CULTURA
Mania das adaptações de HQs chega ao cinema brasileiro.
Histórias vão de thriller realista a saga de anti-herói que combate corrupção.
Em 26/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
Enquanto produções derivadas dos universos criados pela Marvel e DC Comics se consolidam como verdadeiras minas de ouro para Hollywood, cineastas brasileiros tentam traçar a mesma história de sucesso com os quadrinhos. Ao menos três diretores preparam longas baseados em HQs nacionais, inaugurando uma nova linhagem no cinema brasileiro, que até hoje explorou pouco esse ambiente.
Conheça os projetos abaixo.
Thriller com pitada de Cinema Novo
Quatro personagens bem diferentes e em crise movem a trama de “Tungstênio”, um thriller inspirado no livro homônimo de Marcello Quintanilha, um dos principais quadrinistas brasileiros. O projeto é encabeçado por Heitor Dhalia, de “O cheiro do ralo“ (2006) e “Serra pelada” (2013).
Um policial inescrupuloso, sua mulher, decidida a se separar, um pequeno traficante, cujo principal objetivo é continuar sobrevivendo, e um ex-sargento do exército saudoso da vida no quartel são os protagonistas “à beira da explosão” da história, explica o diretor.
“É um universo duro, violento, onde sempre está na iminência de algum acontecimento”, antecipa Dhalia ao G1. “Me lembra o Cinema Novo, o recorte social realista da história.”
A trama é ambientada em Salvador, onde um crime ambiental une os destinos dos personagens. Eles lidam com conflitos pessoais para escolher os caminhos que acreditam ser os mais corretos. Flashbacks e flashforwards são usados para manobrar a narrativa.
Dhalia, que se diz um fã antigo de HQs e já trabalhou a estética em “Nina” (2004), rejeita a comparação com produções dos grandes estúdios americanos. “Existe, sim, a tendência, principalmente no mercado internacional, onde os filmes de super-heróis ganharam muita força nas bilheterias”, avalia.
“Mas ‘Tungstênio’ tem baixo orçamento, é realista, uma crônica social. É outra viagem”, afirma. O longa começará a ser rodado em novembro e ainda não tem previsão de estreia. O diretor já estuda adaptar outras obras dos quadrinhos – ele conversa com Quintanilha sobre “Talco de vidro”.
Mad Max’ mineiro
Já Vicente Amorim, de “Irmã Dulce” (2014), não nega que está de olho em Hollywood. Tanto que chamou um desenhista da Marvel, o brasileiro Danilo Beyruth, para criar os personagens de “Motorrad”. “Ele consegue trazer não só uma linguagem e personagens que se identificam com o público desse tipo de filme, mas também aspectos dos roteiros que a gente está acostumado a ver no Brasil”, diz o diretor. “O filme vai conseguir se comunicar bem com os nerds, mas também com quem gosta de filmes de ação, com um peso dramático e sutilezas que normalmente não estão nesse universo.”
Na trama ao estilo “Mad Max”, um grupo de motoqueiros entra em território proibido e é seduzido a fazer uma trilha onde a beleza da paisagem vem acompanhada do medo da morte. As cenas foram rodadas durante cinco semanas na Serra da Canastra, em Minas Gerais. O filme tem previsão de estreia para setembro de 2017.
O projeto se diferencia dos outros porque os protagonistas, embora criados como personagens dos quadrinhos, serão apresentados pelo filme. “Eles ainda não têm vida na mídia impressa, mas acho que podem vir a ter”, sugere o diretor.
Para ele, o sucesso das franquias de super-heróis pode ajudar a mobilizar o público, porque “tirou do gueto” a relação do cinema com as HQs. “Por muito tempo, as adaptações ficaram estigmatizadas como algo para um público específico.”
Anti-herói dos protestos
A maior entre as produções - e também a que mais se aproxima do universo dos super-heróis -, “O doutrinador” é baseada na obra de Luciano Cunha, uma espécie de novo clássico dos quadrinhos nacionais. O protagonista é um justiceiro de coturnos, camisas de banda de rock e máscara de gás, que luta para combater a corrupção.
O anti-herói, um ex-militar adepto de táticas para fazer justiça com as próprias mãos, se popularizou na internet em 2013, com o empurrãozinho dos protestos que se espalharam pelo país. Como nas manifestações da época, os políticos são retratados como vilões na história.
A distribuidora Paris Filmes afirma que a trama tem referências de “Batman” e “O Justiceiro”. Cunha traça um objetivo ambicioso: fazer frente às franquias de super-heróis já consagradas. A expectativa é que o personagem também ganhe uma série de TV.
Afonso Poyart, de “Mais forte que o mundo” (2016) e “Presságios de um crime” (2015), assina a direção. O roteiro, de Gabriel Wainer, está em fase de finalização. As gravações começam em 2017.
Fonte: g1-SP