CULTURA
Do século 18 à arte contemporânea, mostra traz produção de artistas negros
A exposição faz parte das celebrações dos 110 anos do museu.
Em 10/01/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Apenas 51 anos após sua fundação, a Pinacoteca do Estado de São Paulo recebeu a primeira obra de um artista negro. O Autorretrato de Arthur Timótheo da Costa foi doado à instituição em 1956 e agora integra a mostra Territórios: Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca. A exposição faz parte das celebrações dos 110 anos do museu, e pode ser vista na Estação Pinacoteca, próxima a Estação Júlio Prestes, região central da capital paulista.
Segundo o curador Tadeu Chiarelli, a incorporação de trabalhos feitos por afrodescendentes ao acervo da Pinacoteca foi lenta. “A segunda [obra] chegou só nove anos depois. Um processo tímido. Daí a minha proposta de retomar as grandes contribuições da Pinacoteca para a historiografia da arte brasileira introduzida na gestão de Emanoel Araújo (1992 - 2002), primeiro diretor negro da Pinacoteca do Estado que fez importantes aquisições de obras de artistas afrodescendentes”, disse.
O próprio Araújo aparece na mostra com diversas obras na parte Matrizes Africanas. Os trabalhos dessa parte mostram influências das estéticas de culturas africanas, como as esculturas geométricas com cores chapadas de Rubem Valentim. No fundo da sala se destaca a escultura de Araújo, Tributo a Louise Nevelson. Como nos trabalhos da escultora ucraniana homenageada, a obra parece ter sido montada com peças de móveis e outros objetos de madeira.
Apesar das referências à temática negra em parte das obras, Chiarelli explica que o principal objetivo da mostra é apresentar trabalhos feitos por afrodescendentes a partir do valor estético. “É necessário pontuar, que temos no acervo da Pinacoteca centenas de obras que retratam os afrodescendentes, mas essa exposição vem para discutir um aspecto diferente, o da produção feita por artistas afrodescendentes”, enfatizou.
Nesse sentido, um dos destaque da ala Matrizes Contemporâneas é a Estrutura Dissipativa / Gangorra, de Rommulo Vieira Conceição. Como diz o nome, parte da obra é efetivamente uma gangorra semelhante as encontradas nos playgrounds infantis. Outros trabalhos, entretanto, apontam na direção da discussão da situação atual da população afrodescendente, como o Exôdo de Jaime Lauriano. Duas bandeiras negras sobrepostas, uma com a silhueta do mapa do Brasil e outra com um desenho da África feito com pemba branca, giz usado em rituais de umbanda.
Na parte chamada de Matrizes Ocidentais está a produção feita por afrodescendentes a partir do final do século 18. Integram esse conjunto obras que seguem as regras acadêmicas europeias. Podem ser vistos temas tradicionais como retratos, naturezas-mortas, paisagens e alegorias. Além de Arthur Timótheo, também podem ser vistas as pinturas e esboços de Miguelzinho Dutra, artista de influência barroca do interior paulista.
Fonte:Agencia Brasil