SAÚDE
Estudo revela que a zika pode destruir células do cérebro.
Dos 23 bebês estudados, 22 mostraram sinais de calcificação cerebral.
Em 18/04/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Além de causar a microcefalia, a zika pode estar relacionada a um tipo específico de calcificação intracraniana, uma lesão cerebral que está por trás de distúrbios graves, como a esquizofrenia e o Mal de Parkinson. A descoberta foi feita por um grupo de neurologistas brasileiros e publicada no renomado British Medical Journal (BMJ).
A hipótese dos cientistas é que o vírus destrói as células cerebrais e forma lesões semelhantes a cicatrizes, que são calcificadas – essas são compostas de hidroxiapatia, o mesmo material que forma os ossos e os dentes dos seres humanos.
Para realizar essa pesquisa, os neurologistas analisaram os tipos de anomalias e lesões do cérebro dos primeiros casos de microcefalia associados com a zika no Brasil. “Nós identificamos anormalidades nesses bebês com microcefalia e as comparamos com os padrões observados em outras infecções congênitas”, conta Maria Aragão, uma das autoras do estudo, em entrevista a EXAME.com.
Primeiro, os cientistas observaram os tipos mais comuns de alterações cerebrais e onde elas estão localizadas no cérebro. Depois, eles compararam essas doenças com os padrões de outras infecções que podem determinar a microcefalia, como HIV, hepatite e toxoplasmose.
O estudo envolveu 23 bebês – 15 foram submetidos a tomografia computadorizada, um recém-nascido fez apenas ressonância magnética e sete fizeram ambos os exames.
Todos, exceto um, nasceram de mães que tiveram erupções cutâneas relacionadas com uma infecção pela zika durante a gravidez. “No entanto, a infecção pelo vírus pode ser assintomática em três de cada quatro pacientes infectados”, explica Aragão. Desse modo, provavelmente, todos os bebês com microcefalia também foram contaminados pela zika.
Os 23 bebês tinham as mesmas características clínicas e epidemiológicas e, por isso, outras doenças congênitas foram excluídas. Desses, seis testaram positivo para anticorpos relacionados com a zika. “Porém, por dedução, os outros 17 foram considerados também com infecção congênita relacionada à zika”, conta a neurologista.
A partir da análise de cada exame, os cientistas notaram que os 22 bebês que fizeram a tomografia computadorizada mostraram sinais de calcificação cerebral. Os médicos também observaram que o cerebelo não se desenvolveu completamente, o que pode explicar a perda no controle motor de muitas das crianças com microcefalia.
Além disso, os resultados mostraram malformações do desenvolvimento cortical, diminuição do volume do cérebro, e ventriculomegalia, uma condição em que as cavidades cerebrais são anormalmente alargadas.
Diagnóstico mais preciso
De acordo com Aragão, um dos principais objetivos da pesquisa foi observar a existência de um padrão radiológico da zika e da microcefalia. “Saber as especificidades das doenças pode apoiar o diagnóstico clínico dentro do contexto epidemiológico que o Brasil passa”.
Ela também explica que as calcificações podem ser encontradas em muitas infecções congênitas. Por isso, conhecer a forma e a localização dela no cérebro auxilia em um diagnóstico diferencial entre as doenças e a zika.
“As calcificações cerebrais na maioria dos bebês com presumível infecção pelo vírus zika foram predominantes na junção entre o córtex e a substância branca subcortical”, conta a neurologista. Geralmente, esse padrão não é encontrado em outras doenças congênitas.
Limitações
Como o estudo é baseado apenas na observação e na análise de exames, não é possível afirmar que a zika está totalmente relacionada com a calcificação. Afinal, não existe um teste disponível para confirmação definitiva da infecção pelo vírus.
“Na maioria dos casos, o diagnóstico é estabelecido por critérios clínicos, radiológicos e epidemiológicos, após a exclusão de outros males congênitos”, diz Aragão.
Além disso, a suposta infecção pela zika foi baseada exclusivamente em recordações das mães durante a gravidez. “Assim, elas podem não se lembrar do mês exato que tiveram a erupção cutânea e isso prejudica a análise”, finaliza a neurologista.
Fonte: EXAME