ECONOMIA CAPIXABA
Inflação dos alimentos sobe 136% em 10 anos no ES, aponta pesquisa.
Valor da cesta básica passou de R$ 689,91 para R$ 1.633,52.
Em 08/03/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Em dez anos, os preços dos alimentos subiram acima da média da inflação oficial. Se no período entre fevereiro de 2007 e janeiro de 2017, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), monitorado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avançou 81,72%, o custo da cesta básica da classe média do Espírito Santo cresceu 136,77%, passando de R$ 689,91 para R$ 1.633,52.
A conclusão foi dos pesquisadores da Empresa Júnior do curso de administração de uma faculdade particular de Vitória, que há 120 meses mede a variação mensal dos preços dos trinta itens da cesta básica da classe média capixaba. A pesquisa é feita em 10 grandes redes de supermercado da Grande Vitória, sempre entre os dias 20 e 30 do mês.
O percentual de 136,77%, no entanto, é uma média. Os preços de produtos básicos da mesa do brasileiro, arroz, feijão e carne bovina, se valorizaram acima desse índice.
Enquanto o quilo da alcatra bovina avançou 209,9%, passando de R$ 10,82 para R$ 33,53, o preço do feijão cresceu 301,5%, de R$ 1,82 para R$ 7,30. Já o arroz subiu menos, mais ainda acima da média da inflação oficial: 121,9%, com o pacote de cinco quilos passando de R$ 6,29 para R$ 13,96.
A pesquisa é coordenada pelo economista Paulo Cezar Ribeiro. Ele explica que a alta nos custos de produção (transporte, energia elétrica, combustível, mão de obra, impostos, taxa de câmbio oscilante e custos de insumos), instabilidade climática e incertezas na economia do país foram alguns dos motivos da alta nos preços dos alimentos no período.
“Como a cesta básica é da classe média, quem recebe entre 3 e 10 salários mínimos, consideramos que os reajustes salariais tiveram base no IPCA, índice normalmente usado pelos sindicatos. Ficou de fora a massa do salário mínimo. Esse índice foi de quase 82% nesse período de 120 meses, mas a cesta básica subiu 136%. Observamos que a partir de 2009, o aumento do valor da cesta básica da classe média passou a se distanciar dos salários e isso cresceu ainda mais em 2015 e 2016. Foi quando o poder de compra ficou mais defasado mesmo”, comenta.
Dos 30 produtos mensalmente pesquisados, os preços de 23 deles subiram bem acima da inflação. Dessa forma, fica evidente a influência do aumento expressivo dos preços dos alimentos (entre 87% a 339%) na queda do poder de compra das famílias da classe média capixaba nos últimos dez anos. Para atenuar a situação dramática, a hipótese mais provável que vem ocorrendo é a migração constante para a aquisição de produtos substitutos de segunda linha com preços mais inferiores.
Pesquisa
A pesquisa mostra que, a partir do ano de 2009, os aumentos de preços dos alimentos da cesta básica da classe média foram bem superiores aos reajuste salariais atrelados ao IPCA do IBGE. A partir do ano de 2014, a perda do poder compra dos assalariados da classe média se ampliou expressivamente.
Alta nos custos de produção (transporte, energia elétrica, combustível, mão de obra, impostos, taxa de câmbio oscilante e custos de insumos), instabilidade climática e incertezas na economia do país foram alguns dos motivos desse indicador de alta dos preços nos alimentos nos últimos 10 anos.
Fizeram uma simulação para constatar a elevada perda do poder de compra do trabalhador de classe média. Considerou-se uma quantia hipotética de um salário de R$ 1 mil direcionada para a aquisição de cinco itens essências da cesta básica.
Desse modo, em fevereiro de 2007, daria para comprar 50 quilos de alcatra de boi, 100 quilos de feijão, 100 quilos de arroz, 70 quilos de batata inglesa e 65 quilos de banana prata. Em fevereiro de 2017, foi considerada uma reposição de 82% sobre o salário de R$ 1.000,00, que equivale a variação do IPCA no período. Assim, atualmente daria para comprar apenas 30 quilos de alcatra de boi, 50 quilos de feijão, 50 quilos de arroz, 40 quilos de batata inglesa e 44 quilos de banana prata.
Poder de compra
Ribeiro explicouque, ao longo de 10 anos, é possível ver que a classe média perdeu o poder de compra em relação à alimentação, o item mais básico de um orçamento doméstico. “A família que manteve o mesmo padrão na alimentação teve que sacrificar outros itens do orçamento, como educação, lazer, habitação e vestuário”, destacou.
O economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV André Braz observa que a alimentação se coloca como desafio no controle da inflação. Ele ressalta que segundo o índice de preços da FGV (IPC), em 10 anos a alimentação subiu, em termos reais, 23,29%.
“É um desafio para as famílias mais pobres, que têm menor defesa inflacionária e destina uma parte maior do orçamento para a compra de alimentos. Quanto menos se ganha, mais do orçamento é alocado em comida, que é o mais básico”, pontuou.