, diz a curadora Neuza Mendes, ao afirmar que se vislumbra um jogo de equilíbrio entre o vazio e o cheio, repouso e deslocamento, tradição e contemporaneidade, que assumem um relevo particular.
Um Objeto-livro é o trabalho seguinte, que também produz sua própria direção: numa inclinação de 30 graus, pranchas imensas de papel artesanal se prolongam pelo espaço.
O livro, em capa dura, não tem frente. Nem verso. Tem cores, espaços cheios e vazios. Que exibem novas e múltiplas paisagens e interpretações. – O que está em jogo é o corpo do visitante no abrir e no virar das páginas desse "Objeto-livro” – ressalta a curadora.
Esse instigante percurso leva a Constelações. Dez mil nomes escritos por 2.500 jovens, em papel artesanal colorido sobre organzas brancas transparentes, descem do teto ao chão. Carregados de memória afetiva, ganham uma nova vida, entrelaçam vivências, formam uma nova trama. Marias, Anas, Alfredos, Josés, Daianas, Joanas, Pedros, Guilhermes, Veras, Ronaldos… Todos estrelas da constelação. Suas caligrafias marcantes revelam traços de suas histórias na beleza estética de Hilal, encimada por espelhos em toda a extensão do teto, sutileza poética do artista que coloca o espectador em sua constelação.
– Nessa exposição, as constelações se formam pela reunião de nomes, caligrafias, memórias e afetos, dores e alegrias. A suposição é de que será possível a reconfiguração de rememorações e reminiscências perdidas. Cada ser humano é uma enciclopédia, um inventário, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de várias maneiras. E cada instalação é representada por seus atributos; símbolos de memória e reconstrução, que implicam reviver conteúdos que estão na base da construção da nossa identidade – conclui a curadora.
Inspirada em “Noite Estrelada”, de Van Gogh, Constelações vem sendo produzida desde abril. Com uma equipe, composta pela psicanalista Ruth Ferreira Bastos, o educador Laércio Ferracioli e a curadora Neuza Mendes, Hilal promoveu workshops para os diretores e professores de sete escolas da rede estadual de educação de Vitória e Região Metropolitana, para falar sobre a experiência com a arte, da “Constelação”, da evocação da memória pessoal ou coletiva, articulando a noção de identidade. Num segundo momento, realizou oficinas de papel artesanal – trapos macerados que trazem as marcas do tempo e são parte indissociável da plástica de Hilal – com alunos. Ouviu suas histórias e as transformou na matéria-prima da obra. Os nomes foram praticamente desenhados: o papel macerado foi injetado em bisnagas como as de confeiteiros, de onde brotaram as caligrafias dos participantes.
– Em cada nome há uma recordação, uma marca. Há vida. Me sinto feliz na realização de um trabalho coletivo, em poder aproximar os jovens da arte, em ter a chance de, quem sabe, contribuir para modificar as suas perspectivas de futuro – confessa Hilal.
Serviço
Constelações – Hilal Sami Hilal
Inauguração (para convidados): 4 de agosto de 2016, às 19h00
Visitação: de 5 de agosto a 6 de novembro de 2016
Local: Espaço Cultural do Palácio Anchieta
Praça João Clímaco, 142 – Centro, Vitória/ES – Tel.: (27) 3636-1210
Horário de funcionamento: De terça a sexta – das 9h às 17h; sábado, domingo e feriados – das 9h às 16h
Entrada franca | Livre para todas as idades
Produção: 4 Art Produções Culturais
Curadoria: Neusa Mendes
Fonte: Meio e Imagem Comunicação