DR-ANIMAL
Leishmaniose Visceral Canina avança em áreas urbanas
Falta de prevenção e desconhecimento de tratamento tem condenado cães.
Em 15/08/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Há cerca de um ano e meio, a eutanásia era a única alternativa para cães diagnosticados com Leishmaniose Visceral Canina. Hoje, a doença tem tratamento. Ainda pouco difundida no Brasil, a terapia é feita com a administração do único medicamento capaz de conter o avanço da doença.
Muitos tutores, no entanto, ainda desconhecem essa alternativa e a falta de informação leva a resultados catastróficos. "Muitos animais ainda são levados à eutanásia sem que as pessoas sequer sejam informadas sobre a possibilidade de tratamento", avalia Ricardo Cabral, médico veterinário da Virbac, laboratório que produz o medicamento. O produto teve a comercialização aprovada pelos ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2016.
A questão se torna ainda mais dramática, na medida em que, sem o devido tratamento, o animal infectado pode transmitir a leishmaniose para humanos, uma doença que pode levar à morte em até 90% dos casos. De acordo com os especialistas, para cada caso humano registrado existem, em média, 200 animais infectados.
Outro grave problema enfrentado no Brasil é a ausência de dados oficiais sobre a leishmaniose na maioria dos municípios. Os animais são levados à eutanásia, sem que o poder público seja informado. "Assim, um bairro, uma cidade, ou toda uma região pode estar sendo gravemente impactada pelo avanço da doença, sem que a população saiba dos riscos a que está exposta", afirma Cabral.
O quadro fica ainda mais assustador se observarmos um artigo e uma pesquisa científica que indicam que a doença, antes restrita à zona rural e à região Nordeste, avança para as grandes cidades. O artigo publicado, em junho, no portal da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), alerta que as cidades de Florianópolis e Porto Alegre registraram os primeiros casos em humanos no ano passado.
Outro estudo elaborado pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) e divulgado em fevereiro deste ano, revela que a leishmaniose visceral humana segue rumo à capital paulista. De acordo com esse trabalho, o primeiro caso foi registrado no estado de São Paulo, em 1980, no município de Araçatuba. De lá até 2016, mais de 2,7 mil pessoas moradores de cerca de 100 municípios do interior e do litoral paulista contraíram a doença – no Guarujá, duas crianças morreram no final de 2106.
Prevenção
É importante lembrar que o tratamento dos cães é apenas uma medida necessária para a prevenção da leishmaniose visceral dentro de um conjunto de outras ações. O combate à proliferação do mosquito palha é fundamental para reduzir a incidência da doença. "Afinal, a Leishmaniose Visceral Canina não é transmitida por mordida, arranhão, lambedura, urina ou fezes do cachorro. O animal é apenas um "reservatório" para os mosquitos. A transmissão ocorre quando as fêmeas do mosquito palha picam cães ou outros animais infectados e depois picam o homem", explica Cabral.
Para impedir a proliferação do inseto é necessária a adoção de medidas simples, que vão desde o uso de repelentes até a limpeza periódica dos quintais e da casa, como retirada das frutas em decomposição, do material orgânico e das folhas que caem das árvores.
Tratamento
O medicamento fabricado pela Virbac possui a miltefosina em sua composição, um princípio ativo que age na membrana do parasita, provocando sua morte e evitando sua reprodução. O produto só pode ser adquirido mediante a prescrição de um médico veterinário e deve administrado em uma dose diária única de 2 mg/kg durante 28 dias consecutivos. "Os animais devem ser reavaliados a cada quatro meses, pois, embora não sejam infectantes, permanecem parasitados pelo resto da vida. Essa reavaliação indicará se há necessidade de um novo ciclo de tratamento", diz Cabral.
Com o uso do medicamento, o animal poderá obter a cura clínica e epidemiológica, reduzindo significativamente a quantidade de parasitas em seu organismo e, com isso, deixar de ser transmissor da doença.