CULTURA

Documentário brasileiro sobre vida na Síria leva 2 prêmios em Hollywood.

Curta foi premiado como melhor documentário estrangeiro e melhor diretor.

Em 18/12/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Um documentário brasileiro que mostra a experiência de um fotojornalista na Síria ganhou na última semana nos Estados Unidos dois prêmios no Hollywood International Independent Documentary Awards, nas categorias de melhor documentário estrangeiro e melhor diretor. 'Faces de um Conflito' foi finalizado em São Carlos (SP) pela Deeper Produções (veja o trailer oficial).

O filme acompanha o dia a dia gaúcho Alexandro Auler, fotojornalista que esteve um mês em Kobane para registrar a situação de homens e mulheres que arriscam suas vidas lutando contra o Estado Islâmico para proteger suas casas e reerguer a cidade. A produção mostra algumas curiosidades, como os funerais, e a celebração do Newroz, o chamado Ano Novo Curdo.

O documentário reúne também depoimentos do videomaker iraniano Soran Qurbani e entrevistas com soldadas que rejeitaram as imposições culturais machistas e lutam pelo seu território na mesma posição dos homens. É uma história de resistência e esperança.

Além do prêmio em Hollywood ,o filme também venceu o Los Angeles CineFest como Melhor Filme na votação do júri e do público no mês de outubro,  ganhou o prêmio Golden Cine Awards do Headline International Film Festival e o Top Indie Film Awards como melhor documentário e melhor edição.

Como tudo começou
A empresária Natalia Tavares Ribeiro, de 33 anos, trabalhava na Universal Channel no Rio de Janeiro, onde conheceu Auler e trabalhou com ele durante anos. Após se mudar para o interior de São Paulo para cursar o mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ele conheceu o atual sócio e juntos criaram a Deeper Produções.

Após três anos de atividades com a produtora, Natália recebeu uma ligação de Auler. Ele, que havia saído da Globosat, estava interessado em investir em novos projetos e chamou a produtora para trabalhar com ele.

"Assim fizemos vários projetos, mas queríamos algo independente e começamos a correr atrás de temas. Pensamos em falar sobre a questão de mulheres, de história que marcaram sua geração, mas chegou a história do primo do Auler, que tinha acabado de voltar da Síria", contou.

Quando a produtora conversou com o fotógrafo, ele relatou que na Síria se deparou com outras historias, não apenas das mulheres na frente de combate. “No documentário você vê a união de um povo que luta por salvar a sua casa e em meio aos destroços. Você tem barbearias e escolas improvisadas, que foram montadas com a ajuda das pessoas. É bem emocionante e ao mesmo tempo assustador quando você começa a ver as fotos e vídeos e a enxergar a realidade dessas pessoas”, relatou Natália.

Visão diferenciada
A produtora contou que o documentário não é apelativo e  não há cenas explícitas de pessoas mortas. Segundo ela, o que mais chamou atenção do público internacional foi a visão diferenciada, mas humana, que os brasileiros conseguiram imprimir, sem focar apenas no combate.

“O filme não trata apenas da guerra, mas da vida das pessoas, da realidade delas. É um momento difícil, de perdas, muitos funerais. Foram mais de seis mil fotos para escolheremos para passar em 40 minutos.Tentamos selecionar o que tinha de melhor e também queríamos que fosse acessível a todos, deixando a classificação etária do filme para 14 anos”, contou a produtora.

A montagem foi feita por Xavi Cortez, no Rio de Janeiro, e a identidade visual do documentário, como a correção de cor das imagens e divulgação do projeto ficou a cargo da Deeper. Além disso, existiu uma colaboração e participação que foi essencial com as imagens em vídeo de Soran Qurbani, um vídeomaker curdo que Auler conheceu em Kobane.

Por Carol Malandrino, do G1 São Carlos Araraquara