MEIO AMBIENTE

Elefantas resgatadas de circo voltam à natureza após 40 anos em cativeiro.

Guida e Maia foram soltas nessa quarta no Santuário de Elefantes, em MT.

Em 13/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Depois de mais de 40 anos vivendo em cativeiro e passando por maus-tratos, as elefantas Guida e Maia foram finalmente libertadas. As duas são as primeiras habitantes do primeiro Santuário de Elefantes da América Latina. Os animais chegaram à área, localizada em Chapada dos Guimarães, a 65 de km de Cuiabá, na terça-feira (11), mas só foram soltas na quarta-feira (12).

"Os humanos têm tirado os elefantes da natureza para oferecer como entretenimento. A gente precisa dar a dignidade e o respeito que eles merecem", disse Scott Blais, presidente da ONG Internacional Global Sanctuary for Elephants, responsável pelo santuário no Brasil.

Não se sabe ao certo a idade das duas, já que foram sequestradas ainda filhotes na Tailândia e trazidas do país asiático para o Brasil a fim de trabalharem em circos. Mas estima-se que Maia tenha 44 anos e Guida, 42. Normalmente, na natureza, um elefante vive em média 70 anos e, em cativeiro, 35 anos.

Guida e Maia já no santuário, mas antes de serem libertadas (Foto: Carolina Holland/G1)

A área para onde elas foram levadas foi comprada pela ONG Internacional Global Sanctuary for Elephants em maio de 2015, depois de quase dois anos de procura.

Guida e Maia chegaram a Mato Grosso na terça, depois de dois dias viagem para percorrer os 1,6 mil quilômetros entre Chapada dos Guimarães e Paraguaçu (MG), onde viviam em um sítio. Parte dos custos do transporte, estimado em US$ 45 mil pela ONG, foi bancada por doações, feitas por meio de crowdfunding. O santuário também deve ser mantido com doações.

Elefanta Guida, habitante de santuário em MT (Foto: Carolina Holland/G1)

Ao chegarem ao santuário, ainda na terça, as duas ficaram separadas em uma espécie de jaula construída no galpão. Ainda assim se aproximaram uma da outra, mesmo por entre as grades. “Elas estavam muito sensíveis e dóceis entre si. Estavam se tocando e fazendo barulho. Foi emocionante”, disse Scott Blais, presidente do Global Sanctuary for Elephants.

No dia seguinte a grade foi suspensa e, depois de muitos anos, as duas fizeram o primeiro contato entre si sem que estivessem acorrentadas ou amarradas. Havia uma expectativa em relação a isso por parte dos membros da ONG porque não se sabia qual seria a reação de ambas - havia o receio de que pudessem ser agressivas uma com a outra, o que não aconteceu. Maia e Guida foram dóceis e receptivas.

Pouco tempo depois desse contato, as duas puderam, finalmente, serem soltas na natureza. "Antes de isso ser feito, era preciso que deixássemos as duas interagirem um pouco primeiro. Tudo é feito em etapas", disse Júnia Machado, presidente do Santuário Brasil de Elefantes. As grades foram abertas e as elefantas puderam conhecer de perto o novo lar. A adaptação foi instantânea: as duas começaram imediatamente a explorar a vegetação local.

Elefanta Maia, ao ser devolvida à natureza em MT (Foto: Carolina Holland/G1)

Apesar do santuário ter 1,1 mil hectares, por enquanto, em função de limitações financeiras, elas terão acesso a uma área de meio hectare, cercada por tubos de aço de petróleo enterrados a dois metros de profundidade e, depois, concretados. “Em poucas semanas já vamos ver uma área maior. Até o final do ano, vão ser dois currais de dez hectares, que é a fase um”, disse Júnia Machado, presidente do Santuário de Elefantes Brasil.

A fazenda em si consegue prover toda a alimentação de Maia e Guida, baseada em gramíneas de todos os tipos, frutas e trepadeiras. Mas, a ONG vai ter que providenciar suplementos para as duas, em especial para Guida, visivelmente abaixo do peso. As duas ainda vão passar por exames médicos para verificar seu estado de saúde.

Santuário de elefantes fica em Chapada dos Guimarães (MT) (Foto: Carolina Holland/G1)

Quatro pessoas deverão ficar diretamente responsáveis pelos animais no santuário, sendo que duas delas - Scott e a esposa - já moram na fazenda. A estimativa é que cada elefanta tenha custo mensal de US$ 3 mil a US$ 5 mil, disse o presidente do Global Sanctuary for Elephants.

"O nosso objetivo é ajudar a projetos como esse, ajudá-los a se estabelecerem. É realmente muito difícil, requer muito trabalho, habilidades, conhecimento e perseverança. Mas sabemos que conseguimos ajudar dessa forma, que podemos ajudar construir uma equipe assim, que é essencial", disse Blais.

O Santuário tem capacidade para abrigar 50 elefantes. O próximo animal a ser levado para o local deve ser Ramba, uma elefanta resgatada de um circo no Chile. A previsão é que ela chegue no início do ano que vem.

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Galpão construído no Santuário de Elefantes (Foto: Carolina Holland/G1)

Resgate
A história das duas elefantas começou a mudar em 2010, depois de uma fiscalização do Ibama. Elas foram confiscadas de um circo na Bahia e levadas provisoriamente para um zoológico baiano. Após acordo com os órgãos de fiscalização responsáveis, foram encaminhadas para um sítio do advogado desse circo, localizado em Paraguaçu (MG).

No sítio, entretanto, foram constatadas irregularidades. As duas ficavam acorrentadas, sem poderem ter contato uma com a outra, e não tinham um lugar com sombra para ficar. Foi nessa época que o Ministério Público entrou em contato com a ONG Internacional Global Sanctuary for Elephants (Santuário Global dos Elefantes) para que pudesse acolher Guida e Maia.

Fonte: g1-MT