SAÚDE

Atletas com doença cardíaca genética podem praticar esportes

42 incidentes de interrupção de fibrilação ventricular por CDI foram relatados por 23 atletas.

Em 16/02/2023 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: REUTERS

Acompanhamento feito ao longo de 20 anos por pesquisadores da Mayo Clinic avaliou inclusive pacientes que usam cardiodesfibriladores implantáveis e concluiu que eles podem retornar com segurança às atividades de alto rendimento.

A Mayo Clinic, uma das referências mundiais em medicina e cardiologia, publicou recentemente em sua revista um artigo de revisão que pode ser um marco para novos tempos quando trata-se da prática de esporte de alto rendimento por pessoas com doença cardíaca genética e que usam cardiodisfibrilador implantável (CDI) - lembrando que o CDI é um desfibrilador subcutâneo para pacientes que têm uma doença cardíaca de base que causa arritmias cardíacas, e que é implantado abaixo da clavícula.

Os pesquisadores da Mayo Clinic fizeram um estudo de revisão retrospectivo, com avaliações dos últimos 20 anos, usando pacientes do hospital que são atletas e que usavam um CDI. Avaliaram e acompanharam a evolução cardiológica e eventos clínicos (choque inapropriado, PCR, arritmias e etc) nesse período.

Apesar de o risco de um evento cardíaco impactante desencadeado pela doença não ser zero, os dados do estudo mostram que atletas com CDIs podem participar com segurança de esportes de alta intensidade com risco mínimo de danos ao dispositivo durante a competição ou de outros eventos adversos, como esclarece o autor do estudo, Michael Ackerman, cardiologista genético da Mayo Clinic.

Os autores conduziram a avaliação de 125 atletas com doença cardíaca genética, sendo as mais comuns a síndrome do QT longo e a cardiomiopatia hipertrófica, que receberam um CDI anteriormente e foram tratados na Clínica do Ritmo Cardíaco Genético Windland Smith Rice da Mayo entre julho de 2000 e julho de 2020. O estudo é a avaliação mais abrangente de resultados de atletas com CDIs que puderam retornar à prática de esportes competitivos.

No geral, 42 incidentes de interrupção de fibrilação ventricular (um ritmo cardíaco potencialmente letal) por CDI foram relatados por 23 atletas num período de acompanhamento de cerca de 3 anos e meio. Atletas com CDI tiveram maior probabilidade de sofrer um evento cardíaco impactante do que aqueles cujo programa de tratamento não exigia um, o que mostra que os pacientes em risco apropriado receberam o dispositivo. Mais importante, não houve mortes associadas à prática de esportes nem relatos de danos a um CDI relacionados à prática de esportes.

O programa na Mayo Clinic liderou, com uma abordagem de tomada de decisões compartilhada nas últimas duas décadas, o retorno à prática esportiva de mais de 700 atletas até hoje, incluindo atletas com CDI. Mudou o paradigma de apenas prevenir a morte súbita associada a doenças cardíacas genéticas para possibilitar e esperar que os pacientes, atletas ou não, prosperem apesar de seu diagnóstico.

Mais artigos e estudos devem acontecer nesse campo, já que nesta mesma coluna explicamos casos de atletas que foram para Copa do Mundo usando o CDI, casos de Christian Erikssen, da Dinamarca, e Daley Blind, da Holanda.

Temos que ter noção que, antes da liberação desse atleta, o mesmo deve passar por uma avaliação clínica completa com entendimento integral dos possíveis riscos e um plano de tratamento que seja bem compreendido e cumprido.

Esse tema é polêmico e exige uma compreensão clara da doença de base, testes para avaliação, compreensão do esporte, sociedades médicas e das pessoas envolvidas. São novos tempos.

Lembrando que a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte proíbem tal prática, assim como acontece com países como a Itália, pois há risco de trauma no aparelho ou fratura de cabo, dando assim choque inapropriado, além de não tratar doença de base. Assim, de maneira geral aconselhamos que atletas com doença cardíaca genética fiquem inaptos a participar de esportes competitivos devido ao risco de parada cardíaca súbita.

Recordando o que é o CDI

Cardiodesfibrilador interno  — Foto: Istock Getty Images

Cardiodesfibrilador interno — Foto: Istock Getty Images

O cardiodesfibrilador implantável ou CDI é usado como uma prevenção secundária para pacientes que têm uma doença de base que pode causar arritmias. Funciona como um desfibrilador e entra em ação, dando um choque no coração quando há uma taquicardia perigosa ou um uma fibrilação ventricular. Indicado normalmente para pacientes com cardiomiopatia hipertrófica ou com miocardite. (Por Mateus Freitas Teixeira, via Eu Atleta)

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