SAÚDE
No DF, amigos e familiares raspam cabelo em apoio a mulher com câncer
Vigilante do DF criou página em redes sociais para inspirar outras pessoas.
Em 21/02/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia
A vigilante brasiliense Selma Nunes Peixoto, de 38 anos, ganhou força extra para a luta contra um tipo agressivo de câncer depois que 13 familiares e amigos decidiram raspar e manter aparados os cabelos até que ela termine o tratamento. A mulher precisou ser afastada do trabalho desde a retirada do estômago e de parte do esôfago no final de agosto. Para driblar as angústias com as 30 sessões de quimioterapia e 25 de radioterapia, ela mantém uma página na web onde busca ajudar pessoas que também enfrentam a doença.
O tumor foi descoberto após uma endoscopia, feita para entender a razão de dores tão fortes com a ingestão de alguns alimentos. O primeiro exame apontou a existência de lesão, mas não indicou a presença de células malignas. O médico pediu então que ela repetisse o teste, que acusou um adenocarcinoma do tipo difuso.
"Após uma semana já com todos exames pré-operatórios realizados, fui submetida a uma gastrectomia total. Foi uma cirurgia grande, com pós-operatório muito difícil, porém com bons resultados. Contudo, os linfonodos [gânglios linfáticos] próximos à lesão estavam comprometidos, por esse motivo iniciei o tratamento quimioterápico no dia 23 de novembro, que para mim tem sido o mais difícil", explica.
Amigos e familiares se comoveram com a queda dos cabelos dela e decidiram demonstrar apoio. Do grupo que decidiu abandonar as madeixas, uma pessoa chamou a atenção de Selma: a filha primogênita, Taís, de 18 anos. A reação ao desapego da menina, que tinha mais de 40 centímetros de fios, virou tema de publicação em redes sociais.
"Me emociono muito quando lembro dela chegando em casa de cabeça raspada. Foi uma surpresa. Fiquei sem reação. Parada, admirando a coragem da minha filha, bênção de Deus na minha vida – os outros dois [filhos] também são. Todos tiveram a mesma atitude, porém, por ela ser mulher, pensei que não teria coragem", lembra.
"Não esperava essa atitude pois ela, como qualquer outra jovem de 18 anos, amava o cabelo. E sendo questionada pelo que sentiu quando cortou, ouvi a seguinte resposta: 'Cortei feliz, me senti aliviada e em nenhum momento me arrependi do que fiz. Minha mãe merece.'"
A vigilante diz que se sentiu mais forte com a atitude e, por isso, mesmo recebendo doações de perucas e cabelo, optou por usar lenços. Na página "Selma mais que vencedora", ela compartilha vídeos motivacionais, momentos em família e experiências vividas durante o tratamento. Até esta quarta-feira, a mulher havia completado quatro ciclos de quimioterapia.
Responsável pela criação da página, a sobrinha Rejane Nunes diz ter se surpreendido com as atitudes da tia a partir da descoberta da doença. A jovem é quem publica os textos enviados por Selma e administra os comentários, já que a vigilante mora em uma chácara em um núcleo rural de Ceilândia e tem dificuldades de acesso à internet.
"Quando descobri que minha tia estava com câncer foi um choque, um baque muito forte. Eu achava minha tia muito sensível para passar por essa agressão tão brutal. E quando vi a reação dela ao receber a notícia, eu fiquei mais chocada ainda. Ela ficou tão serena, tão em paz. Passou por tudo e ainda está passando e dando glórias a Deus. Ela entrou na sala de cirurgia agradecendo a Deus. Poxa, o que dizer? Ela fez a minha família se surpreender. É uma mulher de fé", explica.
"Eu queria mostrar para outras pessoas que elas também podem superar esse trauma. Que a vontade de viver traz cura. Tenho postado sempre. Não todos os dias, mas toda semana. Eu vou à casa dela, faço perguntas, mostro a página pra ela, pergunto se está bom, mostro os recados, tiro alguma foto e posto. Muita gente se sensibiliza e procura saber como ela está. E muita gente que também passou por isso dá força para ela", completa a garota, que é esteticista.
Aprendizado
Selma conta que o câncer alterou mais que a rotina da família. "Mudei totalmente meu modo de viver, minha vida espiritual, minha alimentação. Estou tentando fazer as pessoas ao meu redor se alimentarem de maneira adequada. E, principalmente, aprendi a valorizar minha família, meu bem mais precioso. Me ajudaram tanto, o gesto de rasparam os cabelos me deixou tão tão tão feliz. Isso me fortaleceu."
Por causa da cirurgia, Selma precisa se alimentar de três em três horas e em quantidades bem menores do que antes – cerca de um terço. Fritura, carne de porco, pimenta do reino, extratos de tomates, doces e embutidos estão vetados.
Ela, que mora com os pais desde que ficou viúva, ainda não tem previsão de voltar ao trabalho. A vigilante diz não se sentir incomodada com a situação e afirma estar tranquila, com certeza de que logo poderá retornar ao serviço.
Bastante religiosa, a mulher afirma ainda considerar a doença como uma forma de inspirar outras pessoas a terem força e coragem. "Deus é maravilhoso. Quer me ensinar algo que ainda não aprendi. Minha fé moveu realmente as montanhas da minha incredulidade", concluiu.